Quarta-feira, 9 de abril de 2008 - 16h47
Amazônia perdeu 320 mil campos
de futebol em 2007, diz o governo
MONTEZUMA CRUZ
montezuma@agenciaamazonia.com.br
BRASÍLIA – Com paciência e didática, o diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Gilberto Câmara Neto, explicou finalmente nesta quarta-feira na Câmara dos Deputados o Projeto de Estimativa de Desflorestamento da Amazônia (Prodes), que monitora a Amazônia por três satélites. Segundo dados divulgados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) em janeiro deste ano, o desmatamento na região amazônica, entre agosto e dezembro de 2007, foi de 3.235 quilômetros quadrados, o equivalente a cerca de 320 mil campos de futebol.
A maior parte dos desmatamentos detectados no período se concentrou em Mato Grosso (53,7%), Pará (17,8%) e Rondônia (16%). Entre as causas apontadas pelo instituto para o aumento das áreas desmatadas, estão a seca prolongada e uma possível influência do avanço da produção de soja e da pecuária nas regiões.
Durante audiência pública sobre o desmatamento na Amazônia, ele dividiu-o em duas grandes modalidades: corte raso, ou corte e queima – método largamente usado nas décadas de 1970 e 1980, por ser rápido – e degradação progressiva, que vem ocorrendo desde o fim da década de 1990. Nesse aspecto, o desmatamento começa com a extração seletiva de madeira, depois se sucedem as queimadas, em seguida a semeadura do pasto, até o corte total da vegetação. "O processo se tornou conhecido por engana satélite, já que os produtores da área acreditavam ser possível fugir da fiscalização", comentou.
O plenário 2 lotou e não houve lugares para acomodar tantos assessores e ambientalistas. A audiência foi promovida pelas comissões de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural; de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável; e da Amazônia, Integração Nacional e de Desenvolvimento Regional.
Maior eficácia
O Inpe monitora o desmatamento desde 1988, época em que seus técnicos interpretavam visualmente as imagens. O Prodes representa o maior avanço até hoje conquistado e vem sendo consultado diariamente por europeus e asiáticos. Ele revela as taxas anuais de desmatamento por corte raso.
Em março de 2004, o governo lançou o Plano de Prevenção e Combate ao Desmatamento Ilegal na Amazônia e solicitou ao Inpe a criação de um sistema que monitorasse com mais eficácia que o corte raso da floresta. Veio então o Sistema de Detecção em Tempo Real (Deter), que emite sistema de alerta sobre focos de desmatamento. "Tentamos ver o desmatamento desde o seu início. Quanto mais cedo formos informados, mais fácil deter o processo", disse.
Restrição a créditos
Mesmo com os dados do Inpe, o secretário-executivo do Ministério do Meio Ambiente, João Paulo Capobianco, não quis prever se haverá aumento no desmatamento na Amazônia em 2008. Preferiu afirmar que "nenhum frigorífico, nenhuma serraria, nenhum produtor de ferro-gusa poderá dizer que não sabe que está comprando matéria-prima de área irregular". E advertiu: "Se ele for identificado, poderá ser co-responsablizado pelo desmatamento".
Capobianco disse também que o governo determinou a co-responsabilização da cadeia produtiva com a criação, no site do Ibama, da lista das propriedades embargadas. Mencionou decretos editados em dezembro pelo governo federal para conter o desmatamento na Amazônia. Um desses decretos vincula a concessão do crédito rural à comprovação de adimplência ambiental a partir de julho deste ano. Outro prevê o embargo obrigatório das áreas onde for constatado desmatamento ilegal. "Queremos com isso garantir a punição efetiva dos infratores", disse.
O secretário lembrou que, dos R$ 3 bilhões de multas aplicadas, apenas um valor irrisório foi recolhido. Queixou-se da "indústria montada para recorrer contra as notificações".
Depois do anúncio dos dados do desmatamento, o governo anunciou medidas para conter o desmatamento, no entanto, em fevereiro o Sistema de Detecção em Tempo Real (Deter) voltou a detectar aumento das áreas desmatadas. Em apenas um mês (fevereiro), a área desmatada foi de 725 Km quadrados. O número representa um crescimento de 13% em relação ao mês de janeiro.
O Deter é um sistema de monitoramento da Amazônia por satélites que fornece dados sobre a cobertura vegetal da região. A consolidação dos dados é feita por outra metodologia, o Prodes, que define as taxas de desmatamento.
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