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Educação

Governo de Rondônia forma professores indígenas, constrói mais 20 escolas e resgata a língua materna


 

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Alunos do Projeto Açaí do Governo de Rondônia

Entre as conquistas educacionais brasileiras dos anos 2000, a formação de 371 professores indígenas e o acesso à universidade põem o estado de Rondônia à frente dos objetivos educacionais para a região amazônica ocidental. Atualmente formando a terceira turma, o Projeto Açaí transmite diferentes dialetos do tronco linguístico tupi para novas gerações de 54 etnias, em 52 municípios.

“O governo está presente e impulsiona a educação indígena de Extrema [quase na divisa com o Acre] a Vilhena [divisa com Mato Grosso] e aos confins de Guajará-Mirim [fronteira Brasil-Bolívia]”, afirmou hoje (20) o coordenador Estadual de Educação Indígena, professor Flávio Luiz Gonçalves.

O Projeto Açaí formou 115 professores na primeira turma, 136 na segunda e 120 estudam na terceira turma em escolas estaduais indígenas do ensino médio e fundamental. Em 110 escolas estão matriculados 3,4 mil alunos com idade média de 22 anos. Eles aprendem com 342 professores indígenas e brancos. A próxima avaliação da experiências e troca de conhecimentos está prevista para o início do segundo semestre, possivelmente em Ji-Paraná, a 367 quilômetros de Porto Velho.

Indígenas da Amazônia falam cerca de 180 línguas, excluindo aqueles muito isolados. O português teve traços do tupi-guarani. Mandioca, beiju, paçoca, milho, pirão e canoa, por exemplo, são termos que marcam a cultura brasileira desde a chamada colonização.

O governador Confúcio Moura já visitou terras arara, gavião e amondowa, e prevê para o segundo semestre deste ano a inauguração de mais 20 escolas, algumas em Guajará-Mirim, Extrema, Jaru e Nova Mamoré, construídas com recursos da compensação ambiental paga pela Usina Hidrelétrica de Jirau, no rio Madeira. Outras escolas são financiadas pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação e pelo Programa Integrado de Desenvolvimento e Inclusão Socioeconômica (Pidise).

Na visão do coordenador, ações governamentais contribuem diretamente para a formação do futuro Conselho Estadual de Educação Escolar Indígena, porém, antes de sua concepção será necessário um fórum para debater políticas do setor com entidades representativas. Duas se destacam: a Organização dos Professores Indígenas de Rondônia (Opiron) e a Organização dos Povos Indígenas de Rondônia (Opir).

Comunidades indígenas reivindicam a constituição de um conselho deliberativo. Já existe um conselho consultivo apoiado pelo Ministério Público Federal. Enquanto isso, a Seduc elimina antigas palhoças para dar lugar a prédios de alvenaria, 100% climatizados.

Se nos anos 1970 a defesa do território indígena implicava enfrentamentos com arco, flecha, garruchas e até fuzis, hoje, a formação de professores indígenas influencia demarcações ou delimitações do território indígena. Segundo observou Gonçalves, sempre que surgem pontos críticos de invasão de suas terras, imediatamente líderes indígenas recorrem à Secretaria Estadual de Educação (Seduc) para pedir professor e escola nesses locais. “Mesmo que ela seja frequentada para apenas um ou dois alunos”, assinalou.

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Projeto Açaí tem objetivo oferecer formação de indígenas que desejam ser professores

LÍNGUA MATERNA E UNIVERSIDADE

Em março deste ano, a antropóloga e pesquisadora Aparecida Vilaça, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, reuniu-se com um grupo de jovens Oro Nao [Guajará-Mirim] no Hotel Fazenda Minuano, em Presidente Médici, surpreendendo-os ao relatar histórias na língua desses indígenas. Segundo Gonçalves, ao ser indagada sobre a fluência da comunicação que todos compreendiam, ela contou que havia aprendido com os pais deles.

