Domingo, 23 de fevereiro de 2014 - 15h36
FOTO DA AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DO ACRE
A enchente histórica do rio Madeira na capital de Rondônia em fevereiro de 2014 é, sem dúvida, a maior já registrada desde que as medições começaram a ser feitas, ainda em 1967, quando o estado nem existia.
Os dados disponibilizados pela Companhia de Pesquisas de Recursos Ambientais (CPRM) e pela Agência Nacional de Águas (ANA) mostram que no episódio de 1982, ano da criação do estado de Rondônia, o nível do Madeira na capital rondoniense chegou a 17,15 metros.
Dois anos depois, em 1986, outra grande enchente em Porto Velho afetou por semanas, centenas de moradores, com as mesmas visões da atualidade. Bairros inteiros alagados e estradas bloqueadas. O nível máximo aferido pelo órgão chegou a 17,25 metros.
Em 1997, o ápice foi de 17,51 metros, considerada até então, a maior enchente em questões de níveis telemétricos.
FOTO DA AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DO ACRE
Agora em 2014, a enchente em Porto Velho foi além. Neste sábado (22), a régua da ANA acusou nível de 18,23 metros às 22h30min (local).
Evento de 1982 não foi a maior enchente do rio Madeira!
Circula na internet e nas redes sociais, e reproduzido com ênfase em sites de notícias, vídeo do então programa Globo Repórter, da Rede Globo, de 1982, em que a mídia ditava ser a maior enchente em 30 anos entre Porto Velho e Guajará-Mirim.
Na época, mais precisamente no dia 23 de abril daquele ano, o nível máximo do Madeira atingiu 17,15 metros, não sendo, portanto, a maior enchente de Porto Velho.
Talvez, pela dificuldade de trafegabilidade da época, a imprensa armazenou números compatíveis como a maior cheia documentada, mas os dados da ANA, órgão oficial de monitoramento, vão contra a vontade dos meios de comunicação.
Veja a reportagem de 1982 (com data editada erroneamente para o canal de armazenamento de vídeos na internet) em que o Globo Repórter informava ser a maior enchente já registrada em Porto Velho.
O gráfico feito pela ANA mostra que a média de nível mais elevado do rio Madeira em Porto Velho geralmente ocorre entre os meses de abril e maio.
De acordo com os arquivos da ANA, as dez maiores cotas do rio Madeira na estação de Porto Velho, ocorreram em 1997, 1984, 1986, 1982, 2008, 1993, 2011, 2001, 1974 e 1979, todas inferiores a marca de 2014. (Dado não atualizado da enchente de 1997)
O boletim elaborado pela “Sala de Situação” de eventos críticos divulgado nesta sexta-feira (21) mostra pelo gráfico, que a cota de 2014, amplamente superou a cota máxima registrada até então pela ANA.
Em se tratando de demografia, assim como apresentado pela reportagem de 1982, com população de 150 mil habitantes em Porto Velho de 25 mil em Guajará-Mirim, os dados de longe não conferem com a atualidade.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a estimativa de população em Porto Velho em 2013 era de 484.992 habitantes e de 45.761 em Guajará-Mirim.
Novamente, a informação que circula é inverídica. Nem em nível, nem em quantidade de afetados, a enchente documentada de 1982 foi a maior da história de Porto Velho.
Estudiosos vão além e assemelham o valor recorde após a construção das usinas hidrelétricas de Jirau e Santo Antônio, que, ao mesmo passo que armazenam maior quantidade de água, liberam com vazão cada vez maior, o que poderia impactar somente Porto Velho adiante.
A realidade é que em toda a calha do rio Madeira e de seus principais afluentes, principalmente sobre a Bolívia, os dados de 2014 são históricos em sua maioria, o que confirma a não relação de maior enchente verificada neste momento no perímetro urbano da capital rondoniense.
Ainda de acordo com dados do Serviço Nacional de Meteorologia e Hidrologia da Bolívia (Senamhi), os rios Madre de Dios, Madidi, Beni, Mamoré e Itonomas continuavam muito acima da média neste sábado, alguns aumentando a cada hora, o que pode impactar em uma elevação ainda maior do rio Madeira nos próximos dias.
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Vale frisar ainda que o degelo da Cordilheira dos Andes não é a principal causa das enchentes na Bolívia e em Rondônia. O volume de chuva extremo registrado no país vizinho, com acumulados de até 700 milímetros somente em janeiro, de acordo com o Senamhi, é a principal causa para tamanho efeito devastador.
Neste sábado, o governo boliviano informou que apenas no departamento de Beni, norte da Bolívia e fronteira com Rondônia, mais de 110 mil cabeças de galo haviam morrido por afogamento. Em toda a Bolívia, 59 pessoas já morreram por conta de enchentes e de deslizamentos de terra desde o início do ano.
(Crédito das imagens: Arquivo/ANA/Rede Globo)
(Fonte da informação: De Olho No Tempo Meteorologia)
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