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AMAZÔNIA: O Efeito La Niña



Chuvas elevam drasticamente o nível dos rios Negro e Solimões e castigam cidades do Amazonas - em junho ocorrerá a maior cheia dos últimos 50 anos

Luciana Sgarbi


Um centímetro a mais ou a menos no nível de um rio é importante detalhe estatístico nos estudos de índices pluviométricos. Mas não faz absolutamente a menor diferença na medida do desespero e desamparo das pessoas em meio à tragédia provocada pela segunda maior cheia da história do Amazonas desde a semana passada já são pelo menos 78 cidades duramente fustigadas pelas chuvas. Segundo o Serviço Geológico do Brasil, as águas do rio Negro, que banham Manaus, devem atingir o nível de 29,68 metros dentro de dois meses, perdendo em apenas um centímetro para o nível de 1953, quando se registraram 29,69 metros um centímetro de diferença, portanto.

O Rio Negro começa na Colômbia, o Solimões, no Peru. Ambos serpenteiam, separadamente, o coração do Brasil em 1,7 mil quilômetros até chegarem a Manaus e se unirem. Nasce então o rio Amazonas. Eles são essenciais para a região Norte do País: Solimões, Negro e Amazonas se estendem como fontes de alimento, meios de transporte, vias de comércio e locais de lazer e turismo. 

Mas os mesmos rios que acolhem podem desabrigar, e é essa triste realidade, a do desabrigo e desespero, que estão vivendo os moradores de 62 municípios que entraram em estado de alerta e de outros 16 já arrasados pelas violentas chuvas na quinta-feira 2, o nível desses rios estava, em média, na assustadora casa dos 27,46 metros. E não vai parar de estachover, o que significa que o rio Amazonas e suas fontes não vão parar de transbordar e alagar e destruir.

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Isso a população regional sabe e os meteorologistas também. A Defesa Civil contabilizava na noite da quartafeira 1º cerca de 200 famílias desabrigadas, 5,6 mil pessoas desalojadas e quase 30 mil casas destruídas. Centenas de policiais compunham as equipes de salvamento e o mais essencial, que pode soar estranho para quem habita outras regiões do País, era a doação de madeira para sustentação e elevação de moradias: está-se falando das palafitas. Os municípios mais castigados no Amazonas localizam-se na calha do rio Solimões, como Benjamin Constant, Atalaia do Norte e Tabatinga. Mas também em Roraima, no Maranhão, Amapá e Pará as enchentes já começaram.

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SUFOCO Em Tabatinga, o desespero de quem procurava se proteger da inundação

A Defesa Civil contabilizava na noite da quarta-feira 1º cerca de seis mil pessoas desalojadas e quase 30 mil casas destruídas. Segundo especialistas, após a cheia de junho virá uma forte seca

A situação de desespero, sobretudo no Amazonas, agrava-se com a contagem regressiva para junho, quando, segundo disse à ISTOÉ o superintendente do Serviço Geológico do Brasil, Marco Antônio de Oliveira, a cheia chegará inevitavelmente ao seu pico. E há pouco o que fazer para evitar uma tragédia maior o andar do calendário e os rios estão por conta da natureza. "Até junho o nível das águas subirá ainda mais. Esse é um fenômeno extraordinário e que ocorre ciclicamente", disse à ISTOÉ o chefe do Instituto Nacional de Meteorologia, Expedito Ronald Gomes Rebello.

A influência do resfriamento do oceano Pacífico, conhecido como La Niña, altera a circulação dos ventos e causa uma atuação maior das frentes frias.

"Chuvas anormais", diz ele, "desabam então sobre o Amazonas". Rebello ressalta que por meio de dados estatísticos percebe-se que de tempos em tempos há uma grande mudança na temperatura do oceano Atlântico, esfriando e aquecendo a temperatura da água. A alta temperatura, que corresponde à fase atual, aumenta a umidade e provoca a incidência de mais tempestades. E, depois delas, nada de "bonança climática" para a população da região. As águas somem. Mas vem a seca, violenta seca. Motivo: "haverá radical inibição na formação de nuvens", diz Oliveira.

Fonte: revista ISTOÉ

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