Sexta-feira, 30 de novembro de 2007 - 10h38
Marília Juste - A Amazônia pode ajudar a proteger a América do Sul das mudanças climáticas e ainda mitigar os efeitos do aquecimento global no resto do mundo -- desde que não seja desmatada. O alerta vem de um artigo publicado na revista especializada “Science” por um grupo internacional de cientistas, que inclui o brasileiro Carlos Nobre. Na mesma edição da revista, outro texto, de uma dupla européia de pesquisadores, critica o funcionamento do órgão da ONU que trata das mudanças climáticas.
Só neste século, a temperatura na Amazônia deve subir, em média, 3,3ºC. Esse elevação deve aumentar a seca em algumas regiões, principalmente no leste e no sudeste da floresta (região de Mato Grosso), onde o desmatamento é mais intenso. A área de maior biodiversidade, no entanto, no noroeste, seria também a menos afetada pelo calor.
Além disso, os pesquisadores acreditam que a floresta é mais resistente à elevação das temperaturas do que parece, graças às suas profundas raízes.
Esses dois fatores combinados ao importante papel que a Amazônia possui na determinação da temperatura global (apenas a perda da cobertura vegetal, por exemplo, sem contar os gases de efeito estufa, já seria o suficiente para elevar os termômetros no mundo) fazem os cientistas acreditam no fator “protetor” da floresta contra o aquecimento. Se chamar de “pulmão do mundo” é exagero, os pesquisadores defendem que o ciclo de condensação e evaporação na Amazônia são “os motores da circulação atmosférica global”.
Isso só vai dar certo, é claro, se a floresta não for desmatada. A derrubada de árvores e a fragmentação causadas pelas atividades humanas fazem o calor subir, a chuva diminuir e todo o sistema ruir. Como é impossível conter totalmente a transformação de floresta em área para agricultura e pasto, os pesquisadores sugerem a elaboração de um plano.
O primeiro passo seria manter o desmatamento no mínimo necessário, muito abaixo de um número que afetasse o clima da região. O segundo, controlar o uso do fogo através da educação da população e de leis. O terceiro, manter corredores de mata nativa para a migração das espécies; o quarto, proteger os rios para que eles sirvam como “refúgios de umidade”. Por fim, manter o “núcleo” da Amazônia, aquele mais resistente ao calor e com a maior biodiversidade, intacto.
Isso, acreditam os cientistas, ajudaria não apenas a contar o aquecimento global, mas também daria chances para as espécies locais se adaptarem ao aumento das temperaturas.
IPCC
Em outro artigo na mesma “Science”, Frank Raes, do italiano Instituto para Meio Ambiente e Sustentabilidade, e Rob Swart, da holandesa Agência de Avaliação Ambiental, defendem que o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), da ONU, precisa mudar seu funcionamento. Para os pesquisadores, o órgão é muito lento para acompanhar a velocidade das políticas que serão necessárias para controlar o aquecimento global.
Desde 1990, o IPCC já produziu quatro grandes relatórios científicos sobre o problema. Neste ano, um resumo (que de resumido não tinha nada) de todos os problemas envolvidos na questão cravou que a culpa das mudanças climáticas está, sim, na atividade humana. Um avanço incontestável, mas que marca também, para Raes e Swart, o momento do órgão mudar de cara e ficar mais ágil.
Para a dupla, a emergência do problema faz ser impossível esperar mais cinco ou seis anos até o próximo estudo. “A distância entre aqueles focando em políticas e aqueles focando na ciência básica está diminuindo”, diz o texto. Agora, em vez de elucidar qual é o problema, o IPCC precisa trabalhar em como resolver o problema.
Fonte: G1 - De olho no tempo
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