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Feijão-caupi: Comunidade ribeirinha beneficiada com projeto da Embrapa Rondônia


  

Aliar o conhecimento do dia-a-dia com a técnica. Esta foi a fórmula encontrada pelos produtores da comunidade ribeirinha do Cujubim Grande, em Porto Velho/RO, em parceria com pesquisadores e técnicos da Embrapa Rondônia para o sucesso da produção de feijão-caupi.

Durante seis meses ao ano o nível das águas do Rio Madeira baixa, trazendo à tona uma grande extensão de terras, às quais têm por característica a alta fertilidade, umidade constantemente próxima à capacidade de campo e isenção de propágulos de plantas daninhas. O cultivo dessas áreas dispensa o uso de adubação, irrigação e aplicação de herbicidas, salienta o pesquisador da Embrapa Rondônia José Roberto Vieira Júnior, favorecendo a prática da agroecologia, a um custo de produção consideravelmente baixo.

Há um ano, visando criar alternativas agrícolas para a época de seca do Rio Madeira, a empresa, juntamente com os ribeirinhos, está executando o projeto de produção comunitária de sementes, com quatro variedades de feijão-caupi. A seleção dessas quatro variedades foi feita pela Embrapa Rondônia, Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, por meio de ações participativas com a comunidade, financiadas pelo Programa Fome Zero do Governo Federal, em que os agricultores familiares executavam todas as etapas sob a supervisão do pesquisador Flávio França, desde o plantio até a colheita, resultando na seleção dos materiais. Desta seleção, a variedade BRS Novaera, lançada pela Embrapa Meio-Norte, se destacou como uma das mais produtivas, com rendimento médio de 540 kg/ha. A Novaera é uma variedade de feijão-caupi de porte semi-ereto, sendo adequada para a agricultura familiar. Tem grãos bem-formados, de cor branca, com tegumento levemente enrugado e anel do hilo marrom.

Roselina Leal, vice-presidente da Associação dos produtores do Cujubinzinho, e uma das incentivadoras deste trabalho, fala que no início todos ficaram resistentes. “Depois disso, tem muita gente colhendo e plantando feijão”, comenta Dona Rose, como é conhecida na comunidade. Antes destas variedades, o feijão plantado era o feijão rasteiro, que de acordo com a produtora, não tinha colheita uniforme, e por ser rasteiro causava dores na coluna quando da colheita, alega Dona Rose. Além das novas variedades, foi definido também o espaçamento mais adequado no plantio, de 0,75 m x 0,20, já que os ribeirinhos utilizavam espaçamentos largos, com baixa densidade e, conseqüentemente, baixa produtividade. Por serem variedades de porte ereto e semi-ereto, com ciclo de produção definido, facilitam a limpeza da área e a colheita, diminuindo o trabalho de todos..

Aliado às características citadas, este trabalho também propiciou o aumento da produtividade e da renda. “Antes a gente vendia o quilo do feijão ao preço de R$ 0,80, agora, com a produção de um grão melhor, já estamos conseguindo vender o quilo a dois reais”. Dona Rose diz que para todos foi um grande aprendizado, tanto para os produtores quanto para os colegas da Embrapa. “Diferente é ouvir, e outra coisa é fazer”, conclui a produtora.

A estratégia de produção comunitária de bancos de sementes vem sendo utilizada no Brasil e em outros países, como mecanismo de desenvolvimento de pequenas comunidades, diz o coordenador do projeto e técnico da Embrapa Rondônia, Calixto Rosa Neto.

Com a execução deste trabalho que estamos realizando no Cujubim, pretendemos difundir, salienta o coordenador, de forma participativa, tecnologias adequadas ao desenvolvimento do cultivo agroecológico de feijão-caupi, para que isto sirva de modelo às demais comunidades ao longo do rio Madeira.

Práticas agrícolas ecologicamente corretas são uma vertente em franca expansão no mundo moderno, que ganham espaço utilizando-se do suporte da sustentabilidade ambiental e da responsabilidade social. Além disso, constituem uma excelente forma de agregação de valor, sobretudo aos produtos utilizados diretamente na alimentação humana. No caso das comunidades ribeirinhas, ao longo dos rios amazônicos, o desenvolvimento dessas práticas dependerá da disponibilização de tecnologias adequadas às condições locais, principalmente no que diz respeito à obtenção de sementes apropriadas ao plantio e na condução das lavouras. A variedade de feijão-caupi Novaera é uma ótima alternativa de cultivo deste tipo de feijão, de larga utilização por parte dos ribieirinhos.


A proposta

A comunidade do Cujubim Grande, onde residem cerca de 450 famílias, constitui-se principalmente de ribeirinhos, os quais têm na pesca, na produção de farinha e no extrativismo a sua principal fonte de renda. A agricultura de subsistência é praticada como atividade complementar pela maioria dos moradores da comunidade, sendo o feijão-caupi, localmente conhecido como “feijão de praia”, uma das culturas cultivadas localmente.

Desde 2004 a Embrapa Rondônia atua junto à comunidade desenvolvendo atividades de pesquisa participativa, sobretudo na identificação de soluções para os problemas que entravam a produção local. Inicialmente, observou-se que os produtores obtinham suas sementes diretamente no mercado local, comprando-as na forma de grãos em feiras livres, ou recebendo por meio de doações de parentes ou comprando de vizinhos.

Fonte: Embrapa Rondônia - Daniela Garcia Collares (MTb/114/01 RR)

 

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