Sábado, 21 de junho de 2014 - 11h27
Elaine Patricia Cruz
Agência Brasil
Região tradicional de São Paulo, famosa pela concentração de bares e restaurantes, a Vila Madalena virou um dos lugares preferidos dos turistas para assistir aos jogos da Copa do Mundo pela televisão. À noite, principalmente, a quantidade é tão grande que muitos passaram a dizer que o que está acontecendo durante o Mundial é “um carnaval fora de época”.
Na tarde dessa sexta-feira (20), a reportagem da Agência Brasil visitou o local. Os bares estão enfeitados com muitas bandeiras do Brasil e deixam as TVs ligadas para atrair os clientes. Todos estavam cheios e também havia muita gente circulando pelas ruas – embora em uma quantidade menor do que a região está recebendo durante a noite. Muitas pessoas desfilavam com camisas das seleções da Itália, da Holanda, do Equador, da Costa Rica, do Uruguai e, principalmente, do Brasil.
O jornalista costa-riquenho Manuel Ramírez era um dos que foi à Vila Madalena para assistir à vitória da sua seleção sobre a Itália, por 1 a 0, o que garantiu a classificação para a próxima fase da Copa. “Vim conhecer a Vila hoje para ver a partida contra a Itália e aqui me pareceu excelente, com muitos bares e um ambiente muito bonito”, disse ele, que estava acompanhado pelo pai, Manuel Ramírez Rojas. “A organização e a segurança [da Copa] e a atenção dos brasileiros me impressionaram positivamente. Estamos nos sentindo como se estivéssemos em casa”, disse Rojas.
Para o filho de Rojas, a Copa tinha mesmo que ser realizada no Brasil. “O melhor mundial tinha que ser no Brasil. É o país mais alegre e futeboleiro que poderia haver. Estar em um mundial no Brasil não tem como explicar [essa emoção]”, disse, feliz pela segunda vitória da Costa Rica na Copa. “A festa foi incrível. Ganhar do Uruguai e da Itália é um sonho. E no grupo da morte.”
Quem também assistiu ao jogo entre Costa Rica e Itália em um bar da Vila Madalena foi o colombiano Andres Montoya Corejas, que disse ter “gostado muito” do local. Antes de visitar São Paulo, ele já esteve no Rio de Janeiro [onde desembarcou], em Belo Horizonte e em Brasília para acompanhar a Colômbia [que jogou no Mineirão e no Mané Garrincha, ganhando suas duas partidas pelo grupo C].
“Aqui [em São Paulo] tem festa. Brasília é muito apagada. E nós, colombianos, gostamos de festa, que em Brasília não tem”. Sobre a Copa, Corejas disse estar gostando de tudo, com exceção de uma coisa: em todos os lugares onde esteve, inclusive nos aeroportos e nos estádios dessas cidades, as pessoas dificilmente falavam espanhol. “Só falam português. Entrei pelo Rio e lá não falam [espanhol]. Em Brasília, que é a capital [do Brasil], também não falam. Em Belo Horizonte também não”, reclamou. “Mas está tudo bem, embora não haja muita informação para quem fala espanhol."
Já o equatoriano Ramiro Zambrano chegou ao Brasil há dois dias e aproveitou a tarde fria de sexta-feira em São Paulo para conhecer o local. “Chegamos agora aqui e estamos conhecendo a Vila Madalena, mas me parece muito bonito e interessante”, disse ele.
Com tantos estrangeiros frequentando a Vila Madalena durante a Copa, muitas paulistas decidiram frequentar o local querendo conhecer “os gringos”. “Eu já frequento a Vila, mas agora está maravilhoso. Viva a Copa! Eu brinco que a nossa palavra agora é 'gringolando', ou seja, admirando todos os gringos”, disse a funcionária pública Greice Galvão. Sua amiga, Gabriela Moretti, que mora em Barueri (SP), esteve na Vila na sexta-feira (20) pela primeira vez. “É bem legal. Estou gostando. Por enquanto não conheci ninguém, mas espero conhecer. Quem sabe eu não conheça alguém para me levar embora hoje?”, disse, rindo.
Para os comerciantes, o “carnaval fora de época” na Vila está sendo muito bom, o que os obrigou até mesmo a aumentar o número de funcionários, como Germano Oliveira, gerente do Posto 6. “O movimento está bacana, show de bola." Para atender os “gringos”, o bar apostou em aplicativos que traduzem o cardápio para o inglês e o espanhol e também no aumento do número de funcionários, inclusive com a contratação de temporários. “Coloquei uns seis [funcionários] a mais para dar conta”, disse Germano, destacando que o movimento no bar aumentou em cerca de 80% durante a Copa. “Os gringos vem aqui para almoçar, ver o jogo e comer uma boa comida de boteco."
Já Francine Caballero, gerente da Comunidade da Vila, disse que o movimento no local nessa época aumentou em até 40%. “Tem muita gente de fora." O movimento, segundo ela, poderia até ser melhor, se não fosse o fato de que os turistas estão preferindo ficar nas ruas do que entrar nos bares. “Tem muita gente transitando na rua e, às vezes, não quer entrar porque quer ficar na ferveção. Mas está valendo muito”, disse ela.
Na Comunidade da Vila, explicou Francine, eles precisaram aumentar o número de funcionários (quase o dobro, mas com contratos temporários) e também a carga de mercadorias. “Fizemos um contrato temporário com o pessoal para podermos atender [os turistas]."
Já sobre a reclamação dos moradores da região de que o lixo nas ruas também aumentou, ela disse que esse é um problema da prefeitura. “Tentamos atender às expectativas, mas o lixo das ruas não tem como a gente controlar. Tomamos conta do lixo e procuramos não acumular nada, mas o lixo da rua é a prefeitura que tem que ajudar."
A Agência Brasil tentou entrar em contato com a Associação de Bares e Restaurantes de São Paulo (Abrasel) para saber se há números sobre o aumento das vendas nos bares e restaurantes da cidade, especialmente os localizados na região da Vila Madalena, mas não teve retorno.
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