Daniel Panobianco - Hoje faz exatos 33 anos que o Brasil se viu diante da sua maior decadência na agricultura local. No dia 18 de julho de 1975, uma intensa onda de frio adentrou pelo interior do continente tilintando os termômetros em mais de 65% do território nacional (vide imagem sinótica abaixo) e provocando, aquele que seria o maior impacto já sentido na agricultura de um País subdesenvolvido; A extinção da cultura cafeeira nos Estados do Paraná e São Paulo.
Os dados sinóticos da época, adquiridos por meio de compra diretamente com a USP (Universidade de São Paulo), denotam quão expressiva foi a penetração do ar frio pelo Brasil. Esta foi a única onda de frio que conseguiu atravessar com facilidade metade do planeta Terra. O ar gelado da Antártida atravessou a Linha do Equador e chegou até o Território do Rio Branco, hoje Estado de Roraima provocando queda brusca de temperatura.
O Estado do Paraná foi o mais atingido pela onda de frio. A cultura cafeeira, na sua totalidade, foi extinta após a temida e terrível Geada Negra do dia 18.
Um dia antes, moradores olhavam para o céu limpo, mas com tom avermelhado e não entendiam o que estava por vir. Foi este fenômeno, a Geada Negra, que dizimou 90% de todas as culturas do Paraná e boa parte de São Paulo em 75.
Além dos prejuízos econômicos, o fenômeno climático determinou a transformação da atividade agrícola do País.
O frio de até
Naquele ano, pelo menos 3 milhões de pés de café, a maioria em pequenas propriedades, foram erradicados e substituídos por algodão e pela seqüência de lavouras de soja e trigo, o que permite duas colheitas num mesmo ano. Os prejuízos
A reação dos fazendeiros também foi imediata. Desanimados com os investimentos perdidos, desistiram do café e partiram para a plantação de cana. A pecuária também avançou no Estado, o que, além dos prejuízos sociais, com a dispensa de mão-de-obra, provocou a degradação do solo.
O Paraná, na ocasião, era responsável por quase a metade da produção brasileira de café. Na safra 1976/77 a colheita foi de apenas 6 milhões de sacas beneficiadas. Desde então, a área de café caiu ininterruptamente. A expectativa de uma nova geada fez com que a produção se limitasse a pequenas áreas e os investimentos foram reduzidos, com reflexos na produtividade e na qualidade do produto.
Com a geada de
O Estado de Rondônia também sentiu e muito os efeitos da onda de frio de 75. Dados disponibilizados pelo INMET (Instituto Nacional de Meteorologia) e Embrapa, mostram que a queda de temperatura em solo rondoniense foi a tal ponto, que houve observação de formação de geada na região de Vilhena e todo o Vale do Guaporé. Na cidade, a mínima, segundo o INMET, chegou a marcar apenas 03,4°C.
Os dados sinóticos feitos por pesquisadores descreveram a onda de frio como "O Poço dos Andes".
Outras duas ondas de frio extremamente intensas foram registradas no Brasil desde que as observações meteorológicas começaram a ser feitas pelo INMET em
No Estado de Rondônia, grande parte dos descendentes do Paraná sabe o que foi esta onda de frio e a mudança que ela fez com a vida de todos. A história da povoação de Rondônia não se limita apenas ao ciclo da borracha e do garimpo. A população sulina, após as grandes transformações climáticas entre as décadas de 70 e 80, decidiu procurar pelas então, terras desconhecidas de Mato Grosso e do ainda Território de Rondônia, a fim de começar a vida novamente. Hoje, grande parte da cultura cafeeira de Rondônia, principalmente a cultivada no centro-sul do Estado, região de Cacoal, tem ligação direta com a Geada Negra de 1975.
Fonte: De olho no tempo