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AMAZÔNIA: Cientista defende alternativas econômicas


Vladimir Platonow
Agência Brasil


Rio de Janeiro - A Academia Brasileira de Ciências (ABC) está desenvolvendo um estudo amplo sobre o desenvolvimento da Amazônia, que será apresentado ao governo até o final do ano. O objetivo é encontrar um modelo que garanta progresso econômico sem agressão ao meio ambiente, segundo o vice-presidente da ABC para a região Norte e diretor-geral do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Adalberto Val.

“A ABC montou um grupo de estudos para fazer uma proposta sobre o desenvolvimento da Amazônia. Um ponto importante é que nós não temos nenhum país tropical desenvolvido no mundo. Portanto, nós vamos ter que desenvolver um modelo, pois não há nenhum a ser adaptado ou copiado às nossas condições.”

O diretor do Inpa disse que é preciso haver pesquisas científicas e também ações de governo para criar alternativas econômicas para os milhares de trabalhadores que hoje vivem unicamente da extração de madeira.

“O desafio é viabilizar ações de inclusão social com a manutenção da floresta em pé. Na medida em que as pessoas não têm alternativa, o que elas encontram é destruir a floresta, buscar madeira para vender. Derruba um pé de mogno para comprar comida”.

Entre áreas que podem ser desenvolvidas, segundo o diretor do Inpa, estão as de biotecnologia, biocosméticos, medicamentos e criação de peixes. “Nós temos uma das maiores bacias hidrográficas do mundo, que é muito pouco explorada do ponto de vista da produção de proteínas, que pode ser utilizada na alimentação”.

Val disse que já existem alternativas para serem utilizadas no curto prazo, faltando apenas decisão política. “O Inpa e outras instituições da região têm um conjunto de produtos e processos aptos a serem transferidos à sociedade, para viabilizar a inclusão social. Para isso, precisamos observar o zoneamento agro-ecológico-econômico, utilizar neste momento as alternativas que já existem e o estado tem que estar mais presente. A população vai continuar crescendo, gerando pressão sobre a região. É preciso agir de forma integrada, ter uma instância de governo para cuidar especificamente das ações na Amazônia.”

O pesquisador do Inpe Carlos Nobre também defende a necessidade de se descobrir um novo modelo para regiões tropicais úmidas com florestas.

“A não existência de um país tropical desenvolvido nos faz procurar desenvolver a Amazônia com parâmetros que não funcionam para regiões tropicais. Não está funcionando na Amazônia, nos países tropicais africanos, nem nos do sudeste da Ásia. Como aproveitar a riqueza natural dessas regiões, principalmente da biodiversidade, trazendo valor econômico à floresta? Isso ninguém descobriu ainda no mundo, precisa ser inventado.”

Nobre reconhece que o Brasil está atrasado nesse debate, pelo menos desde os anos 70, quando o regime militar decidiu integrar a Amazônia ao resto do país, com a abertura de estradas como a Transamazônica e o incentivo à colonização agrária.

“No momento em que se decidiu integrar economicamente a Amazônia ao resto do Brasil, não se pensou na possibilidade de que existia um outro modelo, que se baseasse na riqueza da biodiversidade. Os planejadores militares pensaram na Amazônia como a extensão de um modo de desenvolvimento agrícola que existia no resto do Brasil. Era um modelo inimigo da floresta, vista como um obstáculo ao desenvolvimento.”

Segundo o pesquisador do Inpe, o combate ao desmatamento ilegal não vai causar grande impacto econômico na região, como alegam os madeireiros, porque os dois maiores contribuintes à economia são a Zona Franca de Manaus e a exploração mineral, principalmente minas de ferro.

“A madeira e a pecuária são importantes para o PIB [Produto Interno Bruto], mas muito menores. O que se quer é que uma parte das áreas já desmatadas seja convertida para a agricultura moderna, que produz quatro vezes mais, com a metade da área desmatada.”

De acordo com o diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Gilberto Câmara, devem ser divulgados nos próximos dias os últimos dados sobre o desmatamento na Amazônia. Ele não quis adiantar quais são os resultados do levantamento, correspondente ao mês de janeiro. Durante evento no Rio de Janeiro, disse apenas que estão sendo feitas as análises finais dos dados e prometeu liberar as informações ainda no início deste mês.

 

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