Quarta-feira, 4 de junho de 2014 - 13h28
Desde que o Brasil foi escolhido como sede da Copa do Mundo FIFA 2014 o jornalista chileno Cristian Guerra Cortes, 33 anos, decidiu que teria de realizar o sonho de participar de perto de um Mundial de futebol. Apaixonado por bicicleta e pela vida ao ar livre não teve dúvida: chegaria ao Brasil pedalando. Quatro meses após deixar San Pedro de Atacama e de percorrer sozinho grande parte dos cerca de 3,8 mil km, ele chegou em maio a Cuiabá, onde a seleção de seu país estreia na Copa, no dia 13 de junho, contra a Austrália.
No trajeto até a capital mato-grossense, sua morada desde 21 de maio, Cristian atravessou parte do Altiplano boliviano (região de cordilheiras) e cruzou por aproximadamente 20 cidades, tendo a oportunidade de conhecer muitas pessoas, povos humildes, em sua maioria, que lhe foram receptivos e ajudaram fornecendo abrigo e comida.
“Foi um aprendizado muito grande toda essa viagem. A integração com os povos, pessoas que encontrei pelo caminho foi muito gratificante. Mesmo morando em lugares simples, ao saberem de minha jornada para o Mundial, muitas famílias me ajudaram. Foi uma troca de experiências muito rica, que mudou a minha forma de ver as coisas. Estar aqui hoje é motivo de muita alegria para mim”, contou. Escolas, igrejas, casas de adobe e praças foram alguns dos lugares que serviram de acomodação ao viajante.
Para chegar a Cuiabá, o jornalista teve ainda de driblar adversidades, como o joelho direito dolorido, após levar um tombo, febres – depois de ser picado por mosquitos – e dores na região estomacal, em virtude de uma indesejável intoxicação alimentar.
O chileno contou que a força mental em realizar o sonho sempre prevaleceu em relação aos percalços da viagem e que o apoio da família e da noiva, Chimy, foram fundamentais para que conseguisse chegar bem a Cuiabá. “Minha família, no começo, achou a ideia um pouco louca, mas depois passou a me apoiar. Minha noiva também sempre me incentivou”, disse, não conseguindo esconder um sorriso.
A bicicleta de Cristian foi equipada com placas de captação para conversão dos raios solares em energia e um dínamo, que também gerava energia enquanto ele pedalava. Ambos alimentavam uma bateria com saídas para que ele sempre mantivesse o tablet e o localizador, com sinal de satélite, carregados. “Minha família e noiva sabiam onde eu estava durante toda a viagem. Mantínhamos contato sempre que possível”, relatou.
Cristian deve encontrar os pais em poucos dias. Eles virão de carro para Cuiabá, em companhia da caravana que partirá de Santiago para acompanhar os jogos da seleção chilena na Copa, em cada cidade onde as partidas acontecerão. Serão mais de 800 carros ao todo. Somente na capital mato-grossense, devem estar presentes por volta de 20 mil chilenos. Além de Cuiabá, o Chile joga no Rio de Janeiro, contra a Espanha e em São Paulo, contra a Holanda.
No dia 12 de junho, data da abertura da Copa do Mundo, Cristian e mais alguns amigos realizarão na Praça Popular, em Cuiabá, a partir das 11h, um encontro para uma partida de futebol e confraternização. Denominado “Futebol em La Rua”, o evento vem sendo organizado para promover uma interação entre chilenos, australianos, cuiabanos e quem quer que seja. “Todos serão muito bem vindos”, enfatizou Cristian.
Sobre Cuiabá, o jornalista afirmou ter gostado bastante da cidade. “É um povo muito hospitaleiro. E há muitos bares e natureza por perto. A Chapada dos Guimarães é linda”, declarou.
Torcedor da Universad de Chile, conhecida como “La U”, e do Tessandino, time da terceira divisão chilena, Cristian diz que no Brasil nutre grande simpatia pelo Palmeiras, pois é um admirador do futebol de Valdivia, “El Mago”, como disse. O meia, para ele, é uma das principais esperanças da seleção chilena, junto dos atacantes Alexis Sanchéz e Eduardo Vargas. “Nosso grupo na Copa é muito difícil, mas temos chances de passar para as oitavas”, acredita Cristian.
Em um eventual confronto com o Brasil, que já poderia acontecer na segunda fase, o jornalista, no entanto, já não se mostra muito otimista. “Será difícil ganhar do Brasil, mas vai saber, né? No futebol tudo pode acontecer”.
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