Sexta-feira, 6 de julho de 2007 - 07h19
Índios isolados reaparecem no Acre sob a pressão dos exploradores peruanos de mogno no Rio Juruá
Altino Machado
O sertanista José Carlos dos Reis Meirelles, que chefia a Frente de Proteção Etnoambiental da Funai no Rio Envira, disse que índios isolados saquearam na semana passada uma casa na localidade conhecida como Santa Maria da Liberdade, no último seringal onde moram brancos, nas cabeceiras do rio, na fronteira com o Peru.
O local dista um dia de viagem, rio abaixo, da base da frente Envira, ficando abaixo das aldeias ashaninka (kampa) e madijá (kulina ). Na casa estavam somente as mulheres, que avistaram tres índios e a abandonaram com as crianças. Os índios levaram tudo.
- Creio que este fato está relacionado com a migração forçada de grupos autônomos do Peru, por conta da exploração de mogno nas cabeceiras do Juruá, Purus e Envira. Temos certeza da existencia de três povos na região - disse o sertanista.
Segundo Meirelles, a migração de um ou mais grupos poderá causar conflitos entre os isolados e um espécie de efeito dominó, onde o grupo mais forte empurra o mais fraco para perto dos brancos e índios contatados. Ele vai subir o rio para conversar com brancos e índios das cabeceiras sobre essa nova "realidade".
- Não sei até que ponto poderemos evitar um confronto. É muito difícil convencer um pai de família que perdeu todo o pouco que tinha a se conformar, como é dificil convencer a Funai a indenizá-lo, pois a lista saqueada pode crescer, ou ser de difícil comprovação - assinalou o sertanista.
O Acre está preservando sua faixa de fronteita e por conta disso está recebendo grupos que fogem da chamada "civilização", criando, como o exemplo acima, uma realidade potencialmente explosiva.
Um dia antes da ocorrência deste novo fato, a presidencia da Funai foi alertada que grupos autônomos poderiam aparecer em locais antes impensáveis. O sertanista e seu pessoal da frente Envira dizem que tudo é muito novo e de imediato seria temerário propor uma solução salvadora.
- Mais temerário ainda é o estado brasileiro não acreditar em nossas previsões e alertas. Eles estão acontecendo de fato. E nem somos pajés, ainda - afirmou Meirelles.
O sertanista disse temer pela vida dos índios isolados, dos índios kampa, kulina e kaxinauá, dos moradores do entorno das Terras Indígenas dos altos rios, e pela dele e dos trabalhadores que pretendem proteger estes povos.
- Qualquer solução passará, necessariamente, pela proibição da exploração ilegal de madeira em áreas protegidas em território peruano - alertou.
Meirelles trabalha na Funai desde 1971 e atua na Frente de Proteção Etno-ambiental do Rio Envira há 20 anos. A frente funciona como posto de observação e proteção dos povos indígenas autônomos, ou isolados. Numa manhã de junho de 2004, Meirelles foi atacado a flechadas por índios de etnia desconhecida. Foi resgatado por equipe médica em helicóptero da Aeronáutica.
Fonte: Amazonia.org.br
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