Quarta-feira, 21 de fevereiro de 2024 - 12h05
Mais de R$ 316 milhões terão que ser pagos pelos responsáveis por
desmatamentos ilegais identificados pelo Ministério Público Federal
(MPF) na Amazônia brasileira, de 2017 para cá. Esse é o valor das
indenizações impostas até agora pela Justiça Federal aos condenados nas
ações civis públicas ajuizadas pelo MPF, no âmbito do projeto Amazônia Protege.
Os valores buscam reparar os danos materiais e morais causados ao meio
ambiente e à coletividade. O projeto utiliza a tecnologia de
monitoramento por satélite para identificar e responsabilizar na esfera
civil os autores de desmatamentos ilegais na Floresta Amazônica, no
intuito de reparar danos e preservar o bioma.
As
três fases do projeto já desenvolvidas resultaram no ajuizamento de
mais de 3,5 mil ações contra os responsáveis pela retirada irregular de
vegetação em áreas superiores a 60 hectares, registradas pelo Projeto de
Monitoramento do Desflorestamento na Amazônia Legal (Prodes/Inpe) entre
agosto de 2015 e dezembro de 2019. Desse total, 656 processos já
tiveram sentença favorável ao MPF e 732 réus foram condenados em
primeira instância a pagar indenizações, além de reparar os danos
causados pela remoção ilegal de floresta. Mais de 73 mil hectares de
mata deverão ser reflorestados, o que equivale a quase 68 mil campos de
futebol.
No âmbito do projeto, a Justiça também deu decisões favoráveis em 138 processos com réus incertos –
quando não foi possível identificar na fase pré-processual a pessoa
responsável pelo desmatamento. Nesses casos, o MPF ajuíza a ação com o
objetivo de embargar as áreas desmatadas ilegalmente, impedir a grilagem
e evitar a regularização fundiária. A medida também assegura aos órgãos
de controle e fiscalização a possibilidade de apreender, retirar e
destruir qualquer bem móvel ou imóvel existente na área desmatada, que
esteja impedindo a recuperação da floresta.
"Os
resultados alcançados são bastante positivos, com uma quantidade
significativa de sentenças condenatórias, o que contribui para reduzir a
sensação de impunidade e o desmatamento irregular na Amazônia”, avalia o
coordenador do projeto, o procurador da República Daniel Azeredo. Ele
explica que as indenizações obtidas pelo MPF nas ações – R$ 220,9
milhões em danos morais coletivos e R$ 96 milhões por danos materiais
decorrentes da remoção da cobertura vegetal – serão destinadas ao Fundo
de Defesa de Direitos Difusos, para financiar ações de fiscalização e
preservação do meio ambiente.
Segundo
o coordenador do projeto, várias áreas já estão em processo de
recuperação, mesmo com a ação judicial ainda não julgada em definitivo.
“Isso mostra que a simples propositura de uma ação civil pública pelo
MPF gera resultados. Esperamos ganhar força nessa atuação contra a
criminalidade ambiental. Na medida em que as ações forem sendo
executadas e que as sentenças forem cumpridas, haverá uma redução
significativa do desmatamento ilegal na região”, pontua. Das ações já
julgadas com decisão favorável aos pedidos do MPF, 66 estão em fase de
cumprimento de sentença. Além disso, o Ministério Público apresentou
recurso em 628 processos.
Projeto - As
informações fazem parte do balanço divulgado pela Câmara de Meio
Ambiente e Patrimônio Cultural do MPF (4CCR), que coordena o Amazônia Protege.
A iniciativa também conta com a parceria do Instituto Brasileiro de
Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), do Instituto
Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e da Universidade
Federal de Lavras (UFLA).
A
caminho de sua 4ª fase, a iniciativa já envolveu, desde 2017, 39
procuradores da República com atuação na Amazônia Legal, além de 212 servidores e estagiários.
Com base em laudos periciais produzidos a partir da análise de imagens
de satélite e do cruzamento das informações com bancos de dados
públicos, as ações propostas pelo MPF cobram indenização pelos danos
causados e reparação das áreas desmatadas em todos os nove estados da
Amazônia Legal: Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Pará,
Rondônia, Roraima e Tocantins.
O
projeto também mantém um mapa interativo para consulta pública na
internet, com a coordenada geográfica das áreas desmatadas que são alvos
das ações civis públicas, ainda que o responsável pela terra não tenha
restrições de cadastro. O objetivo é possibilitar a rápida consulta
dessas propriedades, para que os órgãos públicos possam identificar as
áreas irregulares antes de fornecer documentação fundiária. A ideia é
que frigoríficos, supermercados e outras empresas também possam usar as
informações, para não comprarem produtos provenientes dos locais
devastados de forma ilegal, deixando de alimentar uma cadeia produtiva
predatória. Saiba como funciona o projeto.
Em janeiro deste ano, com o propósito de impulsionar o Amazônia Protege, foram implantados dez novos ofícios especiais vinculados à 4CCR para
atuar no projeto. Os procuradores titulares são responsáveis por propor
novas ações civis públicas no âmbito da iniciativa, além de acompanhar e
dar o devido encaminhamento aos processos já existentes, inclusive
celebrando acordos nas situações cabíveis. Os membros também participam
de reuniões com os demais integrantes do projeto e com parceiros
externos, com o objetivo de colaborar para o contínuo aperfeiçoamento da
iniciativa.
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