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Meteorologista do Sipam afirma que verão amazônico será mais curto


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Após uma cheia histórica apontada no rio Madeira, que alcançou a medição de 19,74 metros em 30 de março, ultrapassando em mais de 2m a cheia histórica de 1997 (17,50m) o rio dá sinais de baixa e nesta terça-feira apresenta medida de 16,98m, com tendências a baixar lenta e constantemente, em especial na segunda quinzena de maio, que é um mês considerado de transição do período chuvoso para o verão amazônico.

No entanto, esta baixa constante do rio dependerá também do fluxo de chuvas na bacia dos rios formadores da bacia hidrográfica do Madeira. Os rios Beni e Madre de Diós colaboram com 30% cada com o volume de água na região, o Guaporé com outros 30% e o Abunã com 10%. Eles são os principais rios que contribuem para esta formação.

Segundo Marcelo Gama, meteorologista do Sipam, as chuvas estão dentro da normalidade para o período e estas oscilações do rio são decorrentes de chuvas concentradas na região da Bolívia e Peru que passarão por Porto Velho em um ou dois dias. “Esta semana, por exemplo, não há registro de chuvas significativas naquela região”. Isso indica, segundo o meteorologista, que o rio tenderá a baixar.

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Para a coordenadora de operações do centro regional de Porto Velho, do Sistema de Proteção da Amazônia, Ana Cristina Strava Corrêa, esta é uma terra das águas, onde a cheia é algo natural. “Precisamos nos adaptar com o rio, sem virar as costas ao problema”. Por isso, disse ela, “é preciso dar ciência à população, aos que foram atingidos pela cheia, especialmente, que eles podem ser afetados novamente”.

Ana Strava afirma que é preciso planejamento urbano para convivência com as cheias, retirando as pessoas de áreas de risco e criando mecanismos para que os efeitos das águas sejam os mínimos possíveis, pois inevitavelmente “estas áreas serão afetadas novamente em algum momento”.

Os rios

Ana Strava explica que devido o solo estar encharcado, a possibilidade de absorção da água pelo solo é menor, por isso, as chuvas ocorridas nas cabeceiras dos rios estão influenciando sobremaneira o “sobe e desce do rio Madeira”.

Em relação a sedimentação, ela diz que o rio Mamoré boliviano é rico em sedimentação proveniente especialmente dos Andes que estão sendo erodidos e pela força das águas do rio acaba sedimentando na planície amazônica “pois a velocidade do rio acaba sendo menor”. Segundo informações, o ouro encontrado no leito do Madeira é proveniente dos Andes Bolivianos que acabaram sendo depositados 

O termo coricho é utilizado ao rio em regiões pantaneiras que em determinado momento corre para um lado e em outro corre em sentido oposto, segundo informou Ana Strava. Vários rios amazônicos possuem este comportamento e é o que explica a formação de vários lagos próximo ao rio principal. Isso, segundo ela, também é sinal de que “o rio visitou aquela região e ou que já tivemos no passado cheias históricas”.

Sedimentação

Ana Strava explica que a formação de “ilhas” de areia se devem a redução de velocidade do rio devido as curvas acentuadas que diminuem muito a velocidade do rio. Quanto ao assoreamento do rio “só o tempo poderá nos dizer o que realmente irá acontecer”.

Segundo a coordenadora, o EIA/RIMA (Estudos de Impacto Ambiental e o Relatório de Impacto ao Meio Ambiente) fornecidos pelas usinas, dizem que após cinco anos se formará um canal no leito do rio e os sedimentos serão empurrados pela força das águas através das turbinas. “O Sipam irá monitorar esta situação”.

Situação Atual

Para o meteorologista Marcelo Gama, a tendência é de aquecimento do oceano pacífico, o que tenderá a formação do fenômeno conhecido como “El Niño”, o que acarretará em um período menor de estiagem, ocorrendo chuvas esparsas. Como isso, disse ele, “haverá menores fenômenos da friagem e a umidade do ar não será tão baixo tornando o verão amazônico mais ameno”.

As chuvas, segundo Marcelo, estão dentro da normalidade para o período, em torno de 100 mm (milímetros). “Se chover até 150 mm neste mês estará dentro do normal”. O rio está baixando gradativamente e a partir da segunda quinzena o rio irá para a sua vazante normal. Segundo ele, esta última semana choveu muito na cabeceira  e “esta água ainda irá passar pela cidade, provocando este sobe e desce”.

Sobre a vazante do rio, o meteorologista acredita que não será tão grande como em anos anteriores, isso porque o rio subiu demais e ao fenômeno “El Niño” que abreviará o período da seca.

