Quarta-feira, 15 de novembro de 2017 - 12h08
247 - O jornalista Domingos Fraga, colunista do portal R7, escreve nesta quarta-feira, 15, que "até a grama velha de guerra do estádio do Olaria" sabe que a Globo foi a parceira fundamental para que a CBF transformasse o futebol brasileiro no que ele é hoje.
O jornalista diz que o ex-presidente da CBF Ricardo Teixeira e o presidente da Globo Esportes, Marcelo Campos Pinto, o homem encarregado pela Globo de negociar os direitos esportivos, "eram a mesma pessoa em corpos separados".
"Quando Teixeira ruiu, a Globo continuou fazendo da CBF o seu parque de diversões. José Maria Marin e Marco Polo Del Nero corruptos eram, e corruptos continuaram, como as investigações do FBI mostraram", afima.
Leia, abaixo, o artigo de Domingo Fraga:
A Globo e a corrupção no mundo do futebol
Por Domingo Fraga
Depois de uma investigação interna profunda, que consumiu mais de dois anos de trabalho árduo, o grupo J&F tomou de assalto, ontem, o noticiário dos principais telejornais do País, para esclarecer, definitivamente, se alguma dúvida ainda persistisse, que Joesley e Wesley Batista nunca participaram de qualquer negociata para comprar a quase totalidade do mundo político brasileiro. E também em apuração própria, levada a cabo sob um rigor extremado, os irmãos garantiram que nunca contrataram Roberto Carlos para propagandear a excelência da carne que vendem.
O que a Globo fez ontem é muito parecido com isso.
Com a indignação pulsando a cada palavra e o olhar de quem voi vítima da mais vil de todas as vilanias, seus jornalistas leram uma nota da empresa negando, veementemente, o pagamento de propina a qualquer dirigente esportivo.
Explicando melhor para quem não sabe o que se passa : o empresário argentino Alejandro Buzarco, até ontem todo-poderoso dirigente da companhia de marketing Torneos y Competencias denunciou, em Nova Iorque, no julgamento que apura a corrupção na Fifa, que a TV Globo e outros grupos de mídia da América Latina pagaram suborno para ter direito exclusivo sobre transmissão de jogos de futebol, e a emissora, no Brasil, simplesmente, soltou um comunicado atestando que "em suas amplas investigações internas, apurou que jamais realizou pagamentos que não os previstos nos contratos".
Então, é assim: a Globo investigou a própria Globo, e concluiu que é inocente.
Pode até ser, mas é como se Eduardo Cunha apurasse desvios em suas ações.
Mesmo que não tenha pago propina, até a grama velha de guerra do estádio do Olaria, no Rio de Janeiro, sabe que a Globo foi a parceira fundamental para que a CBF transformasse o futebol brasileiro no que ele é hoje. Durante décadas fez o que quis com o calendário, mudou o hábito de dezenas de milhões de torcedores, sempre em busca dos seus interesses.
Enquanto Ricardo Teixeira esteve no topo da cadeia alimentar que devastou o futebol brasileiro, sempre foi paparicado pela Globo, mesmo com todas as denúncias de corrupção contra ele. Ficou célebre uma entrevista dada por ele à revista Piauí, onde diz que só iria se preocupar com a polícia batendo à porta, caso aparecesse no Jornal Nacional.
Nunca se ouviu uma crítica mais forte de Galvão Bueno sobre os desmandos que todos conheciam.
Teixeira e Marcelo Campos Pinto, o homem encarregado pela Globo de negociar os direitos esportivos, eram a mesma pessoa em corpos separados. Aqui, um lembrete: Marcelo foi escanteado da emissora no exato momento em que o FBI começou a invesigar a podridão da Fifa. Mas uma investigação interna da emissora deverá esclarecer, com certeza, a coincidência.
Quando Teixeira ruiu, a Globo continuou fazendo da CBF o seu parque de diversões. José Maria Marin e Marco Polo Del Nero corruptos eram, e corruptos continuaram, como as investigações do FBI mostraram.
A nota da Globo diz que ela não tem nada a ver com essa roubalheira: "Sobre depoimento ocorrido em Nova York, no julgamento do caso Fifa pela Justiça dos Estados Unidos, o Grupo Globo afirma veementemente que não pratica nem tolera qualquer pagamento de propina. Esclarece que após mais de dois anos de investigação não é parte nos processos que correm na justiça americana. Em suas amplas investigações internas, apurou que jamais realizou pagamentos que não os previstos nos contratos. Por outro lado, o Grupo Globo se colocará plenamente à disposição das autoridades americanas para que tudo seja esclarecido. Para a Globo, isso é uma questão de honra. Não seria diferente, mas é fundamental garantir aos leitores, ouvintes e espectadores do Grupo Globo de que o noticiário a respeito será divulgado com a transparência que o jornalismo exige."
A parte bondosa que habita minha alma incrédula pode até acreditar piamente nisso.
Aconteceu o mesmo quando Geddel negou ser dono do dinheiro sujo, os R$ 51 milhões encontrados em seu apartamento.
Com os diamantes de Adriana Ancelmo foi a mesma coisa.
E com Aécio então? É um querido.
Eu só acho que a Justiça americana não tem lá a alma tão bondosa, mas é só um palpite.
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