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Água: A primeira grande vítima da mudança



Água: A primeira grande vítima da mudança climática

Por Hilmi Toros, da IPS 

Istambul, 18/03/2009 – Derretimento de gelos, elevação do nível do mar, secas, inundações... a água é o primeiro elemento que sofre os efeitos da mudança climática, disse o especialista Mark Smith, da União Internacional para a Conservação a Natureza (UICN), maior rede ambientalista do mundo. As consequências do aquecimento global ocupam o primeiro lugar da agenda da fase ministerial do 5° Fórum Mundial da Água, que começou segunda-feira (16/03) e terminará no próximo domingo (22/03) em Istambul, na Turquia. Smith, especialista em hidrologia, agricultura e florestas e diretor de programa da UICN, reclama “sistemas de água mais fortes” para lidar com as secas e inundações extremas.

O aquecimento do planeta parece destinado a continuar mesmo se “as emissões de gases causadores do efeito estufa pararem amanhã”, afirmou. É preciso prepara o mundo para “a nova dinâmica climática”, acrescentou. Smith publicou seu livro “Just one planet: poverty, justice and climate chance” (Um só planeta: pobreza, justiça e mudança climática) e trabalhou para o estatal Centro de Ecologia e Hidrologia, e na organização não-governamental Practical Action, ambos da Grã-Bretanha. A seguir um resumo da conversa que manteve com a IPS em Istambul.

IPS - Quais são os principais impactos da mudança climática na água?


Mark Smith - Aqueles sobre os quais ouvimos as pessoas falarem são secas, inundações, tempestades, derretimento de gelos e aumento do nível do mar. Todos eles têm algo em comum: a água. A água deve estar à frente e no centro das políticas de adaptação à mudança climática.

IPS - Quais regiões e países serão mais afetados, e como?

MS - Se pensamos em seca, devemos olhar para onde os modelos climáticos projetam menos chuva. As regiões mais preocupantes são o Mediterrâneo, África meridional, América Central e Ásia central. Também vastos territórios da Austrália, que sofrem uma seca muito séria e prolongada. Quanto às inundações, a preocupação se concentra nos deltas baixos. Há alguns onde vivem enormes populações, com Bangladesh e Holanda, e inclusive megacidades como Xangai e Nova York. Esses deltas também sofrem as consequências do aumento do nível do mar, e diante deste fenômeno as pequenas ilhas são muito vulneráveis.

IPS - É possível prevenir a mudança climática?


MS - A comunidade científica chegou ao consenso de que certa parte da mudança climática é hoje inevitável. Mesmo se as emissões de gases de efeito estufa terminassem amanhã, a concentração já acumulada e o calor armazenado nos oceanos significam que o aquecimento continuará. O que podemos fazer é reduzir esse aquecimento reduzindo seriamente as emissões de dióxido de carbono, metano e outros gases de origem humana causadores do efeito estufa até estabilizar sua concentração na atmosfera.

IPS - Que tipo de preparação recomenda?

MS - Precisamos nos adaptar. Isto significa que precisamos construir e operar infra-estrutura e organizar o modo como vivemos de maneira a ser apropriado para a nova dinâmica climática, e não para o clima ao qual estamos acostumados. Devido ao impacto previsto na água, a alta prioridade é adaptar o modo com a água é manejada e a infra-estrutura que empregamos para armazená-la e drená-la e para fornecer os seus serviços.

Necessitamos de sistemas para o manejo da água que possam funcionar com inundações ou secas extremas, por exemplo. Isso implica assegurar o funcionamento de infra-estruturas como unidades de tratamento e represas. Também implica garantirmos que as bacias fluviais e seus ecossistemas estejam em boa forma e não sofram degradação, porque a natureza ou a infra-estrutura natural das bacias fluviais, amortizam os efeitos da mudança climática. A natureza nos ajudará a resistir ao fenômeno.

IPS - Que margem de ação existe para reduzir esses impactos?

MS- Devemos começar a nos adaptarmos agora, mas, felizmente, especialmente para a água, boa parte da adaptação consiste em fortalecer as bacias fluviais e os sistemas aquíferos. Isto seria importante e benéfico agora, e mesmo se não houvesse mudança climática. Começaríamos bem se investíssemos em bons sistemas de manejo de água, é o que, de todo modo, se deve fazer.

IPS - A mudança climática aumenta a possibilidade de conflito pela água?

MS - Seguramente. Em lugares onde a escassez de água é uma fonte de tensão, a redução das chuvas e dos rios a aumentará. A possibilidade de conflitos entre comunidades ou entre nações aumentará, especialmente onde há outros problemas políticos presentes. A cooperação é um princípio importante no manejo da água. Melhorá-la nas bacias internacionais ajudará a nos adaptarmos à mudança climática. (IPS/Envolverde)

Fonte: Envolverde/IPS

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