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Meio Ambiente

Cuidar melhor do planeta começa antes das aulas


Aprender a cuidar melhor do planeta começa antes das aulas

Por Redação Akatu 
 
Mesmo quem não convive com crianças em idade escolar sabe bem como é a loucura da volta às aulas. Anúncios nos principais meios de comunicação e papelarias lotadas sinalizam que é hora de encher a mochila da garotada. Até os mais jovens estudantes, recebem listas extensas de material e a compra acaba pesando no bolso do consumidor.

No entanto, a conta bancária pode não ser a única afetada pelas demandas escolares. Produzir anualmente pastas, cadernos, tintas, canetas, lápis etc. para todos os estudantes do país representa uma demanda de muita matéria-prima, além de consumir bastante água, energia e combustíveis nos processos de fabricação e distribuição de cada item. Por isso, quem se preocupa em promover a sustentabilidade deve procurar saber quais impactos os produtos adquiridos podem causar. E mais do que isso, agir para reduzir esses impactos.

O gasto de água na fabricação dos mais diversos produtos industrializados serve de exemplo para entender o impacto ambiental das compras em geral. Para fazer uma simples folha de papel de tamanho A4 são consumidos cerca de 10 litros de água, segundo dados do relatório “Países Ricos, Pobre Água”, da ONG WWF (World Wildlife Foundation). Assim, uma classe formada por 30 alunos, cuja lista de material pede que cada estudante compre 100 folhas desse tipo de papel a cada ano, consumiria cerca de 3.000 folhas – e portanto 30.000 litros de água, volume equivalente ao de 3 caminhões pipa. Isso em apenas uma única classe!

Se levarmos em consideração que no Brasil já são mais de 7 milhões de alunos matriculados somente no ensino médio[1], a água consumida para fabricar 100 folhas de papel sulfite A4 para cada um desses alunos seria suficiente para encher quase 2.700 piscinas olímpicas, água suficiente para abastecer de água toda a população da China, durante 3 dias. E essa conta representa o gasto de água na fabricação de apenas um único material escolar, o papel, e para apenas um único segmento de ensino, o ensino médio. Se cada aluno passasse a usar a frente e o verso do papel, evitando gastar assim 50 folhas ao ano, seria possível economizar o equivalente ao volume de mais de 1.340 piscinas olímpicas cheias de água, água suficiente para abastecer de água toda a população da Índia, durante 2 dias.

Segundo dados da Ong internacional Water Footprint (http://www.waterfootprint.org), que reúne acadêmicos de diversos países, como Holanda, Reino Unido e Israel, para cada dólar gasto na produção industrial mundial, em média, são consumidos 80 litros de água. Nos Estados Unidos, em particular, o gasto médio de água sobe para 100 litros. Portanto, na hora de comprar qualquer material não esqueça de verificar a sua durabilidade e os impactos de sua fabricação sobre a sociedade e a natureza. Desta forma, ao comprar materiais mais duráveis, você provocará menor demanda de matérias primas, energia e água. De outro lado, ao buscar conhecer os impactos da fabricação de cada produto, você fará com que as empresas passem a se preocupar em minimizar os impactos negativos e maximizar os positivos, seja sobre a sociedade, seja sobre o meio ambiente.

Passo a passo – A maratona começa ao receber a lista da escola. A primeira coisa a fazer é analisá-la com o estudante e decidir quais itens realmente é preciso comprar. “Se não é necessário, não precisa comprar”, enfatiza Marcos Pó, assessor técnico do IDEC (Instituto de Defesa do Consumidor), de São Paulo. Nem sempre é preciso adquirir uma nova mochila, pastas, estojos e até mesmo lápis de cor e canetas. Muitos desses materiais, comprados nos anos anteriores, podem ser reutilizados. Já os livros, por exemplo, se forem tratados com carinho durante o ano, podem ser repassados para os irmãos mais novos, outras crianças ou contribuir para formar uma biblioteca comunitária.

“Passando por essa primeira etapa básica de só comprar o que é necessário, o consumidor deve procurar adquirir produtos de empresas que tenham preocupação com seu impacto e um trabalho na área de responsabilidade social e ambiental, como os lápis feitos de madeira certificada”, sugere Pó. Apesar de pouco conhecidos, já existem, à venda no mercado, produtos que incorporam a preocupação com a redução do impacto ambiental.

Papelarias da cidade de São Paulo consultadas pela Redação Akatu, em geral, oferecem etiquetas, papel sulfite, cadernos, agendas e post it produzidos com material reciclado; além dos lápis, como o ecolápis da Faber Castell, associado benemérito do Akatu, fabricados com madeira de reflorestamento certificada pelo FSC (selo do Forest Stewardship Council). Esses lápis estão disponíveis nas versões grafite e lápis de cor.

Um pouco mais difícil, porém possível, é garimpar na internet canetas e réguas fabricadas com caixas longa vida, ou canetas feitas de embalagens de PET recicladas. Produtos escolares que utilizam material reciclado em sua confecção são, quase sempre, opções mais sustentáveis por que diminuem o custo ambiental de sua fabricação ao reutilizar material que de outra forma viraria lixo. Além disso, eles também evitam que mais matéria-prima tenha que ser retirada diretamente da natureza. E quanto ao desempenho, tendem a ser iguais aos demais.

