Terça-feira, 26 de novembro de 2024 | Porto Velho (RO)

×
Gente de Opinião

Meio Ambiente

Amazônia: Crise dá uma trégua...



Amazônia: Crise dá uma trégua... mas, só no começo

Por Mario Osava, da IPS 

A recessão ou desaceleração econômica mundial, que resultará da crise financeira originada nos Estados Unidos, pode produzir benefícios ambientais no curto prazo, com redução do consumo energético e do desmatamento amazônico, mas os efeitos podem ser negativos mais adiante. Uma demanda menor de produtos agropecuários e a conseqüente queda dos preços, especialmente se isso ocorrer com a carne bovina e a soja, diminuiria a pressão sobre a Amazônia brasileira, disse Paulo Barreto, pesquisador do Instituto do Homem e do Meio Ambiente da Amazônia (Imazon).

A expansão da pecuária, que necessita de extensas terras baratas, é a principal causa direta do desmatamento amazônico, fonte de 75% dos gases causadores do efeito estufa emitidos no Brasil. A soja, outros cultivos e a extração de madeira também fazem parte deste processo de danos à natureza. O acompanhamento do Imazon mostra que no último ano amazônico, de agosto a julho, diminuiu o desmatamento em 6%, em relação aos 12 meses anteriores. Para isto foi decisiva a forte redução em junho e julho, meses em que normalmente a atividade predadora das florestas aumenta aproveitando a estiagem.

Barreto disse à IPS que esta queda já pode indicar algum efeito da crise econômico-financeira mundial, mas, o mais provável é terem dado resultado as medidas do governo federal, especialmente a restrição ao crédito para fazendeiros que não cumprem normas ambientais e territoriais. Um freio na economia mundial diminuiria o uso de recursos naturais, a contaminação e a perda de biodiversidade, mas não se pode garantir que se aproveitará a oportunidade para sustentar essa tendência no futuro, acrescentou.

Por um lado as dificuldades econômicas estimulam a busca por eficiência, mas também pode fazer com que a indústria, por exemplo, rejeite custos adicionais para conter sua contaminação, disse Barreto. Assim, o meio ambiente perderia prioridade diante do esforço para recuperar a economia. A escassez de capital também pode “retardar a renovação tecnológica, prorrogando a utilização de tecnologias obsoletas”, enquanto o barateamento do petróleo levaria ao abandono dos esforços para sua substituição por fontes energéticas mais sustentáveis, disse, por sua vez, Roberto Smeraldi, diretor da organização não-governamental Amigos da Terra/Amazônia Brasileira.

Mas há fatores positivos imediatos e também duradouros na crise. O fato de haver “menos dinheiro fácil” obrigará o mundo a valorizar a eficiência e “retirar recursos de projetos que só se justificavam pela suposta abundância de liquidez”, disse Smeraldi à IPS. O ativista entende que mais regulamentação no sistema financeiro leva a “mais controle social e responsabilidade também na questão ambiental”. Além disso, destacou a previsível redução do ritmo de extração mineral e da agricultura de exportação. As crises financeira e ambientam têm a mesma origem, que é “a externalização e dispersão de passivos, sejam dívidas não pagas ou contaminação e resíduos”.

Os impactos da crise financeira na mudança climática serão “heterogêneos e contraditórios”, resumiu à IPS Eduardo Viola, professor de relações internacionais da Universidade de Brasília. “A contração radical da liquidez mundial” também reduzirá os investimentos em “energia não-carbônica”, Comissão Européia a eólica, solar e os biocombustíveis, tornando “mais lenta a revolução energética”, pois perde o grande estímulo como os altos preços do petróleo, ressaltou.

O carvão também terá de ser mais usado diante da escassez de crédito que dificultará a construção de centrais hidrelétricas em países que, como China e Índia, necessitam ampliar suas fontes de energia para manter a expansão econômica, disse Viola. A crise não é boa para a questão climática, embora coloque um freio no aumento das emissões dos gases causadores do efeito estufa, porque “congela a situação”, adiando políticas de mitigação para não perder empregos, acrescentou.

Como positivo para o futuro, este professor destaca que a sacudida que a humanidade está sofrendo pode “mudar mentalidades e valores”, pondo em questão o “hiperconsumismo, o modo de vida consumista e imediatista”, a favor de uma sustentabilidade maior. Mas, o momento ainda é de muita incerteza e tudo dependerá de o mundo escolher a cooperação para uma nova governabilidade financeira, que teria efeitos positivos também na área ambiental, ou se a adoção será pelo conflito, concluiu. (IPS/Envolverde)

Fonte: Envolverde/IPS

Gente de OpiniãoTerça-feira, 26 de novembro de 2024 | Porto Velho (RO)

VOCÊ PODE GOSTAR

Rondônia é líder em controle de desmatamento na Amazônia Legal, destaca Ministério do Meio Ambiente

Rondônia é líder em controle de desmatamento na Amazônia Legal, destaca Ministério do Meio Ambiente

O Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, do Governo Federal, publicou nesta semana levantamento que mostra os índices de desmatamento em to

Operação “Silentium et Pax” do Batalhão de Polícia Ambiental reprime poluição sonora em Porto Velho

Operação “Silentium et Pax” do Batalhão de Polícia Ambiental reprime poluição sonora em Porto Velho

Em uma ação estratégica para garantir o sossego e a qualidade de vida da população, o Batalhão de Polícia Ambiental (BPA) deu andamento à Operação “

Cremero implanta práticas internas entre colaboradores para incentivar a sustentabilidade

Cremero implanta práticas internas entre colaboradores para incentivar a sustentabilidade

Como órgão público, é dever garantir que as atividades e decisões impactem positivamente a sociedade e o meio ambiente. Esta é uma das premissas que

Porto de Porto Velho faz reconhecimento de pontos críticos no Rio Madeira

Porto de Porto Velho faz reconhecimento de pontos críticos no Rio Madeira

Com o objetivo de fazer o reconhecimento visual de pontos críticos do Rio Madeira, a diretoria do da Sociedade de Portos e Hidrovias do Estado de Ro

Gente de Opinião Terça-feira, 26 de novembro de 2024 | Porto Velho (RO)