Sexta-feira, 20 de junho de 2014 - 15h12
Nelson Bocchi tinha sete anos quando o Uruguai virou de cabeça para baixo. Era 1950, o Maracanã se calava e Montevidéu era pura festa quando acabou a partida vencida pelos uruguaios por 2 x 1 sobre o Brasil. Ele não lembra detalhes do jogo, mas recorda a celebração.
“Entramos todos em um carro, mas era tanta gente que o carro não andou, e ficamos nele mesmo comemorando. Foram todos os uruguaios para as ruas. Lembro que foi uma festa que durou dois ou três dias”, contou.
Com 14 anos, Ángel Infantini tem ainda mais vivo na memória aquele mundial tão especial para os uruguaios. A escalação da equipe vencedora ainda está na ponta da língua. “Maspoli, Matias González, Tejera, Gambetta, Varela e Andrade. Ghiggia, Julio Pérez, Miguez, Schiaffino e Moran. Meu pai pegou um rádio velho e ficamos todos juntos no bairro. Os brasileiros tinham certeza de que iam ganhar, mas dentro de campo, são 11 contra 11. O melhor jogo para um time é quando a torcida inteira está contra, porque o sangue sai para fora do corpo, a vontade de ganhar é muito grande”, disse.
Ele também lembra da festa que foi feita no país, especialmente quando os jogadores chegaram. Para os dois uruguaios, a força que o time nacional ganhou em 1950 fez com que o mundial seguinte fosse um dos melhores da história para a Celeste. “O Uruguai se sentiu poderoso, com vontade de seguir lutando e ganhando outros campeonatos. Em 54, fomos quarto, mas isso por culpa de lesões”, recordou Nelson. “O Uruguai tinha uma equipe melhor em 1954 que em 1950. Mas perdemos, são coisas do futebol. Isso se aprende com o tempo”, acrescentou Ángel.
Eles não compartilham somente as lembranças, mas também a vontade de sentir novamente a emoção que tomou conta deles há 64 anos “Foi impressionante. Ah, como gostaria de viver isso de novo! É uma coisa que fica guardada pela vida toda. Foi uma façanha” afimou Nelson. “Não quero morrer sem festejar de novo, e ser campeão do mundo”, desejou Ángel.
Os dois estão na Arena Corinthinas para a partida entre Uruguai x Inglaterra, logo mais, às 16h. Se eles recordam com gosto o feito uruguaio de 1950, os ingleses que vieram a São Paulo também têm muita história para contar de 1966.
“Nada podia ser mais fantástico. Ser campeão em seu próprio país. Foi incrível”, afirmou Rod Bull, que acompanhou a vitória inglesa em 1966, quando tinha 24 anos. Os responsáveis pelo feito foram vários, mas alguns nomes foram mais marcantes para o inglês. “O time era famoso, estava confiante. Eu nunca vou esquecer de Nobby Stiles, ele era um rebelde, mas um jogador fantástico. Alan Ball, Bobby Charlton, Bobby Moore...1966 foi um ano mágico”, disse.
Anthony Latham, que é um pouco mais jovem, concorda que 1966 foi um ano de ouro. Com 19 anos, ele tentou entrar em Wembley, palco da final do torneio, mas não conseguiu ingresso. Ficou por perto e comemorou a vitória sobre a Alemanha por 4 x 2. “Eu lembro da final. Eu lembro de Martin Peters, Geoff Hurst, eles marcaram gols naquele dia. Em 1966, eu não achava que seríamos campeões, não sei o motivo. Mas conseguimos!”, disse.
Rod contou que, durante muito tempo, guardou uma lembrança muito especial daquele ano. “Guardei os selos que foram criados devido à Copa e eu os imprimi. Dizia: 'Ingleses, os vencedores'. Por algum tempo, ficaram comigo, mas depois eu os vendi”, disse.
Os dois ingleses não se lembram de comemorações muito ostensivas nas ruas. “Todos estavam muito felizes. Mas não foi uma grande festa. Éramos mais reservados com futebol naqueles anos”, disse Anthony.
Assim como os uruguaios, eles querem viver mais uma vez a felicidade de ganhar uma Copa do Mundo, mas o otimismo parece ser uma característica mais sul-americana. Enquanto Ángel e Nelson estão sempre acreditando que é possível, Rod e Anthony, são mais reticentes. “Acho que é nossa natureza, não somos muito otimistas”, disse Rod. “Eu acho que a gente sempre espera o cenário mais sombrio. Mas tenho um bom pressentimento desta vez. Vamos ver”, acrescentou Anthony.
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