Floresta em Rondônia é devastada por invasões e desmatamento ilegal
Pelo menos 25% da mata já foi derrubada.
Apenas em setembro, floresta perdeu 12 km².
Iberê Thenório Do Globo Amazônia, em São Paulo
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Na Floresta Nacional de Bom Futuro, em Rondônia, as grandes árvores já quase não existem. Em uma das áreas protegidas mais problemáticas do Brasil, a ocupação ilegal, as queimadas e a retirada clandestina de madeira já consumiram pelo menos 25% do território, e levaram embora grande parte do potencial econômico que poderia ser explorado de forma sustentável.
O último r
elatório sobre o desmatamento da Amazônia divulgado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), indica que, apenas no mês de setembro, 11,9 quilômetros quadrados de mata foram degradadas na Bom Futuro.
Ameaças impedem o combate aos incêndios na mata. (Foto: ICMbio / Divulgação)
Na semana passada, o boletim de alerta do Prevfogo – órgão que monitora as queimadas dentro dos parques e reservas nacionais – indicava
alerta vermelho na região, apontando que havia confirmação de incêndio na mata. Abaixo do alerta, uma informação deixava claro que a situação fugia do controle: “a unidade não possui estrutura e há invasões no interior da floresta nacional que oferecem risco de morte à equipe da UC [unidade de conservação]”.
Hoje, a floresta conta com quatro servidores, que trabalham em um escritório em Rondônia, para cuidar de uma área de 2,8 mil quilômetros quadrados – área equivalente a duas vezes o município do Rio de Janeiro. No interior da área protegida, vivem pelo menos 1.500 pessoas, além de dezenas de milhares de cabeças de gado. Como a ocupação é ilegal, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMbio), responsável pela manutenção do local, não consegue obter números precisos.
Poucas árvores de grande porte permanecem em pé
dentro da unidade de conservação.
(Foto: ICMbio / Divulgação)
Segundo a analista ambiental Cristine Suemasu, umas das pessoas responsáveis pela floresta, a equipe consegue visitar o local apenas duas ou três vezes por mês. “Na última vez em que fui para lá, fomos com um carro descaracterizado, para não termos problemas”, relata.
Não bastassem as queimadas e a ocupação irregular, a floresta, criada em 1988, ainda tem outro problema: cerca de 350 km² de sua área estão sobrepostos à terra indígena de Karitiana. De acordo com Suemasu, o que poderia ser motivo de conflitos acaba se transformando em solução, no caso da Bom Futuro. “Para a gente, é uma forma de resguardar essa área. Os locais mais protegidos são os vizinhos às terras indígenas. Invasores têm receio de entrar no local”, revela.
Saídas complicadas
Acabar com os problemas da Bom Futuro não é tarefa das mais simples. Dentro da área que deveria ser protegida já há duas vilas, escolas, igreja e até um posto de gasolina. Uma linha de ônibus, ligando a cidade de Buritis a Porto Velho, também já transita nas estradas abertas irregularmente na floresta, segundo a analista ambiental.
No início de outubro, o Ibama
anunciou que faria uma operação na região, instalando portarias de acesso nos quatro principais acessos do local, e monitorando o fluxo de entrada e saída de moradores e mercadorias por meio de um banco de dados conectado à internet. Prevista para o final de outubro, a operação ainda não aconteceu.
Enquanto a situação permanece sem controle, os quatro servidores do ICMBio responsáveis pela área ficam de mãos atadas. “Hoje, estamos elaborando uma forma de fazer o plano de manejo. Trabalhamos mais no planejamento, mas não conseguimos colocar muita coisa em prática”, lamenta Suemasu.
Terça-feira, 26 de novembro de 2024 | Porto Velho (RO)