Pelo aplicativo WhatsApp, jovens informam as aldeias a respeito de tudo o que ocorre ao seu redor. Pessoalmente, os pais acompanham suas práticas diárias. Já os participantes do curso de formação continuada oferecido pela Seduc sentem o conforto de conquistar uma profissão. Segundo o coordenador, o Projeto Açaí lhes concede a formação técnica em educação de nível médio, com habilitação para ensinar do 1º ao 5º ano.

O currículo criado pelo projeto estabeleceu a preservação da língua materna e, consequentemente, a cultura. “É uma vitória a ser comemorada todos os dias”, disse Gonçalves. Segundo ele, os mais interessados pertencem às etnias arara, cinta-larga, gavião e paíter-suruí, devido a proximidade de suas terras com a rodovia BR-364 [Cuiabá-Porto Velho-Rio Branco-Cruzeiro do Sul]. Em seguida, os povos zoró e mamaindé, da região noroeste de Mato Grosso.

Além de participar da exames vestibulares na Universidade Federal de Rondônia (Unir), professores indígenas têm atualmente oportunidade de ingressar em outras instituições. A coordenadoria do ensino indígena obteve cinco vagas na Faculdade São Lucas para a escolha deles, à exceção do curso de medicina. Os cursos mais procurados são administração pública, geografia, enfermagem, história e informática. Eles ingressam na Unir para frequentar o curso intercultura, o que já aconteceu com Uraan Anderson Suruí, dirigente da Opiron e um dos professores do Açaí.

VIA SATÉLITE

Distantes de Porto Velho mais de 500 quilômetros, indígenas do interior dos municípios de Costa Marques e Guajará-Mirim viajam até dois dias de barco para chegar às escolas. É a situação da Baía da Coca e da Terra Indígena Ricardo Franco, por exemplo. Para essas e outras localidades, o Projeto Açaí adequou o calendário escolar às peculiaridades da cultura indígena.

“Facilitamos a participação deles nas colheitas da castanha e da mandioca, e nas atividades de caça e  pesca. A reposição de aulas é feita nos fins de semana e à noite, sem prejuízo no aprendizado”, explicou Gonçalves.

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Flavio Gonçalves, coordenador de Educação Indígena

Até julho próximo, o Ensino por Mediação Tecnológica [a distância] funcionará em regiões isoladas de Rondônia. O Ensino Médio começará por Guajará-Mirim [que concentra a maior parte da população indígena de Rondônia] , numa parceria entre a Seduc e a sua similar amazonense, que transmitirá de Manaus imagens em tempo real, via satélite, captadas por antenas VSAT, as mesmas utilizadas pelo Sistema de Proteção da Amazônia (Sipam).

As aulas serão transmitidas em tempo real para as aldeias. No estúdio, em Manaus, o professor poderá ver e escutar seus alunos, tirando as dúvidas a respeito de conteúdos de sua disciplina. Ao mesmo tempo, nas aldeias, cada sala terá dois monitores [professores indígenas] para auxiliar na compreensão dos assuntos. “Se necessário, eles farão a tradução do português para a língua indígena”, disse o coordenador.

Conforme Gonçalves, esses monitores também corrigirão provas, solucionarão problemas administrativos e cuidarão dos equipamentos. Segundo estimativa do vereador Arão Oro Waram Xijein, atualmente existem cerca de 300 alunos indígenas que já concluíram o Ensino Fundamental e estão sem estudar. Inicialmente, o ensino a distância beneficiará cinco comunidades do Rio Negro Ocaia, Tanajura, Lage Novo, Sotério e Ricardo Franco. O procurador da República Daniel Dalberto espera aumentá-las para sete.

Essas conquistas foram possíveis este ano, quando indígenas de Guajará-Mirim participaram de audiência pública do MPF, nos termos da Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho, com a presença de representantes da Seduc, na qual debateram e aceitaram o modelo de ensino.


Fonte
Texto: Montezuma Cruz
Fotos: Daiane Mendoça e Arquivo Decom
Decom - Governo de Rondônia

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