Segunda-feira, 7 de julho de 2014 - 17h09
De volta a uma semifinal de Copa do Mundo depois de 24 anos, a Argentina perdeu, nesta segunda-feira (07.07), o jogador que forjou a imagem do futebol do país em nível internacional. Morreu, na capital espanhola, Alfredo Di Stéfano, 88, natural de Buenos Aires, o maior ídolo da história do Real Madrid. Muitos consideram o argentino o maior jogador da história até o aparecimento do Rei Pelé.
O pioneirismo de Di Stéfano tornou possível que hoje o país tenha destaques atuando na Espanha, como Di María, no Real Madrid, e Lionel Messi, no Barcelona. “É difícil dimensionar para as novas gerações o tamanho desta perda, porque temos imagens escassas de Di Stefano jogando”, afirma Pablo Gavira, do Canal 3 Rosário, da Argentina. “Mas podemos dizer que Di Stéfano abriu as portas, e Maradona fez todos conhecerem o futebol argentino”, compara Gavira.
Di Stéfano morreu de parada cardiorrespiratória. Ele havia sofrido um ataque cardíaco no último sábado, após sair de um restaurante próximo ao estádio Santiago Bernabéu, do Real Madrid. No domingo, o boletim médico anunciava que o quadro do ex-jogador era estável.
Como jogador, o atacante começou no River Plate, onde fez parte do lendário time conhecido como “La Máquina”, integrado também por Moreno, Muñoz, Labruna e Loustau. Teve breve passagem pelo Hurácan, em 1946, antes de retornar ao River Plate. No Brasil, Di Stéfano jogou em 1948 um amistoso com a camisa do Palmeiras. Ele defendeu um combinado de Boca Juniors e River Plate, que empatou com a seleção paulista por 1 a 1. Como os jogadores de Boca e River não queriam atuar com a camisa do rival, a solução foi jogar com o uniforme do clube do Parque Antárctica. Di Stéfano fez o gol da equipe no jogo.
Em 1949, em meio a uma disputa trabalhista na Argentina, que ainda não havia adotado oficialmente o profissionalismo, foi jogar na Colômbia, pelo Millonarios, de Bogotá, em uma liga pirata. Sua transferência para a Espanha, em 1953, foi turbulenta. O Barcelona havia negociado com o River Plate, que oficialmente detinha seu passe. Mas o Real Madrid atravessou o negócio. A partir daí nasceu a rivalidade entre Real e Barça.
A perda de Di Stéfano mudou a realidade do futebol espanhol, até então dominado por Barcelona e Athletic Bilbao. Antes da chegada do argentino, o Real Madrid havia conquistado apenas dois títulos nacionais. Nos 11 anos em que vestiu a camisa merengue, o atacante conquistou oito títulos nacionais, além de cinco campeonatos europeus e um Mundial interclubes.
Naturalizado espanhol, desfalcou a Fúria na Copa do Mundo do Chile, em 1962, por causa de lesão. “A identificação é mais com o Real Madrid, no qual ele é um símbolo, do que com a seleção, porque até a geração de Xavi e Iniesta, a Espanha não teve grandes ídolos pela ausência de conquistas”, afirma o espanhol Antonio Torres, jornalista da agência Efe.
Pelo mesmo motivo, Di Stéfano também não teve uma identificação tão grande com a seleção argentina, a qual nunca defendeu em um Mundial. “A relação é mais de carinho do que de respeito”, define Victor Brizuela, da rádio Sucesos, de Córdoba.
“A morte de Di Stéfano não traz efeitos diretos na seleção argentina, em termos de motivação. A façanha de voltar a uma semifinal depois de 24 anos já é grandiosa por si só. Talvez façam um minuto de silêncio. Nada mais do que isso”, completa o jornalista.
Como treinador, ao menos, Di Stéfano teve participação mais efetiva em seu país natal. Ele foi campeão argentino dirigindo o Boca Juniors em 1969, e o River Plate, em 1981. Mas, nem tal façanha fez com que fosse amado pelos dois maiores clubes da Argentina. “Os Milionários [apelido do River Plate] nunca perdoaram sua passagem pelo Boca. E os torcedores do Boca nunca o amaram por causa da identificação com o River”, comenta Brizuela.
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