Fecha os olhos, deixa um filme passar na memória, rasgue toda e qualquer idéia de que em Rondônia falta civilização. Viaja mais um pouco, tente deixar a imagem do céu azul envolver plenamente o seu ser. Acredite, aqui você encontrará desbravadores, gente que carrega nos olhos e no coração o sonho de ver o desenvolvimento chegar.
Nada de hipocrisia, ainda falta muito coisa por aqui. Quem chegar de fora pode não encontrar tantas facilidades como almeja. Com aproximadamente 380 mil habitantes e apenas 3% das residências atendidas por rede de esgoto e menos de 45% com água encanada, a Capital- Porto Velho teme um inchaço explosivo de 100 mil pessoas com a chegada dos novos empreendimentos. Com cerca de 36% da população desempregada ou dependente de empregos extremamente precários, o boom econômico necessita qualificar grande parte dos profissionais rondonienses.
Rondônia se prepara para desenhar sua marca na economia do país. Como pedra preciosa, está esperando ser lapidada pelo PAC (Plano de Aceleração de Crescimento), criado pelo Governo Federal em 2007. Com o maior valor destinado ao Programa, as hidrelétricas do Madeira são prioridades do Governo Lula. As duas usinas, Santo António e Jirau, serão erguidas na região amazônica onde se concentra a maior reserva de água doce do mundo. São vistas como a única solução, no momento, para reduzir riscos de um possível apagão no país. Fornecerão 6450 mW de energia, o equivalente a 6% da necessidade do Brasil. A estimativa de custos das obras sãode R$ 20 bilhões.
Como conseqüência imediata do início da construção das usinas, o estado começa a tomar novos rumos. Porto Velho está se verticalizando com mais de quarenta prédios em construção e os seus dois primeiros shoppings. Dentro deste boom econômico a industrialização já teve início. A Votorantim, Alstom, Odebrechet, Camargo Correia, e diversas empresas que trabalharão direta e indiretamente com as usinas estão prestes a fixar suas instalações. Também diversas empresas de agro- negócios estão visualizando oportunidades. Hoje o estado conta com frigoríficos instalados no cone-sul de Rondônia, instalações de indústrias alimentícias, e ainda existem as expectativas da construção do Gasoduto, Ponte sobre o Rio Madeira, abertura para o Pacífico e a reconstrução da rodovia para Manaus.
Só a empresa do grupo Votorantim irá gerar aproximadamente 120 empregos diretos e 600 indiretos. Com 150 mil metros quadrados, na BR-364, as instalações da Votorantim em Rondônia estão previstas para o próximo mês de julho e as expectativas são de que até em 2009, a empresa já esteja operando e distribuindo cimento, para suprir toda a demanda da construção civil no estado. A Votorantim investirá aproximadamente 100 milhões de reais na construção da primeira fabrica de cimento na região norte do país.
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USINA DE SANTO ANTÔNIO
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USINA DE JIRAU
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Distância de Porto Velho
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7 Km
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136 Km
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Leilão
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Dezembro de 2007
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Maio de 2008
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Pessoas atingidas
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2000
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1000
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Funcionário necessários
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10 000
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10 000
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Início da operação
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2012
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2013
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Custo da obra
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10 bilhões de reais
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10 bilhões de reais
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Fonte: Odebrecht
Para Linhares, Presidente da Fercomércio - Rondônia terá grandes empresas e quem não se preparar vai ser engolido. “Novos empreendimentos estão chegando, nomes fortes como Lojas Americanas, e a rede de supermercados Carrefour, entre outras, vão gerar novas vagas de trabalhos, mas quem não se preparar vai ser absolvido pelo desenvolvimento que chega com força”.
De acordo com Euzébio Guareschi, presidente da Fiero (Federação da Indústria de Rondônia), foi assinado um termo de cooperação técnica para qualificar cerca de 15 mil pessoas, 9 mil trabalhadores serão utilizados nas obras da construção da usina de Santo Antônio.