Alerta

O professor Artur de Souza Moret é físico, pesquisador e professor de Planejamento de Sistemas Energéticos da universidade Federal de Rondônia-Unir, e vem sendo um dos grandes críticos aos empreendimentos no Madeira devido à precariedade dos estudos apresentados, especialmente quanto à extensão da bacia hidrográfica atingida

Segundo ele afirma, não é contrário à construção, mas um crítico que, em 2008, no início da construção das usinas, já anunciava vários dos problemas que estão preocupando os porto-velhenses e que ainda terão muito com que se preocupar se ações emergenciais não forem tomadas.

Artur está pesquisando algumas comunidades atingidas pela barragem, Nova Teotônio e Cujubinzinho, sendo esta, a jusante e onde afirma, “a situação lá é alarmante”. De acordo com as informações levantadas pelo pesquisador, em Nova Teotônio não há mais peixes e o lago de Santo Antônio está assoreando, “tem lugares com dois metros de fundo, está vindo bastante sedimento e lama, também não passa na barragem”.

Relatos de moradores de Nova Teotônio dão conta que as usinas Hidroelétricas estão bombeando sedimento para depois das barragens para diminuir o assoreamento. Já em Cujubinzinho, “não há mais peixe, a altura da água altera ao longo do dia independente de ter chuva ou não”, disse o professor complementando que durante a cheia morreram muitos peixes.

Estudos e pesquisas

Segundo o professor Artur, o rio Madeira não é um rio conhecido. Por este motivo era preciso que antes de iniciar as obras fossem realizados estudos em toda bacia que compõe o rio. Com este estudo completo poderia ter sido prevista uma cheia como esta.

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Professor Artur Moret faz o alerta em relação a possíveis novas enchentes

A maior preocupação hoje é com a força das águas do Madeira, conhecidos pela população ribeirinha como “banzeiros”, ainda mais pela barragem ter sido construída em uma curva, com isso há necessidade de se fazer muros com concreto armado, especialmente na região do bairro Triângulo, pois ao soltar a água “ela tende a ir em linha reta e afeta diretamente os barrancos deste bairro, pois a força da água está movimentando as pedras que foram colocadas lá, isso prova que é preciso ser feito obras e começar ‘ontem’, afirma Moret.

Outro problema já apontado pelo pesquisador foi quando a alteração da usina de Jirau, que foi deslocada em 9,2 km abaixo do que os estudos iniciais apontaram como ideal. Segundo o consórcio vencedor, com isso haveria uma redução significativa de custos e justificaram ao Ibama de que não haveria necessidade de novos estudos pois já havia um estudo naquele trecho de bacia hidrográfica.

Mas, para o professor Artur, como ele diz, sendo legalista, a “legislação diz que o eixo de barragem tem de ser a referência de estudos, mas isso foi ignorado. Usaram os mesmos estudos. E o Ibama aceitou. E não deveria ter aceitado. Mas aceitou”, e complementou afirmando que “estas mudanças sem os devidos estudos acabam acarretando problemas como estes, de vazão demais, alagamento demais ou de menos”, concluiu.

Alerta

As enchentes, segundo o especialista, são cíclicas e deverá demorar um pouco para acontecer novamente. Mas deverá se repetir daqui um tempo um outro pico de água, de degelo vai acontecer de novo. Por este motivo, Moret faz o alerta para que estejamos preparados para este fenômeno. “As mudanças climáticas tem sido intensas, a própria mexida na biodiversidade, tem sido bastante grande, então pode ser que este processo diminua ou aumento o tempo. Isso ainda é uma dúvida”, afirmou.

Para ele, se não houvesse a barragem a enchente seria a mesma. O funcionamento da usina é crítico, pois a quantidade de água que chega é a quantidade que sai. Eles não podem reter água pois senão causam alagamentos à montante (acima da barragem). E nem podem soltar água demais, pois aí irão alagar a parte de baixo (jusante) e esse volume, pelos vasos comunicantes irá alagar os igarapés que acabarão alagando outras áreas dentro da cidade. Portanto, se usina soltar muita água é possível que outras áreas da cidade possam alagar, devido este movimento das massas líquidas.

Sobre a possibilidade de ocorrer nova enchente o professor Moret diz não poder afirmar “ mas que a cada ano as enchentes estão aumentando cada vez mais”. Ela cita o pesquisador Philip Fearnside que concluiu que as cheias são resultados da diminuição da floresta, ou seja, “diminui floresta, diminui a absorção de água; porque diminuiu a absorção, mais água chega nos rios aumentando as cheias”.


Fonte
Texto: Geovani Berno
Fotos: Marcos Freire
Decom - Governo de Rondônia

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