Sexta-feira, 10 de junho de 2022 - 13h09
1-A canetada na PRF
Por conta de um evento reprovável e abusivo de
agentes da Polícia Rodoviária Federal em Sergipe, e de uma operação trágica com
a PM do Rio de Janeiro, uma juíza federal anulou a portaria ministerial que
previa o uso de várias polícias para combater o crime organizado. Para a juíza,
só vale o que está escrito no art. 144 da constituição não sendo permitida qualquer
inovação e assim cada polícia tem que ficar no seu quadrado. Fim da expertise
da PRF contra as drogas, armas e até na defesa da fronteira. Um erro que
precisa ser revisto.
Mas, e no caso de crimes fora da rodovia? Chamem
outra polícia. E se a vítima for da PRF como ocorreu em maio em Fortaleza o que
fazer com o bandido? Prender ou proibir que ele use a rodovia? E não é só a
PRF. Em junho de 2020 o STF proibiu incursões da BOPE do Rio nas favelas, salvo
em "hipóteses absolutamente excepcionais", mas sem dizer quais. Traduzindo,
batida no morro só de limão ou com ordem do STF. Ora, punam os agentes por
excessos ou crimes cometidos e usem as penas da lei contra quem toca o terror, seja
o bandido faccionado ou o de colarinho branco e jamais proibir ações que trazem
a sensação de segurança seja pelas operações ou pela simples presença do
policial ostensivo. Ou isso ou vamos ver guetos proliferando nas cidades e no
campo ou até na distante Terra Indígena Javari ou em Porto Velho no Orgulho do Madeira.
Proibir não é proibido e com a caneta é fácil. Mas quem pega o criminoso. O
fuzil ou a caneta?
2-A morte do Sistema Único de Segurança
No início de sua gestão na pasta da justiça o
ex-juiz Sérgio Moro que era a imagem do combate à corrupção elencou ações a
partir de experiências no mundo contra o crime organizado. Unir as polícias, algo
até comum como o GAECO foi uma dessas. Os tempos eram outros, mas o “lado negro
da força” já atuava para acabar a Lavajato, criando a narrativa de que a Força
Tarefa é que quebrou as empresas atingindo o estágio atual.
Reviravoltas processuais, troca de domicílios, sujeira
debaixo do tapete, proibição de se investigar figurões sobre ganhos e fortunas,
chacota como chamar a tarefa dos procuradores federais de “brincadeira juvenil”
e então, como na Itália com a Operação Mãos Limpas, os “juvenis” foram abatidos
em pleno voo e a Lavajato que resgatou o butim e devolveu o roubo ao erário fez
água. Ações, processos, sentenças desfeitas, força tarefa achincalhada e hoje
os ratos cantam vitória. “Chame o ladrão” disse Chico Buarque noutros tempos.
3-A vida imita a arte ou será o
inverso?
Durante a ditadura militar Chico Buarque contava o
pesadelo da polícia caçando os subversivos. Na música “Acorda amor” ele pede a
sua mulher para chamar o ladrão. A vida imita a arte e vice-versa e o passado por
vezes volta numa canção ou verso em outro contexto e ainda que Chico continue a
chamar e clamar pelo ladrão, se é que me fiz entender. Naquela época os
criminosos de colarinho branco que tomaram o Brasil de assalto estavam em
gestação ou eram presos comuns, ladrões de galinha, batedores de carteira aprendendo
lições de organização política na cadeia. Surgiriam dali as atuais facções, mas
isso é conversa para outro dia.
Por certo vivemos o inferno nosso de cada dia, sem
pão, sem esperança, engabelados por mentiras da direita e da esquerda, trancados
em casa ou sob marquises e pontes, inseguros com as escaramuças dos três podres
poderes, empulhados com falsas promessas e impotentes frente a impunidade que rouba
nosso futuro. É triste ver juízes acumulando os papeis de investigadores,
juízes e policiais que só gera insegurança jurídica, bate-boca de boteco e a
multiplicação de desprezíveis recursos legais. No seriado Chaves os personagens
buscavam um salvador: “Quem poderá salvar-nos? “Eu, Chapolin Colorado”. Pena.
Até o seriado acabou.
4-Uma
tragédia anunciada
Estamos e vamos ficar ainda bem mais feios na foto
com o sumiço de um servidor público e de um jornalista na selva amazônica. O
mundo inteiro não vai perder a oportunidade de moer-nos e com razão. Ora se até
em áreas conflagradas, jornalistas recebem apoio para fazer o seu trabalho, por
que não aqui? Talvez porque nossas “otoridades” não sabem da presença de
estrangeiros jornalistas ou não na região amazônica.
Ora, se o Brasil não pode oferecer tal suporte ao
jornalista e ao seu servidor público e não tem controle de quem visita ou
invade as aldeias indígenas – sejam traficantes, garimpeiros, desmatadores ou
jornalistas – e por cima explicitam que a Terra Indígena Javari é dominada pelo
tráfico de drogas, roubo de madeira e garimpo predatório ilegal, o que mais
pode fazer a não ser unir forças – e neste caso ninguém irá se opor – para
tentar descobrir o que houve? O Brasil acaba de passar um recibo com firma
reconhecida que o crime é presente, dominador e pior, que o estado não tem como
combate-lo. O estado convive e vê como normal as cracolândias nas cidades ou
domínio de facções nas cadeias, morros, favelas, bairros ou mesmo aqui, no
Orgulho do Madeira. A segurança como direito de todos e dever de estado, art
144 da constituição federal é letra morta ou utopia. Para ser direto e reto, é
uma daquelas vergonhas nacionais evitáveis. É como penso.
Contato - leoladeia@hotmail.com
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