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Meio Ambiente

Mercúrio afeta ribeirinhos na Amazônia



ANTÔNIO FAUSTO (*)
contato@agenciaamazonia.com.br 


BELÉM, PA – Reeducação alimentar. Eis a solução para a maioria dos problemas de saúde enfrentados pelas famílias ribeirinhas que vivem na região da Floresta Nacional (Flona) de Caxiuanã, no município de Melgaço, arquipélago do Marajó, no Pará.

A conclusão é da pesquisadora Marciléia do Carmo, cuja tese de doutorado intitulada “Transferência Química na Cadeia Solo – Mandioca – Cabelo Humano na Região de Caxiuanã, Estado do Pará, e sua Importância Ambiental” verificou que os hábitos alimentares dessas populações são pobres em nutrientes essenciais para o bem-estar humano. Faltam-lhes cálcio, magnésio, fósforo e potássio.

O trabalho foi orientado por Marcondes Lima da Costa, do Instituto de Geociências, da Universidade Federal do Pará, e contou com a co-orientação da pesquisadora Dirse Kern, da Coordenação de Ciências da Terra e Ecologia, do Museu Paraense Emílio Goeldi.

Metal no cabelo

Marciléia conta que aliou a vontade de estudar Terra Preta Amazônica, solo altamente fértil, de origem ancestral, à curiosidade suscitada por pesquisas, feitas pelo Instituto Evandro Chagas, que apontam a presença de um alto índice de mercúrio no organismo dos ribeirinhos que vivem em Caxiuanã. Ela então resolveu verificar se a contaminação por metais tóxicos constatada na Flona está relacionada à alimentação do homem que vive na região, composta basicamente pela farinha de mandioca.

A pesquisadora estudou duas famílias de ribeirinhos que vivem da agricultura de subsistência de mandioca. A família que consome a mandioca cultivada em Terra Preta Amazônica e a família que se alimenta daquela cujo cultivo é feito em solos normais, adjacentes à Terra Preta, denominados argissolos amarelos. “Com isso, comparamos a reação da mandioca em relação ao solo e como este se comporta mediante a plantação, finalizando a cadeia de análise com o cabelo humano”, ela explica.

Da análise da mandioca, ela concluiu que a polpa da raiz, de onde se extrai a farinha é a estrutura mais pobre em nutrientes fundamentais para a saúde humana – cálcio, fósforo, magnésio, potássio, ferro e outros, assim como em elementos tóxicos, a exemplo do mercúrio e do chumbo.

“A mandioca retira do terreno somente os elementos essenciais para a sua função fisiológica”, diz a pesquisadora. Por isso, ela afirma não ter encontrado diferença entre as mandiocas cultivadas em Terra Preta Amazônica e em solos adjacentes. No entanto, observa que a Terra Preta permite um cultivo continuado, visto que é uma área bastante fértil, sem a necessidade da pausa para recuperação do terreno, procedimento geralmente observado na região, devido à pobreza do solo amazônico.   
 
 
Fumantes passivos recebem
cargas de metal no organismo
  
 
BELÉM – Com o baixo teor dos elementos tóxicos verificados na polpa da raiz da mandioca e, conseqüentemente, na farinha consumida pelos ribeirinhos, Marciléia concluiu: a contaminação por metais tóxicos nessas comunidades, atestada pelas pesquisas do Evandro Chagas, ocorre por fatores externos: fumo, tinturas de cabelo e, talvez, utensílios de cozinha feitos de alumínio.

“Encontramos  criança com alto teor de chumbo, metal tóxico, as quais convivem com adultos fumantes, ou seja, são fumantes passivos, o que pode resultar numa elevada carga daquele metal no organismo”, sugere a especialista.

Uma alta de chumbo no corpo humano causa uma doença conhecida como saturnismo, cujos sintomas são retardo mental, diarréia e anemia, que podem comprometer gravemente os sistemas neurológico e hematológico e afetar irremediavelmente o desenvolvimento de crianças.

Para a pesquisadora, a adição de frutas e verduras ao cardápio diário dessas populações é de extrema importância, principalmente para as crianças. “Eles se alimentam basicamente de carne e peixe, tendo como acompanhamento a farinha de mandioca. Nos períodos de dificuldades financeiras, apenas de farinha”, informa. Por isso, a recém-doutora sugere o cultivo de hortas nos quintais das casas dessas populações.

(*) É repórter da Agência Museu Goeldi.
Fonte: Agênciaamazônia é parceira do Gentedeopinião


Chumbo e mercúrio estão presentes no organismo de moradores de Caxiuanã, no Arquipélago do Marajó.

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