Terça-feira, 19 de agosto de 2008 - 11h11
PORTO VELHO RENASCE COM OBRAS DAS HIDRELÉTRICAS DO COMPLEXO RIO MADEIRA
Mais do que qualquer outra cidade brasileira, Porto Velho respira hoje um clima de Olimpíada, tentando usar a construção das usinas hidrelétricas do rio Madeira como motor de um novo ciclo de desenvolvimento e evento transformador de sua concepção urbana.
Enquanto se prepara para receber até 150 mil migrantes ao longo das obras - a população atual é de 384 mil habitantes -, a cidade já vive os sintomas da aceleração do crescimento. Há cinco anos o PIB de Rondônia cresce acima da média nacional.
Estão previstos R$ 571 milhões em investimentos na área industrial, a serem aplicados até 2010. Terras no perímetro de expansão da capital se valorizaram 200% nos últimos 12 meses. Falta cimento para erguer novas casas, e não é para menos: até agosto, a prefeitura emitiu 30% mais alvarás de construção do que no ano passado inteiro.
O início das obras nas usinas é o principal assunto de Porto Velho, não importa a posição de quem faz os comentários. "É um novo marco zero para a cidade", reconhece o sociólogo Luiz Novoa, professor da Universidade Federal de Rondônia (Unir) e atuante opositor da construção das hidrelétricas. "Como a realização de uma Olimpíada, as usinas inauguram outra história na região e podem ter um impacto desestruturante ou reformador, o que só se saberá com o tempo."
Um dos mais evidentes sinais do boom econômico é a construção civil. Empresas como Gafisa, Direcional e JHSF chegaram ao mercado ou estão estudando sua entrada. Elas têm mais de 7 mil unidades habitacionais em obras, voltadas para a classe média (B e C), ou em fase de lançamento. "A cidade está se verticalizando", diz Fernando Casal, ex-presidente do Conselho Regional de Corretores de Imóveis (Creci).
Um apartamento novo de três quartos está sendo vendido por R$ 280 mil, mesma faixa de preço de imóvel similar em bairros tradicionais de São Paulo, como Pompéia ou Vila Mariana.
Em uma cidade cuja coleta de esgoto abrange menos de 3% das residências e em que a água tratada é um serviço desfrutado por apenas metade da população, a prefeitura quer impedir que esse crescimento ocorra de modo ainda mais desordenado.
Para isso, os governos estadual e municipal contam com verbas de R$ 645 milhões do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) para universalizar o saneamento básico até 2010 e ajudar no processo de reurbanização de Porto Velho.
Paralelamente, dois projetos ambiciosos são tocados pela prefeitura. O primeiro tem como desafio enfrentar o atual caos fundiário do município. Até dois ou três anos atrás, cerca de 95% dos imóveis e terrenos simplesmente não tinham escritura.
A ocupação da cidade se deu em cima da invasão de terras públicas e do loteamento de imensas propriedades dadas de presente pelo Estado ou pela União a mãos privadas, por meio de 9.426 cartas de aforamento - algumas assinadas há muitas décadas.
Essas terras viraram uma espécie de capitania hereditária e a maioria de seus detentores vendeu a terceiros partes dessas propriedades, sem registro legal e gerando um quebra-cabeça fundiário como em nenhum outro município brasileiro.
Fernanda Kopnakis, secretária de habitação |
As usinas trouxeram, a reboque, dois outros grandes investimentos: a Alstom e a Bardella fizeram uma joint venture e vão aplicar R$ 90 milhões em uma fábrica de equipamentos, que recebeu isenção de impostos estaduais e um terreno de 235 mil metros quadrados do governo e a Votorantim investirá R$ 110 milhões em uma unidade que produzirá 750 mil toneladas de cimento por ano a partir de 2009.
Valdemar Camata Jr., superintendente do Instituto Euvaldo Lodi e assessor econômico da Federação das Indústrias do Estado de Rondônia (Fiero), |
Fonte: Valor Econômico/Daniel Rittner, de Porto Velho
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