Santo Antônio: Camargo Corrêa esperava preço menor para transmissão

Orçamento para construção e operação da usina será mais apertado, segundo construtora. Falta definição sobre fator alfa e participação de autoprodutores

Alexandre Canazio, da Agência CanalEnergia, Negócios 

A Camargo Corrêa ficou surpresa com o valor do preço da transmissão para a energia da hidrelétrica de Santo Antônio (RO-3.150,4 MW) fixado no edital do leilão previsto para 10 de dezembro. Segundo João Canellas, diretor do Amel (consórcio formado pela empresa e a Chesf), a expectativa era que o valor do transporte ficasse na faixa dos R$ 12 ou R$ 13/MWh e não R$ 25/MWh como fixado pelo governo.

"Ninguém esperava um valor tão alto, o que sobra (R$ 97/MWh) para viabilizar a usina deixa o orçamento apertado", afirma Canellas, referindo-se ao preço inicial de R$ 122/MWh fixado no edital. A Camargo esperava um rateio do custo de transmissão diferente do que foi feito - de 50% para a geração e 50% para a carga. Para o executivo, o consórcio vencedor terá que ter um controle grande do orçamento para lidar com questões como operação e manutenção, meio ambiente e transmissão.

Canellas aguarda agora a publicação do edital nesta quinta-feira, 1º de novembro, para saber qual será o fator alfa para a energia vendida para o mercado livre e quais serão as possibilidades de formatação das Sociedades de Propósito Específico. De acordo com Canellas, a dúvida é se os autoprodutores ou os produtores independentes poderão formar uma empresa à parte ou se terão que participar da SPE voltada ao mercado regulado.

"Isso entra na questão de destinação de recursos e para o gerenciamento da energia no mercado regulado", explica Canellas. Ele espera um fator alfa baixo, que definirá a dedução para a modicidade tarifária. "Assim vamos saber o efeito que isso terá", observa. A expectativa de Canellas é que o processo de formatação dos consórcios seja acelerado, tendo em vista a data de 20 de novembro para a entrega da documentação dos interessados em participar.

Formação do preço - O presidente da Empresa de Pesquisa Energética, Maurício Tolmasquim, disse na última terça-feira, 30 de outubro, que o preço da energia estimado no ínicio em R$ 170/MWh foi reduzido para o patamar de R$ 122/MWh depois do trabalho dos técnicos da EPE e o acatamento de algumas sugestões do Tribunal de Contas da União, como o aumento da garantia física de 2.150 MW médios para 2.218 MW médios.

"Nossos técnicos estiveram seis meses debruçados sobre os dados fornecidos pelos estudos para verificar se poderia ser revistos, gerando uma otimização de custos", contou. Ele afirmou ainda que não foram acatadas todas as sugestões do TCU porque isso poderia comprometer o resultado do leilão. "Eles trabalham com o menor valor, nós, por outro lado, com preço mais vável. Por isso, a divergência", explicou.

Ele disse que a realização do leilão ainda este ano é mais um fator para tranquilizar o mercado do que para abastecer o mercado, o que foi concluído com o leilão A-5 realizado no dia 16. "Não é uma questão de urgência, mas há uma expectativa no mercado da entrada do Madeira em 2012", observou.

O diretor-geral da Aneel, Jerson Kelman, havia revelado, ao participar de seminário em Brasília junto com Tolmasquim, que foi sugerido pela agência o adiamento do leilão para 2008, sendo realizado na modalidade A-5. "Um mês a mais ajudaria a aumentar a competição", afirmou.