No caso específico do papel reciclado, a Redação do Akatu ainda não tem evidências suficientes que indiquem, com segurança, o menor custo ambiental de sua produção quando comparado ao do papel branco, fabricado totalmente a partir de madeira. Isso porque tanto o papel branco como o reciclado utilizam em sua fabricação um grande percentual de sobras de papel e ambos requerem a utilização de grande quantidade de produtos químicos. No caso do reciclado, apenas 25% da matéria-prima é composta de papéis usados. De resto, é idêntico ao papel branco não reciclado. De outro lado, ainda que usando apenas 25% de papel usado, este volume gera emprego para os associados das cooperativas de “catadores”, o que naturalmente é positivo, mas teria que ser comparado ao emprego gerado na cadeia produtiva da madeira, em relação ao qual a Redação do Akatu não dispõe de informações. .

Por outro lado, para algumas das opções mais sustentáveis de produtos escolares, o preço pode ser maior. Como afirma Helio Mattar, Diretor Presidente do Akatu, “a comparação de preços tem que considerar o custo hoje e o custo no futuro. Muitas vezes, se paga menos hoje, mas se terá que pagar mais no futuro com a saúde do consumidor ou com os custos de reparação ambiental”. Assim, cabe aos pais usar com sabedoria o seu dinheiro, considerando os custos hoje e no futuro, buscando contribuir com a sustentabilidade do meio ambiente e com a justiça social.

Uma recomendação adicional é a de negociar com a escola para receber a lista de materiais escolares antecipadamente e fazer as compras antes da corrida às papelarias. Isto ajuda a ter mais tempo para pesquisar e escolher, alem de contribuir para uma conta final mais baixa. Para realmente evitar pagar mais caro, é preciso tempo, paciência e disposição para percorrer os pontos de venda da sua região. “Os pais devem fazer muita pesquisa, pois a variação de preços é muito grande”, garante o Prof. José Augusto de Mattos Lourenço, presidente da FENEP (Federação Nacional de Escolas Particulares) e do SIEEESP (Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino do Estado de São Paulo).

Vale ainda a consulta ao levantamento comparativo de preços, realizado anualmente pelo Procon, para os principais itens pedidos pelas escolas. Essas informações são importantes para que o consumidor possa identificar a média de preços dos produtos básicos e, assim, consiga avaliar o que está caro ou barato. O levantamento do Procon do Distrito Federal, por exemplo, identificou variações de mais de 1.000 %, na análise comparativa de preços dos 26 principais itens da lista fornecida pelas escolas na cidade.

Uma outra alternativa para diminuir os gastos no início das aulas é fazer compras coletivas para todos os alunos de uma classe, já que alguns estabelecimentos concedem bons descontos para grandes quantidades. Ou então, consultar a escola para saber se é possível diluir as compras ao longo do ano, ou seja, ir adquirindo os itens do material escolar na medida em que o aluno vai tendo necessidade deles.

Diálogo aberto - Além das dicas acima, é interessante aproveitar as compras escolares do início do ano para ensinar as crianças a fazer escolhas com critérios mais amplos do que apenas preço e qualidade, e mais objetivos do que a paixão e a afinidade pelos personagens famosos da TV e do cinema, buscando também englobar os impactos da fabricação dos produtos sobre a sociedade e sobre o meio ambiente . Há que considerar o fato de que as mercadorias contendo personagens cativantes da TV e cinema, como é o caso das agendas escolares para 2008, por exemplo, podem chegar a custar até 3 vezes mais caro do que os produtos similares “genéricos”, que não contém qualquer personagem famoso, mas que são igualmente funcionais quando se pensa no uso que terão no dia-a-dia.

É também possível, no caso de cadernos, por exemplo, comprar produtos de muito boa qualidade, sem os personagens de TV e cinema – mais baratos, portanto - e sugerir às crianças que encapem ou decorem esses materiais com um toque pessoal. Recortar e colar imagens que agradem aos pequenos, customizando as capas de cadernos ou colar adesivos nos estojos, fichários e até apontadores, pode ser uma atividade divertida e que traz uma certa economia, além de aproximar os pais das atividades dos filhos, criando um momento agradável compartilhado. E, aos adolescentes, a sugestão pode ser convidar os amigos e organizar uma “sessão artística” de decoração dos materiais.

Outra opção é sugerir que a quantia de dinheiro economizado com a escolha de produtos escolares “genéricos”, ou dos materiais reutilizados dos anos anteriores, seja depositada numa conta de poupança da criança, a ser usada no futuro para atingir um objetivo maior – como uma viagem ou um passeio com os amigos. “Só não se pode passar a idéia para a criança de que, por que a gente economizou na compra do material, agora vamos gastar. Isso não é economia”, diz Pó, assessor do Idec.

O importante para que a hora da compra de material escolar não se transforme em uma verdadeira guerra entre pais e filhos, é envolver a garotada, incluindo os muitas vezes difíceis adolescentes no processo de escolha. Explicar os impactos negativos e os positivos de cada opção, de maneira que o estudante entenda o porquê de cada escolha, facilita negociar. E ouvir o que o jovem tem a dizer é a garantia de que o diálogo está sendo estabelecido. Dessa forma, os pais podem ajudá-los a desenvolver uma relação mais saudável com o ato de consumo, desde a infância.

Para saber mais

Cartilha do Procon sobre compra de material escolar:
http://www.procon.sp.gov.br/pdf/OrientaCompraMaterialUniformeEscolar.pdf.

Orientações do Idec:
http://www.idec.org.br/rev_idec_texto_online.asp?pagina=1&ordem=1&id=75

(Envolverde/Instituto Akatu)

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