Quinta-feira, 18 de dezembro de 2008 - 13h49
Crise financeira e riscos ambientais fazem com que instituições financeiras como o Itaú desistam de financiar as usinas. Primeira etapa das obras deixa saldo de 11 toneladas de peixes mortos
Grandes instituições financeiras estão reavaliando a decisão de financiar as usinas hidrelétricas de Santo Antônio e Jirau, no rio Madeira (RO), duas das principais obras do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC). As principais razões para deixar de investir no projeto de 21 bilhões de reais são a crise financeira e os riscos ambientais.
O banco Itaú, por exemplo, foi convidado a participar do financiamento tanto de Santo Antônio quanto de Jirau, mas se negou a aceitar ambas as propostas. Os bancos Santander e Banif, que detêm 20% de participação no consórcio Madeira Energia S/A (Mesa), responsável pela construção de Santo Antônio, formaram um Fundo de Investimento de Participação (FIP) e preparam sua saída do consórcio.
"O fundo foi formado com esse objetivo", diz Cássio Schmitt, executivo do Santander responsável pela obra, em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo. "Queremos apenas prestar serviço como gestores". Segundo Schmitt, sete instituições financeiras foram convidadas a participar, mas nenhuma fechou negócio até o momento. Caso as vendas do FIP não se realizem, Santander e Banif continuarão como sócios do consórcio.
O Santander também já sinalizou que ficará de fora do financiamento de Jirau. Após ser deslocada 9,2 quilômetros do local inicialmente previsto, a construção dessa outra usina do Madeira é contestada na Justiça pelo Ministério Público Federal.
O financiamento das usinas, no entanto, deve ter maior contribuição do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Apensar disso, o BNDES anunciou que financiará 60% da usina de Santo Antônio, e não 70% como se esperava. A diferença será coberta pela Caixa Econômica Federal (CEF) e pelo Banco da Amazônia. No caso de Jirau, o BNDES ainda não definiu quanto irá investir.
Princípios do Equador
O Banco do Brasil, signatário dos "Princípios do Equador", conjunto de regras para financiamento sustentável de grandes projetos, contratou uma consultoria independente para avaliar os riscos socioambientais da usina. O Banco do Brasil argumenta que as ações judiciais precisam ser equacionadas para confirmar a operação.
Os bancos Bradesco, Santander e Unibanco também contrataram uma consultoria independente, a ERM, para avaliar se o projeto está de acordo com os Princípios do Equador. Segundo a ERM, o estudo está na fase inicial e deve ficar pronto no primeiro trimestre de 2009.
Impactos ambientais
Com poucos meses de obras para a construção da usina de Santo Antônio, já começaram os impactos ambientais. Até o momento, onze toneladas de peixes morreram. O mau cheiro no local obrigou os trabalhadores da obra a usarem máscaras.
Ambientalistas, pesquisadores e o Ministério Público Federal alertaram, desde o início do projeto, os riscos ambientais das usinas, e até a equipe técnica do Instituo Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) reprovou a construção das hidrelétricas na região. Apesar disso, as licenças ambientais para o empreendimento foram concedidas.
Segundo o presidente do Ibama Roberto Messias Franco, essa mortandade é desproporcional e anormal, e resultado de erros técnicos. Ontem, o ministro Carlos Minc disse que deve multar o consórcio Mesa.
O consórcio atribuiu a morte dos peixes a uma brusca variação de temperatura ocorrida no final da semana passada, o que classificou como um "fator não controlável".
Fonte: Amazonia.org.br
Link: http://www.amazonia.org.br
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