Sexta-feira, 27 de maio de 2022 - 14h52
1-O establishment
dá as cartas
No livro “Como morrem as democracias” um dos contextos
revela a atual bagunça brazuca com os atores e players dos Três Poderes, partidos,
empresas, imprensa, universidades, Ongs e caciques regionais com peso político
e econômico atuando para evitar qualquer mudança do status quo político
nacional usando as armas do institucionalismo, nome dado por experts e que faz
opção pelas normas legais e arranjos pré-existentes para explicar e manter o
comportamento do ente político, inclusive adotando regras informais
estabelecidas e plenamente aceitas. Prefiro, contudo, o termo establishment que
é mais antigo e que pode ser entendido como sendo a estrutura ideológica,
econômica e política que é a base da formação do estado. Aqui e alhures.
2-Quem dá forma ao establishment
O establishment não tem estatuto, CNPJ, endereço ou empregados.
Você não o vê, mas ele é real e opera no dia a dia. É o “centrão” do Congresso
Nacional, a Fiesp, o político de família ou aquele conhecido, porém invisível
“sistema”, que reina até nas estruturas sindicais ora operando à direita, ora reinando
à esquerda.
Renan, Temer, Gilmar e Sarney são muitos nomes
que o personificam. Eles é que escolhem jóqueis e cavalos colocando-os na raia
para a corrida, com regras e travas definidas e por vezes modificadas durante o
páreo por eles mesmos. Às vezes a estratégia é aumentar o número de cavalos e
noutras é reduzir. Nesta eleição para o establishment a disputa ideal deve se
dar com dois cavalos pois qualquer que seja o vencedor o prêmio será alto e já
precificado. “Com o coração sangrando e a alma leve” Dória escafedeu-se e bem antes
o Moro, depois a Simone. Ficarão os azarões como o Ciro, Emayel, etc. Afinal
tem o fundo eleitoral em jogo.
3-Eliminando
os azarões
Para o establishment outsider é palavrão, ponto
fora da curva e séria ameaça ao status quo a ser eliminada. A fala antissistema
e anticorrupção fisga o eleitor e se o pregador é eleito debilita o establishment.
É o caso do Bolsonaro, o outsider de 2018, que hoje vive às turras com o STF,
imprensa, Ongs, etc e quem mais vier.
Para não ser apeado do cargo Bolsonaro entregou-se ao
“centrão” abdicando da aura purista, mas ainda é visto com desconfiança e para abatê-lo
o establishment fez a roda da justiça girar ao contrário mudando processos e
como diria a presidente Dilma, “fazendo o diabo” para Lula entrar no circuito
como única força política em condições de enfrenta-lo nas urnas. Mas o
confronto tem que ser direto, sem azarões, vez que o risco eleger o azarão é
tão sinistro quanto escolher um outsider. É esse o caso do Dória que morreu no
ninho.
4-A
lógica da não mudança
Numa metáfora futebolística, “por que mexer em time
que está ganhando”? Para o establishment as regras são bloqueios, valas e pesos
postos contra qualquer tentativa de mudança obedecendo a uma lógica. É que
toda mudança exige esforço e inevitavelmente leva ao
desconhecido. Foi assim em 1964 contra a esquerda que pregava a mudança radical
do regime e ocorre o de novo agora contra as forças direitistas pregando um “novo
ordenamento”. Luta inglória. Mudanças ainda que necessárias, esbarram no muro
cultural. O discurso de quem as propõe será sempre o mesmo, o “anti alguma
coisa” e para ocorrer é preciso aguardar e maturar. Para o establishment e
mesmo com todos partidos, o Brasil deve ter apenas um menu: esquerda e direita.
5-Por que mudanças são necessárias
O Brasil carece da reforma tributária e
administrativa para reduzir impostos e devolvê-los ao cidadão em forma de bons
serviços, atendimento de demandas e obras a partir de prioridades planejadas e
essenciais e da transparência, moralidade e economicidade que reduzem
desperdício e corrupção. Parece algo fácil mas está arraigado na nossa
sociedade o contrário. E esta é uma realidade latino americana. Vejamos o
exemplo do Chile que promoveu a “concertacion” e vê hoje como o establishment
lutou e reverteu os ganhos obtidos. Associar a ideia com a Operação Lavajato
não é mera coincidência. O acirramento de espíritos não é obra de Bolsonaro ou
Lula que são só as vozes do establishment. Na dúvida relembro o Temer indo ao
STF para reduzir danos com Bolsonaro com o ministro Moraes ou Alckmin abraçado
a Lula para garantir sua aceitação pelo mercado. O pacto federativo? Como? Ele se
dá a partir do Congresso e não do Executivo. É como penso!
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