Sábado, 2 de junho de 2012 - 16h02
Rio de Janeiro – O Rio é uma das poucas cidades no mundo que pode se orgulhar de ter uma grande floresta em sua área urbana. Mas ela pode estar com os dias contados. O avanço das favelas e da especulação imobiliária está aos poucos mudando a imagem da cobertura vegetal da cidade que tem na Floresta da Tijuca o seu símbolo maior. Nos últimos 30 anos a cidade perdeu pelo menos 6,7 mil hectares de cobertura vegetal. De 39.802 hectares, em 1984, restavam 33.008 hectares em 2001, último dado disponível, o que representou uma perda de 17% de área verde.
Os números são da própria prefeitura e podem ser acessados no endereço www.armazemdedados.rio.rj.gov.br, no link Estatísticas. Com a diminuição de suas áreas verdes, o índice de vegetação por habitante caiu ainda mais: em 1984 o carioca dispunha de 76,11 metros quadrados de cobertura vegetal por habitante, número que despencou para 56,28 metros quadrados em 2001, uma queda de 26%.
Embora a cidade ainda disponha de um índice invejável de área verde por habitante - cinco vezes superior ao mínimo sugerido pela Organização das Nações Unidas (ONU), de 12 metros quadrados por pessoa – a vegetação não é igualmente distribuída na região urbana. Enquanto alguns bairros próximos à Floresta da Tijuca têm 78% de cobertura por vegetação, como é o caso da Tijuca, outros bairros da zona norte têm apenas 6,5% de cobertura verde, como a Penha, onde estão localizados os complexos do Alemão e da Penha. No bairro, a taxa de urbanização chega a 93%.
A área verde urbana diminuiu no sentido oposto ao do crescimento das favelas e das construções de casas e edifícios. Segundo dados da prefeitura carioca, da área total da cidade, calculada em 122.456 hectares, a área urbana passou de 33.749 hectares, em 1984, para 42.023 hectares, em 2001, representando um crescimento de 24%.
Em outra série histórica disponível, é possível constatar o explosivo crescimento populacional da cidade desde 1960, especialmente nas favelas, onde a população mais que triplicou em 40 anos. Em 1960, os residentes em favelas eram 335.063, segundo estatísticas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No ano 2000, a população favelada chegava a 1.092.476.
Na cidade regularizada, também chamada de “asfalto”, houve igualmente forte crescimento populacional nesse intervalo, passando de 1.910.145 de habitantes, em 1960, para 4.765.428, em 2000. O resultado, aliado à falta de políticas habitacionais com a extinção do Banco Nacional de Habitação (BNH), em 1986, foi a expansão descontrolada do setor habitacional, empurrando famílias morro acima e rumo às áreas verdes em bairros distantes, em locais que originalmente abrigavam matas nativas.
Para a diretora de Gestão do Conhecimento da Fundação SOS Mata Atlântica, Márcia Hirota, o que ocorreu no Rio nas últimas décadas é um retrato do que aconteceu nas demais capitais e grandes cidades do país. Segundo ela, o esforço de muitas prefeituras com políticas de reflorestamento e retirada de invasores ainda é pouco diante do tamanho do problema.
“Apesar de haver esforço de muitas prefeituras em combater esses desmatamentos, com políticas de reflorestamento e retirada de invasores, as ações ainda estão abaixo do necessário. É uma situação complicadíssima no país todo, envolvendo falta de gente e estrutura para fiscalização.”
A diretora do SOS Mata Atlântica considera que falta planejamento às prefeituras para se antecipar às invasões de áreas verdes. “O Poder Público está sempre atrasado, vai lá para multar ou combater um dano que já ocorreu. Não consegue fazer um trabalho de monitoramento para que a coisa não aconteça”, disse.
Como consequência disso, Márcia Hirota aponta as tragédias ambientais, que acometem milhares de famílias todos os anos, atingidas por enchentes e deslizamentos a cada período de chuva. “As ocupações e invasões ocorrem em áreas inadequadas, não só em capitais, mas em qualquer cidade. Aí quando acontecem deslizamentos e inundações, com perdas de vidas, a gente fica lamentando. Mas a culpa é do Poder Público, que não faz esse planejamento e não retira as pessoas em áreas impróprias, que a legislação não permite. Aí quando acontece uma tragédia, todos ficam indignados”, ressaltou.
Para a ambientalista, a saída é a participação da sociedade, pressionando as autoridades e apontando desrespeitos ao meio ambiente. “É preciso o cidadão denunciar casos de agressão à natureza, em um esforço coletivo. É mais barato evitar que as pessoas ocupem áreas inadequadas do que fazer um trabalho posterior para recuperar a natureza”, alertou.
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