Canteiros de obras das usinas abrirão 20 000 postos de trabalhos
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Massa salarial em Porto Velho
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Aumentará nos próximos anos em
1 bilhão de reais – ou 10% do PIB do estado
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Crescimento econômico do Estado
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4,5% ao ano registrado em 2006 (505 maior que a média do país) podem chegar graças à construção das hidrelétricas
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Fonte: Fiero
Rondônia teve grandes momentos na sua economia. Passou pela construção da Estrada de Ferro, pelo ciclo da borracha, da madeira e o auge do garimpo. Cada ciclo teve sua participação significativa na economia do estado, mas sem pensar em ações futuras, toda população rondoniense sentiu e sente os vestígios deixados pelas mazelas sociais, como: o aumento da prostituição, violência, desemprego, falta de saneamento básico, e outras barreiras provocadas pela falta responsabilidade social.
Dona Maria Socorro tem uma idade avançada (aparentemente uns 70 e poucos anos), mas ela vai logo avisando que não quer revelar quantos anos de vida tem. Mas de uma coisa faz questão de explicar, ela garante sentir medo do desenvolvimento. “Eu sou uma senhora idosa, o meu marido morreu há mais de 10 anos, nunca mais eu fui à mesma. Vivo do pouco que conseguimos na época do garimpo. A vida era bem melhor, mas logo que passou a febre de achar ouro pelo Madeira, eu sofri com medo da violência e das drogas que foram deixados na cidade. Hoje, eu tenho a preocupação de ver todos os meus netos trabalhando e estudando. Aqui não tem emprego e por causa disso, eles ficam dia e noite nas rodas de amigos, fazendo o que? Eu não sei dizer”, finalizou
Mas o que fazer com a beleza radiante do pôr-do-sol do Madeira? Ou quem sabe com a importante história da construção da Estrada de Ferro Madeira Mamoré? Ou mesmo, as belezas naturais que só Rondônia tem? Não, não, nada vai adiantar se não trilharmos o mapa que leva ao caminho certo. Um caminho chamado Educação! Rondônia vai crescer, é inevitável, mas sem qualificação o caminho vai ser árduo, penoso.
O grande desafio é “Acreditar”, mas acreditar em quem? Acreditar que todos os cidadãos rondonienses terão a oportunidade de participar do desenvolvimento do estado de forma ativa. O seu Benedito, motorista, sonha com as novas oportunidades em Rondônia. “Eu voltei a estudar em 2005, só então, pude conhecer muitas pessoas e além de tudo, consegui me sentir gente de verdade. Eu não pude ir à escola, quando criança tinha que trabalhar e ajudar em casa. Minha família era grande e os meus pais não eram alfabetizados. Voltei a estudar por causa da minha filha, que me fez prometer se ela passe no vestibular, eu teria que estudar. Valeu apena, hoje estou fazendo o EJA (Educação de Jovens e Adultos), e agora descobri que posso sonhar”.
Para arrancar do cenário histórias de desigualdade, é necessário um plano para diminuir as diferenças econômicas e sociais. É preciso investimento na educação, para que todos os cidadãos ricos ou pobres tenham direitos iguais. É o que explica o superintendente do Sesi/RO, Guilherme Castelo Branco, para ele o desenvolvimento sustentável anda de mãos dadas com a responsabilidade social empresarial e amplia a atitude responsável em relação ao ambiente e à sociedade, tornando-se preventivo aos riscos futuros, como impactos das desigualdades sociais. Ele salienta que o investimento na educação é de extrema necessidade para o desenvolvimento competitivo dentro do quadro que Rondônia passará nos próximos anos.
O superintende ainda falou sobre as metas que o Sesi está preparando para alcançar com a vinda das hidrelétricas. Castelo Branco é cauteloso com os números, mas explica que por um período de quinze anos abrangendo um total de vinte mil funcionários e suas respectivas famílias as hidrelétricas do Madeira irão provocar um giro de 180 graus. O Sesi, por sua vez está através do Programa SESI - Educação do Trabalhador, visando atender a demanda de Jovens e Adultos por Educação, em nível de Ensino Fundamental e Médio, com uma metodologia focada para as necessidades deste grupo.
