Domingo, 16 de setembro de 2007 - 17h23
Chuva, vento, raio e granizo atingem mais uma vez interior de Rondônia. Após o mais severo período de estiagem já registrado no Estado, as primeiras chuvas retornam à Rondônia com muita severidade. Na madrugada desse domingo, tempestades violentas de raios, ventos fortes e granizo atingiram diversos municípios. Nos próximos dias, a previsão de temporal localizado se mantém.
Daniel Panobianco – Novas tempestades ocorreram em Rondônia nas últimas 24 horas, com tormentas bastante severas, porém normais para esta época do ano. Chuvas fortes, acompanhadas de raios, rajadas de ventos e precipitação de granizo foram observadas e relatadas entre Costa Marques e Guajará-Mirim, na tarde de sábado e em uma vasta área entre Ji-Paraná, Ouro Preto d’ Oeste e Vale do Paraíso, no inicio da madrugada deste domingo.
O excesso de calor e a presença de umidade em níveis médios da atmosfera têm sido ponto crucial para o desenvolvimento de nuvens supercarregadas, as chamadas cumulunimbus ou CBs. São nuvens que se diferenciam das demais por terem desenvolvimento totalmente vertical, com grande altitude. Normalmente, os CBs nascem a 2 km do solo e se estendem até 12 km de altitude. Em seus topos, a temperatura chega até a 80°C negativos, com total resfriamento das partículas de água e formação de cristais de gelo. Essas nuvens são normais em Rondônia nesta época de ano e na maioria das vezes são responsáveis pelos grandes aguaceiros de fim de tarde, quando o céu escurece de uma hora pra outra.
Um grande aglomerado de CBs foi observado ontem por volta das 15 horas na região de Costa Marques. Houve registro de chuva forte, localmente severa em alguns pontos, com grande incidência de raios e rajadas de ventos superiores a 70 km/h. Na região de Forte Príncipe da Beira, ainda em Costa Marques, a população local confirmou o que os satélites já haviam relatado; a precipitação de granizo.
Não demorou muito e a célula de tempestade cresceu de tal forma, que em menos de duas horas o sistema já atingia quase todo o município de Guajará-Mirim e parte de Campo Novo de Rondônia e Nova Mamoré. Na região, também ocorreram fortes pancadas de chuva, com raios e rajadas de ventos. No lado boliviano, a cidade de Guayaramerim registrou densa precipitação de granizo no interior do município, com acumulação de pedras no solo, segundo informações do Serviço Meteorológico da Bolívia.
No final da noite de sábado e inicio da madrugada deste domingo, nuvens muito carregadas cresceram rapidamente sobre o centro de Rondônia e norte de Mato Grosso provocando também temporais localizados. A chuva chegou a Ji-Paraná às 00h15min, com grande incidência de raios e rajadas de ventos de 72 km/h, segundo informações do aeroporto José Coleto e da plataforma meteorológica da ANA (Agência Nacional de Águas), instalada às margens do rio Machado, na Zona Norte da cidade.
Na zona urbana, galhos de árvores caíram sobre a fiação elétrica interrompendo o fornecimento de energia por alguns minutos. As diversas obras de drenagem da prefeitura ficaram mais uma vez submersas devido ao montante de água acumulada. Na cidade, o volume de chuva registrado das 00h15min às 01h45min chegou a 25 milímetros, cerca de 25% de todo o volume de chuva esperado para o mês de setembro na região.
A mesma linha de tormentas que atingiu Ji-Paraná seguiu para noroeste atingindo o interior dos municípios de Ouro Preto d’ Oeste e Vale do Paraíso. Entre a rodovia RO-470, que liga os dois municípios, também houve registro de precipitação de granizo por alguns momentos.
Em todos os acontecimentos pelo interior do Estado, não houve registro de vitimas, segundo dados do Corpo de Bombeiros de cada cidade.
Precipitação de granizo com pedras ainda não derretidas acumuladas no solo. Calor noturno de 27°C contribuiu para a ocorrência do fenômeno.
