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Mato Grosso já lidera queimadas na estação seca da Amazônia



Entre sábado e domingo, foram registrados 642 focos de queimadas na Amazônia Legal. Na listagem somente dos estados com ocorrência de focos, além do Mato Grosso, aparecem Pará (150), Tocantins (59), Rondônia (45), Maranhão (30), Amazonas (23) e Acre (5).

Numa tabela de 105 municípios com risco considerado crítico estavam listadas 52 cidades matogrossenses, sendo que quatro delas (Tangará da Serra, Bom Jesus do Araguaia, Brasnorte e Nova Bandeirantes) lideravam a mesma tabela, baseada no mapa de risco e nos focos detectados entre sábado e domingo.

Em 22 municípios da Amazônia Legal não chove há dois meses, sendo 18 deles do Mato Grosso, como Tangará da Serra, onde foram registrados um total de 32 focos de queimadas. Da tabela de municípios considerados críticos, nos últimos 15 dias choveu apenas em Canutama (AM). No passado, Nova Mamoré (RO) chegou a permanecer 33,3 dias sem chuva.

Rio Branco, a capital do Acre, é uma das cidades consideradas de risco crítico. Está há 40 dias sem chuva. Outra é Porto Velho, a capital de Rondônia, onde não chove há 35 dias. Em Colniza e Aripuanã, ambas no Mato Grosso, a temperatura máxima foi de 34,1 e 33,9 graus.

Os focos de queimadas cairam para 273 na Amazônia Legal, de ontem para hoje, mas o Mato Grosso permanece na liderança com 110 ocorrências. Existem, ainda, queimadas detectadas na Floresta Nacional de Altamira (13), no Pará, no Parque Nacional Pacaás Novos (3) e Floresta Nacional Bom Futuro (1), em Rondônia, e até em Anavilhanas (AM) e no Parque Nacional do Araguaia (TO).

As queimadas na Amazônia têm avançado significativamente em áreas supostamente protegidas. Na semana passada, o Sistema de Proteção da Amazônia (Sipam) divulgou o relatório anual sobre desmatamento em áreas protegidas no Acre, que é um dos estados que menos contribui para o desmatamento da Amazônia.

Porém, no período de um ano (de 2006 a 2007) foram desmatados 13,6 mil hectares em terras indígenas e unidades de conservação estaduais e federais no Estado. Os dados fazem parte do Programa de Monitoramento de Áreas Especiais (ProAE), implantado em 2005 e que divulga anualmente informações específicas sobre estas áreas.

As terras indígenas foram as mais atingidas pelo avanço do desmatamento, com acréscimo de 5,6 mil hectares. O total representa aumento de 155% em comparação ao período anterior (2005 a 2006). A área Kaxinawá Igarapé do Caucho foi a campeã de desmates, com 1,3 mil hectares devastados no último ano.

Em seguida aparecem as terras indígenas Kaxinawá do Rio Jordão, com mil hectares desmatados, e Rio Gregório, com 612 hectares. Essas três áreas representam 52% de desmatamento em terras indígenas. Além dessas, outras terras indígenas aparecem no relatório do Sipam com áreas de desmates significativos: Kaxinawá da Praia do Carapanã (392 hectares), Katukina/Kaxinawá (365) e Mamoadate (303)

As unidades de conservação federais tiveram redução no desmatamento em termos percentuais (-81%) em comparação ao período anterior, mas totalizaram a maior quantidade de desmates em números absolutos – mais de seis mil hectares.

A Reserva Extrativista (Resex) Chico Mendes foi a campeã no ranking do desmatamento, com 2 mil hectares. Em segundo lugar aparece o Parque Nacional Serra do Divisor, na fronteira com o Peru, com 1,2 mil hectares de desmates. Na seqüência estão três Reservas Extrativistas: Alto Juruá (995 hectares desmatados), Riozinho da Liberdade (733) e Alto Tarauacá (513).

O governo do Acre esboçou uma comemoração ao constatar que as unidades de conservação estaduais foram as que mais tiveram redução no percentual de desmatamento (-84%), embora tenham totalizado 1,1 mil hectares de desmate. A Floresta Estadual de Rendimento Sustentável Antimary teve 373 hectares desmatados e a Área de Proteção Ambiental Igarapé São Francisco contabilizou 223 hectares.

- Nas unidades de conservação, embora existam reduções percentuais em comparação a períodos anteriores, não se pode esquecer que os desmatamentos nestas áreas são proibidos, portanto, são ilegais - assinalou o gerente do Centro Técnico e Operacional (CTO) do Sipam em Porto Velho, José Neumar da Silveira. O CTO de Porto Velho é a unidade do Sipam que atua nos Estados de Mato Grosso, Rondônia e Acre.

O pesquisador Foster Brown, da Universidade Federal do Acre, diz que custos ambienta que is e sociais decorrentes de queimadas se tornam invisíveis se não forem quantificados e entendidos.

Em 2005, por exemplo, o governo do Acre teve que decretar situação de emergência quando, em decorrência da fumaça, aeroportos foram fechados e crianças e velhos lotaram os hospitais com problemas respiratórios. Parte da população chegou a usar máscaras e a protestar contra a fumaça que reduziu a visibilidade a olho nu a menos de 100 metros nas cidades acreanas.

Naquele ano, mais de 400 mil hectares de florestas foram afetados pelas queimadas no Acre, Pando (Bolívia) e Madre de Dios (Peru).

- Se o impacto ambiental fosse igual à multa de R$ 1 mil por hectare, isso significaria que a região fica R$ 400 milhões mais empobrecida - afirma Brown.

O fogo é usado para abertura de novas áreas, limpeza de terreno, controle de pragas e renovação do pasto, tendo como consqüencias o desmatamento, a poluição do ar e perda da fertilidade do solo. Nesse ciclo, as áreas são abandonadas e parte-se em busca de novas áreas, basicamente para a criação de gado.

O município de Plácido de Castro, no vale do Rio Acre, já está com 73% de sua área desmatada, Acrelândia com 68% e Capixaba com 48%. Seringueiros e trabalhadores rurais se vêem obrigados a desmatar suas áreas de floresta para a criação de bois. A pecuária continua sendo a atividade mais atrativa na região.

O Corpo de Bombeiros em Rio Branco tem conseguido descansar nos últimos dias apenas durante as madrugadas. Até os bombeiros da guarnição de incêndio urbano e de salvamento têm sido mobilizados para combater incêndios florestais que nem chegam a ser detectados pelos satétlites, mas cuja fumaça acaba por afetar a qualidade de vida da população durante a estação seca, também conhecida como verão amazônico.

A Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Semeia) tem intensificado a fiscalização na cidade e aplicado multas que variam de R$ 150 e R$ 2,5 mil contra quem realiza qualquer tipo de queimada. A Semeia orienta os moradores, providencia a retirada do lixo que não deve ser queimado e multa os infratores.

Nas cidades da Amazônia os quintais das casas costumam ser bastante arborizados. A população se acostumou a tocar fogo, principalmente nas folhas que caem ou galhos que são debastados, dentro de próprios quintais de suas propriedades. Isso contribui para agravar as condições do ar durante os meses de estiagem, que ocorre de junho até o final de setembro. Porém, nos últimos anos, a população de Rio Branco vem sendo orientada a juntar as folhas e outros entulhos para que a prefeitura faça a coleta.

Fonte: De olho no tempo com informações de O Documento

 

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