Quarta-feira, 28 de outubro de 2009 - 18h40
O desenvolvimento como dominação da natureza é uma idéia poderosa e coloca os movimentos sociais em situação antagônica ao que é pregado como bom, moderno. Essa avaliação do pesquisador Guilherme de Carvalho, da FASE-Pará foi apresentada hoje no painel “Atual modelo de desenvolvimento: os grandes projetos como estratégia de desterritorialização dos povos tradicionais e dominação dos territórios pelo capital” durante a XVIII Assembléia Geral do Cimi, que acontece entre 27 e 30 de outubro, em Goiás.
Segundo Guilherme a criação do antagonismo desenvolvimento versus movimentos sociais posiciona diversas organizações, entre elas o próprio Conselho Indigenista Missionário, como forças que impedem, que são empecilhos ao crescimento do país, pois, a própria concepção de natureza dos povos indígenas vai contra a idéia dos países industrializados.
O progresso e o desenvolvimento acabam se apresentando como domínio da natureza e como uma missão civilizatória das nações poderosas, que entendem que o seu modelo deve ser seguido por outros países. Este modelo aparta o homem da natureza, ou seja, faz com que o homem se coloque como parte separada do meio natural e não como integrante desse meio. Também apresenta o questionamento do modelo como “ser do contra” e define que há uma linearidade do progresso, sendo a situação dos países ricos, uma meta a ser atingida – o que seria um mito, pois a própria natureza não suportaria.
Outra questão importante para o predomínio desenvolvimentista é o uso da ciência e da técnica para dar mais veracidade ao discurso. “Seria a crença de que a técnica pode nos salvar”, ressalta Guilherme. Nesse contexto, surgem as “empresas verdes”, que ressaltam sua “responsabilidade sócio-ambiental”, que fazem pesquisas científicas para tentar comprovar a sua boa relação com o meio ambiente. Com as pesquisas e a fala técnica, muitas empresas acabam se tornando mais simpáticas ao mercado consumidor.
Guilherme ressalta a capacidade dos grandes empreendimentos de se articularem nos mais diferentes níveis. “Eles tecem teias internacionais, nacionais, estaduais, municipais, etc. E é assim que nós, enquanto movimentos sociais, devemos agir. Tecendo teias, se articulando para construir parcerias em diferentes planos”, afirma. “Somente a luta política pode reverter a situação de domínio”, finaliza.
Modelo energético
Também participou da mesa, o professor Célio Bergmann, do Instituto de Energia e Eletrotécnica da Universidade de São Paulo (USP), apresentando dados sobre o modelo energético e os projetos que envolvem grandes demandas de energia em terras indígenas, em áreas protegidas e na Amazônia legal.
Segundo o professor, a população não sabe os verdadeiros números de consumo de energia e apenas ouve que é necessário construir mais hidrelétricas para aumentar a produção de energia. Mas a situação, na realidade, é diferente. De acordo com dados apresentados por Bergmann, somente as empresas de mineração, do setor energético e outros segmentos de indústria pesada consomem 48,4% da energia do país.
Pelo aumento de consumo, justificam a necessidade de construção de mais usinas hidrelétricas e, o mais preocupante, na região amazônica. Há uma visão equivocada de que o aproveitamento dos recursos hídricos gera uma energia limpa. Segundo o professor, a disseminação dessa idéia coloca a população num “beco sem saída”: ou se aceita a energia das grandes hidrelétricas, ou será necessário utilizar energia nuclear.
Célio alertou que, para a construção das hidrelétricas, tentam enfatizar que os problemas ambientais são irrelevantes e para isso, elaboram vários projetos de lei. “É necessário que a população esteja atenta e que mude o questionamento. Deve-se perguntar primeiro para quê servirá a energia; depois de que forma fazê-la”, finalizou.
Fonte: CIMI
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