A ocorrência de chuvas fortes no inicio e término do período chuvoso no Estado é normal. Temporais localizados que ocorrem normalmente entre o final da tarde e inicio da madrugada, período máximo de liberação de calor na atmosfera, são mais freqüentes agora entre setembro e novembro. Mas um fato chama a atenção pela seqüência registrada nos últimos dias, a precipitação de granizo.
Entenda como ocorre o fenômeno da atmosfera:
O granizo (ou saraiva) é uma forma de precipitação, composta por pedras sólidas de gelo que podem medir 5 mm ou ser do tamanho de uma laranja. Em muitas partes do mundo, é comum a tempestade com pedras de gelo do tamanho de uma bola de ténis.
O granizo forma-se quando pequenas partículas de gelo caem dentro das nuvens, recolhendo assim a umidade. Essa umidade se congela e as partículas são levadas para cima novamente pelas correntes de ar, aumentando de tamanho. Isso acontece várias vezes, até que a partícula se transforma em granizo, que tem o peso suficiente para cair em direção à terra.
À medida que os cristais de gelo caem através de uma nuvem contendo gotículas de água superesfriadas, estas podem congelar em cima deles por um processo de acumulação (acreção). As partículas que resultam desse processo eventualmente chegam ao solo se as temperaturas forem muito baixas (cerca de 8°C ou menos).
Ao caírem, crescem de novo por acumulação até chegarem à base da nuvem e algumas voltam então a ser transportadas para o topo pelas correntes ascendentes de ar. Este ciclo pode-se repetir várias vezes e os grânulos resultantes vão crescendo camada a camada.
Quanto mais fortes forem as correntes ascendentes, mais vezes este ciclo se repetirá para cada grânulo e mais ele crescerá. Quando um grânulo se torna demasiado pesado, cai da nuvem e acelera sob a ação da gravidade em direção à superfície.
Mesmo que a temperatura do ar esteja relativamente elevada, os grânulos não chegam a derreter porque o tempo curto em que atravessam o ar quente debaixo da trovoada não é suficiente para derreter antes de cair no solo. Por isso, o que acaba por cair na superfície são grânulos de gelo, no estado amorfo, que se precipitam com violência no solo - o chamado granizo.
Os granizos grandes podem estragar as plantações, furar tetos, amassar carros e quebrar pára-brisas. O recorde das maiores pedras de granizo foi alcançado em Bangladesh, durante uma tempestade que matou 792 pessoas. As pedras de gelo pesavam quase 5 kg e caiam com velocidades próximas de 150 metros por segundo. Ninguém soube explicar tal evento, que ainda hoje causa muita discussão entre os especialistas.
Normalmente, chuvas de granizo ocorrem quando há forte levantamento vertical do ar quente, dentro das nuvens CBs. Um estudo feito pela USP (Universidade de São Paulo) sugere que, quando há grande concentração de partículas poluentes na atmosfera, as chances de ocorrência de granizo aumentam consideravelmente. Fato talvez justificável agora, pois mesmo com as chuvas registradas, a fumaça das queimadas não se dispersa de maneira alguma. Mais uma prova de como as queimadas estão severas esse ano. Está chovendo, mas mesmo assim, a poluição não sai de Rondônia.
Nos próximos dias, o tempo deve continuar muito quente em todo o Estado. Como a poluição também permanece bastante notória, a possibilidade de temporais, localmente severos em alguns pontos, não está descartada. Até mesmo quem mora mais ao norte, no caso da capital Porto Velho, pode estar preparado para um possível temporal de fim de tarde, com muito vento, raios e quiçá até granizo.
Dados: Corpo de Bombeiros/Costa Marques/Guajará-Mirim/ Ji-Paraná/Ouro Preto d’ Oeste – ANA – CEPTEC/INPE – Serviço Meteorológico da Bolívia - CLIQUE E LEIA TUDO SOBRE O TEMPO EM RONDÔNIA COM DANIEL PANOBIANCO.
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