Quarta-feira, 30 de novembro de 2011 - 17h05
Quando os jogadores da seleção brasileira de futebol entrarem em campo em junho de 2014, para abrir a Copa do Mundo no novo estádio de São Paulo, eles caminharão até o centro do gramado ao lado de um menino e uma menina paraplégicos, que comandarão com suas mentes a vestimenta robótica que lhes permitirá andar e dar os primeiros chutes na bola oficial do torneio. O cenário foi detalhado pelo cientista Miguel Nicolelis nesta quarta-feira (30) aos senadores que participaram de uma audiência pública sobre a relação entre a ciência e o desenvolvimento do Brasil.
- Na abertura da Copa vamos mostrar ao mundo o primeiro pontapé da ciência brasileira para toda a humanidade - disse Nicolelis, que vai desenvolver a vestimenta robótica dos meninos. Ele falou na audiência promovida pelas Comissões de Educação, Cultura e Esporte (CE) e de Ciência, Tecnologia, Inovação, Comunicação e Informática (CCT), a respeito do "uso democrático da ciência para a transformação social e econômica do Brasil".
Professor titular de Neurobiologia e codiretor do Centro de Neuroengenharia da Duke University, dos Estados Unidos, além de criador do Instituto Internacional de Neurociências de Natal, Nicolelis expôs os primeiros resultados do Campus do Cérebro, estabelecido por ele - com investimentos públicos e privados - em Macaíba (RN), cidade da periferia de Natal até então com pobres índices educacionais.
As crianças beneficiadas pelo programa são cuidadas ali desde antes do nascimento. Suas mães passam por um rigoroso acompanhamento pré-natal. E, duas semanas após o nascimento, as crianças passam a frequentar uma escola em tempo integral que prosseguirá até a conclusão do ensino médio. Meninos e meninas de 10 a 15 anos trabalham em sofisticados laboratórios de robótica e ciências e aprendem, na prática, o que outros meninos só conhecem por memorização de conteúdo.
- Às seis e meia, uma hora antes do início das aulas, as crianças já estão sentadas na calçada da escola lendo e não querem ir embora ao final das aulas. A felicidade de nossas crianças pode mudar o mundo - afirmou Nicolelis.
Estratégia
Na mesma audiência, a nova política brasileira de estímulo à inovação foi descrita pelo subsecretário de Coordenação das Unidades de Pesquisa do Ministério, de Ciência, Tecnologia e Inovação, Arquimedes Diógenes Cilino. Entre os objetivos principais da nova Estratégia Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação para o período de 2011 a 2015, anunciou, estão os de contribuir para a erradicação da pobreza e para a inserção internacional soberana do Brasil, além de reduzir a defasagem tecnológica do país e fomentar a economia verde e criativa.
Os senadores presentes, a começar pelo senador Cyro Miranda (PSDB-GO), que presidiu a reunião, levantaram repetidas vezes a mesma pergunta: como multiplicar a experiência desenvolvida em Macaíba. E também como levar gente qualificada para o interior, como lembrou o senador Wellington Dias (PT-PI), ou como manter um bom relacionamento, em experiências semelhantes, com os governos municipais e estaduais, como questionou o senador Cássio Cunha Lima (PSDB-PB).
Nicolelis defendeu, então, uma ação integrada de três Ministérios: da Educação, da Saúde e da Ciência, Tecnologia e Inovação. Para ele, os institutos federais de educação tecnológica poderiam atender a alunos da educação fundamental, que, por sua vez, já teriam sido beneficiados por programas de cuidados médicos desde antes do nascimento. Se 500 institutos aderirem a essa iniciativa, observou, em quatro anos um milhão de crianças terão sido beneficiadas.
- Se casarmos uma educação libertadora com a política estratégica de ciência e inovação e o apoio pré-natal da Rede Cegonha, do Ministério da Saúde, criaremos um processo de inovação que terá resultados em 20 anos, com novas indústrias, processos e patentes. Sem apostar no maior ativo que temos, o ser humano, não teremos a menor chance de progredir - alertou Nicolelis.
A proposta recebeu apoio do senador Walter Pinheiro (PT-BA), relator do projeto do Plano Plurianual 2011-2015. E também do senador José Agripino (DEM-RN), que prometeu apresentar emenda ao projeto de Orçamento de 2011 beneficiando o projeto de Macaíba.
Fonte: Marcos Magalhães / Agência Senado
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