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Meio Ambiente

CHICO MENDES: Idéias de seringueiro ainda influenciam


 
Elizabeth Begonha e Luana Lourenço
Repórteres da EBC
  

Brasília - Em 22 de dezembro de 1988, um tiro de espingarda matou Francisco Alves Mendes Filho, o Chico Mendes, que de líder sindical e seringueiro transformou-se em ícone da preservação da Amazônia. Vinte anos depois da morte, suas idéias ainda influenciam as políticas públicas para o desenvolvimento sustentável.

Precursor do ambientalismo brasileiro, Chico Mendes nasceu e viveu nos seringais de Xapuri, no Acre. “Ele sempre foi um menino pacífico, de natureza boa. Era sabido na leitura, muito inteligente. Tudo para ele era na calma”, lembra a tia, Cecília Mendes.

Conhecedor da floresta, Chico Mendes defendia o direito à exploração dos recursos naturais, mas sem o esgotamento. A preocupação com a sustentabilidade é uma das lembranças do primo e companheiro de resistência, Sebastião Teixeira Mendes. “Ele dizia: 'Tião, é o seguinte: eu botei na minha cabeça que a gente tem que preservar', aí saiu pelo mundo com essa história de preservar. Mas sempre voltava, não esquecia daqui”.

A luta contra a transformação da floresta em pasto para criação de gado, intensificada a partir do fim da década de 1970, deu visibilidade à luta dos seringueiros do Acre, que ganharam os jornais nacionais e internacionais com os chamados empates, ocasiões em que grupos de trabalhadores formavam barreiras humanas para impedir o trabalho das motosserras.

Cunhada do ambientalista, Deusamar Mendes lembra que os empates reuniam homens, mulheres e até crianças contra o desmatamento. “Quando se sabia que ia ter uma derrubada, um vizinho avisava o outro, marcava um lugar para todos se encontrarem. Ia todo mundo e chegava-se no local da derrubada, improvisava barracas de lona e avisava que eles teriam que parar a derrubada e sair pacificamente. Sabíamos que eram trabalhadores, mas dizíamos que aquilo não era um meio de sobrevivência; iam atrapalhar a vida de muitos outros”, relata.

À frente dos trabalhadores da floresta, Chico Mendes assumiu a secretaria do Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR) de Brasiléia e em seguida fundou o STR em Xapuri. Dirigiu a Central Única dos Trabalhadores no Acre, foi vereador pelo MDB e participou da fundação do PT no estado, junto de nomes como a senadora Marina Silva e o atual governador do Acre Binho Marques.

“As questões ambientais passaram a ser debatidas dentro do movimento sindical a partir do envolvimento e da atuação direta do Chico”, disse o vice-presidente do Conselho Nacional dos Serigueiros, Júlio Barbosa. Em 1987, foi o primeiro brasileiro a receber o prêmio Global 500, da Organização das Nações Unidas (ONU).

Com os empates e a repercussão internacional da luta dos povos da floresta pela preservação da Amazônia, Chico Mendes passou a conviver com as ameças de políticos e fazendeiros da região, tanto que chegou a enviar para autoridades locais uma relação de nomes de possíveis algozes. Os nomes de Darly Alves e do filho Darci, condenados pelo assassinato, estavam na lista.

“Pistoleiros sempre ameaçavam: telefonavam, deixavam recados embaixo da porta. Um desses dizia assim: 'o seu fim está próximo, você vai ter um belo Natal'. Foi uma morte anunciada, que o Chico avisou ao mundo inteiro”, lembra Deusamar.

O fazendeiro Darly Alves e o filho Darcy foram apontados como mandante e autor, respectivamente, da morte de Chico Mendes. Em 1990, os dois foram condenados a 19 anos de prisão pela morte do seringueiro. Fugiram da prisão em Rio Branco, em fevereiro de 1993, e só foram recapturados três anos depois. Em setembro deste ano, a Justiça concedeu o direito de prisão domiciliar para Darly, que hoje tem 71 anos.
 

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