Segunda-feira, 2 de setembro de 2024 - 18h23
Ministério
Público Federal (MPF) ingressou com uma ação civil pública para obrigar, de
forma urgente, a União a liberar verba para contratação de 15 brigadas com 30
brigadistas temporários cada (totalizando 450 brigadistas), com equipamentos de
proteção individual (EPIs) e de combate ao fogo, além de duas viaturas. A
estimativa do quantitativo de recursos é do Ibama em Rondônia, com quem as
equipes vão atuar para controlar os incêndios da região. Como alternativa, a
União pode ser obrigada a requisitar bombeiros militares de outros estados, na mesma
quantidade de agentes e de equipamentos.
Outro
pedido é que a União desloque o efetivo da Força Nacional de Segurança e do
Exército Brasileiro em quantidade suficiente para garantir o patrulhamento do
entorno das áreas onde ocorre o combate às queimadas e a escolta dos agentes
brigadistas dispostos nas brigadas regionalizadas - Rondônia, Acre, Sul do
Amazonas e Oeste do Mato Grosso - área de atuação do Ibama em Rondônia.
O
terceiro pedido do MPF na ação é para que Justiça Federal determine à União o fornecimento
de, no mínimo, três aeronaves de combate (modelo KC-390 com capacidade para
transportar até 12 mil litros de água em cada voo e helicópteros Panteras
equipados com dispersores de água), com pilotos treinados, por tempo suficiente
para conter as queimadas e tirar Rondônia do estado crítico em que se encontra.
Por
fim, o MPF quer que a União seja condenada a pagar R$ 50 milhões a título de
compensação pelos danos morais coletivos, a ser revertido a ações de cunho
ambiental, voltadas ao reflorestamento de áreas públicas desmatadas e atingidas
pelos incêndios em Rondônia, assim como direcionadas à retomada de terras
públicas federais irregularmente ocupadas por particulares em todo o estado.
Incêndios
criminosos –
Dados apresentados pelo Sistema de Proteção da Amazônia (Sipam), em reunião
realizada em 19 de agosto com entidades e órgãos públicos, mostrou que a
maioria dos focos de incêndios ocorridos em agosto deste ano concentra-se em
duas unidades de conservação estaduais: o Parque Estadual de Guajará-Mirim,
local onde houve recente retirada de invasores, e a Estação Ecológica Soldado
da Borracha, unidade de conservação reivindicada pelo agronegócio da região.
Na
mesma reunião, representantes do Ibama e da Secretaria Estadual de Meio
Ambiente (Sedam) descreveram que os incêndios criminosos ocorrem
concomitantemente ao trabalho das brigadas. Ou seja, enquanto os agentes apagam
incêndios em determinada região, os criminosos ateiam fogo em outros pontos,
longe das vistas das autoridades, inviabilizando o trabalho do já escasso
número de brigadistas atuantes na região.
Pior
ar do mundo -
A qualidade do ar em 15 de agosto de 2024 em Porto Velho atingiu pico de 442
μg/m³ (micrograma por metro cúbico) de MP2.5 (partículas inaláveis finas). O
índice ultrapassou assustadoramente o parâmetro aceitável entre 25 – 60 μg/m³
de MP2.5 estabelecido pela Resolução Conama 491. Atualmente, a capital de
Rondônia está no epicentro do manto de poluição atmosférica extrema, elevando o
município ao pior índice de qualidade do ar do planeta.
A
situação alarmante persiste e tende a se agravar em setembro, ápice do período
de estiagem, aliado ao aumento de queimadas. O cenário levou o governo de
Rondônia a editar o Decreto 29.417, de 26 de agosto de 2024, o qual declara a
situação de emergência nível II em todo território estadual.
Boletim de Alerta
elaborado pela Agência Estadual de Vigilância em Saúde abordou as previsões
quanto a qualidade do ar nos próximos dias especificando as áreas sujeitas ao
agravamento dos índices de material particulado na atmosfera. As regiões do
Madeira-Mamoré, Vale do Guaporé e partes do Vale do Jamari devem enfrentar
condições de "Péssima" qualidade do ar. Nas demais áreas, os níveis
continuarão entre "Ruim" e "Muito Ruim". Apenas uma pequena
área no extremo sul do Cone Sul deve alcançar a faixa de "Boa"
qualidade do ar.
Além
dos efeitos nocivos à saúde, implicando no aumento de casos de problemas
respiratórios, a névoa que encobre a cidade de Porto Velho impactou o fluxo da
malha aérea com sucessivas interdições da pista do aeroporto internacional
Jorge Teixeira, entre 15 e 29 de agosto.
Segundo o Ibama, Rondônia necessita de mais 15 brigadas, com 30 brigadistas temporários cada, sendo que cinco brigadas em Porto Velho (Esec Soldado da Borracha, Jaquirara, União Bandeirantes, Jaci-Paraná e Extrema) e mais uma brigada em cada um dos municípios que totalizam 80% dos focos de calor em Rondônia de 1º de janeiro a 29 de agosto deste ano. Atualmente o Ibama possui apenas 205 brigadistas distribuídos em oito bases que atendem o estado e o sul do Amazonas.
Discriminação – No dia 22 de agosto, o MPF expediu uma recomendação à União para que no prazo de cinco dias liberasse verba para a contratação de mais 450 brigadistas e disponibilizasse três helicópteros de combate a incêndios, mas até a última sexta-feira (30) não houve resposta.
Entretanto, o governo federal direcionou, de forma imediata, a São Paulo, igualmente atingido por queimadas nos municípios do interior, uma aeronave KC-390 com capacidade para transportar até 12 mil litros de água em cada voo, dois helicópteros Panteras equipados com dispersores de água e demais estruturas de pessoal e logísticas encaminhados a Ribeirão Preto, interior do estado.
Para o procurador da República Gabriel de Amorim, há disparidade de tratamento dedicado à região com maior adensamento populacional em relação à população da região norte do país, “sujeitas à própria sorte do abandono junto com todo o passivo socioambiental proveniente de políticas públicas de ocupação territorial implementadas nas décadas de 70 e 80 e a consequente construção cultural que se desenvolveu na região ao longo dos anos, totalmente dissociada dos pilares que amparam o desenvolvimento sustentável”.
Somente até 19 de agosto deste ano foram contabilizados 4.887 focos de incêndio, totalizando 107.216 hectares de florestas destruídas pelo fogo. As chamas alcançaram terras indígenas e unidades de conservação como é o caso das Resex Jaci Paraná e terras indígenas Karipuna, Uru-Eu-Wau-Wau e Igarapé Lage.
Ação civil pública nº 1013869-27.2024.4.01.4100
Consulta em https://pje1g.trf1.jus.br/consultapublica/ConsultaPublica/listView.seam
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