“A construção das hidrelétricas do rio Madeira tem que provocar nas empresas a responsabilidade quanto o pós-usina. Algo que possa possibilitar o início de atividades de planejamento e articulação para as implementações de projetos focados na responsabilidade social voltados à educação e que desenvolvam e busquem ações para potencializar o desenvolvimento do Estado com transparência”, afirmou Castelo Branco.
Segundo informações da Prefeitura de Porto Velho foi firmado um convênio com o Sistema S e o Ministério do Trabalho, para que os profissionais selecionados nos novos empreendimentos sejam de Rondônia.
E, para gerar estas oportunidades, o Senai/RO está trabalhando para isto. No último ano, a instituição ganhou licitação para o Plano Setorial de Qualificação (Planseq), um Programa que norteia qualificar aproximadamente 3 mil pessoas, em mais de 37 ocupações diversificadas, em 71 turmas, em três anos. O objetivo é fazer com que todas as aéreas em torno das construções das hidrelétricas sejam supridas por profissionais do estado.
Como Rondônia está em pleno desenvolvimento, existe a necessidade de consientizar que a formação do cidadão, é um desafio de todos e quem ganha é a cadeia produtiva da cidade onde ele vive. Todos os Poderes Estaduais, Municipais, Indústrias, Empresas Privadas e Sociedade necessitam compreender esse fato”, disse Matos Filho. De acordo com dados do Senai, só em 2007, foram executados 60% dos cursos oferecidos pelo Planseq, e no último mês de fevereiro as atividades voltaram para o florescimento de empreendedores.
O Diretor Regional do Senai, Vivaldo Matos Filho, aponta números representativos de pessoas qualificadas na primeira fase dos cursos oferecidos pelo Planseq. Em 2007 mais de 1500 pessoas foram qualificadas e, para 2008, segundo Matos Filho, o número deve ser superado.
“Aexpectativa do Senai, é atrair todos os rondonienses para capacitação profissional. O Planseq é um projeto audacioso e nosso objetivo é sempre dar condições para que todos possam utilizar suas habilidades no mercado de trabalho. É claro que haverá concorrência, mas quem estiver qualificado, terá um diferencial e poderá competir sem se sentir prejudicado. A Educação Profissional dentro do contexto que Rondônia viverá nos próximos anos servirá para acalentar o anseio de todos que vêem na Qualificação Profissional uma política pública sustentável para combater a Inclusão Social”.
Muitos empresários já estão utilizando mão-de-obra local, os custos são visivelmente mais baixo, é o que diz o empresário Manoel Aguiar. “Eu sou do interior de Santa Catarina e Cheguei a Rondônia há mais de 15 anos. Trouxe pouca bagagem e muita esperança de que um dia isso tudo ia mudar e agora está mudando para melhor. Como um dia recebi auxilio, eu sinto a obrigação de ajudar quem está chegando ao mercado. Estou analisando o perfil de diversos profissionais, mas tenho encontrado dificuldade para achar o perfil ideal para minha oficina mecânica. Mas quero ser parceiro e tenho incentivado os meus funcionários a se qualificarem. Dois deles que passaram pelo curso de Mecânica, no Senai são hoje os meus grandes parceiros”.
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Para as construções das usinas, será exigido muito mais do que um analfabeto funcional, e, haverá a necessidade de qualificação específica, porque as obras das hidrelétricas são diferentes da predial. É o que afirma o representante das Usinas- gerente administrativo da Odebrecht, Antônio Cardihi, ele explica que o número de trabalhadores que terão colocação garantida dentro do empreendimento é satisfatório, mas existe a dificuldade de encontrar pessoas qualificadas e a empresa está buscando parcerias com todos os Poderes Estaduais, Municipais, Indústrias e Empresas Privadas.
Basta sair pelas ruas da capital rondoniense, para perceber a euforia criada pela expectativa de ver o desenvolvimento chegar e as oportunidades se expandir pelos quatro cantos do estado. Assim, segue todo uma população clamando por igualdade social e desenvolvimento humano.
Fonte: Lú Braga - Crédito para foto: Gilberto Brito