Sábado, 14 de julho de 2007 - 07h59
Em diversas partes do mundo, elas saem para buscar o pólen e não voltam mais, intrigando os cientistas.
Sem fazer alarde nem deixar pistas, abelhas de diversas regiões do planeta estão desaparecendo misteriosamente. Elas saem para buscar néctar e pólen e nunca mais voltam para suas colméias. O insólito fenômeno tem se repetido, recentemente, nos Estados Unidos, no Canadá, na Europa e também no Brasil.
O sumiço das abelhas já começa a preocupar os especialistas. Ao levar pólen de uma flor a outra, elas induzem a formação de frutos e sementes. Ou seja, são protagonistas na reprodução das plantas. Também tem importância econômica como produtoras de mel. Alem disso, são cada vez mais empregadas na agricultura, polinizando lavouras de abacate, maçã, laranja, amêndoa e cenoura, por exemplo.
Os desaparecimentos vieram à tona no ano passado. No último outono do Hemisfério Norte, criadores que alugam enxames para agricultores se assustaram com perdas acima da média. Em poucos meses, tinham paradeiro desconhecido abelhas em metade dos 50 Estados americanos e três províncias canadenses. Apicultores chegaram a perder 90% de suas colméias.
Para uma melhor dimensão do estrago, o biólogo americano Edward O. Wilson amplia o mundo dos insetos à escala humana:
- De certa maneira, é o Katrina da entomologia – disse Wilson, citando o furacão que há dois anos matou pelo menos 1,8 mil pessoas nos EUA.
O sumiço começar a ser motivo de preocupação no Brasil. O fenômeno é observado em colméias do Sudeste e Centro-Oeste.
- Trabalho com mel há 15 anos e nunca tinha visto nada igual – surpreende-se Gilson Buraneli, criador de abelhas em Altinópolis (SP).
Em apenas um ano e meio, ele viu suas colméias reduzidas de 70 mil abelhas para 20 mil. A produção anual de mel cai de 80 quilos para 40 quilos.
Os americanos batizaram o esvaziamento das colméias de desordem do colapso das colônias (CCD, na sigla em inglês). As razões da alta mortalidade,porém, continuam desconhecidas.
Os cientista perseguem uma resposta, mais ainda não conseguiram passar das hipóteses. Talvez seja a intoxicação por inseticida – cada vez mais usados na agricultura –, talvez a infecção por vírus ou ácaros. Diante do mistério, não se descarta nem mesmo a radiação dos telefones celulares.
- Quando uma abelha melífera encontra algo interessante, o grupo inteiro vai junto – explica o biólogo americano David De Jong, doutor em entomologia pela Universidade Cornell e professor de genética na Universidade de São Paulo (USP) em Ribeirão Preto.
Até a candidata Hillary Clinton saiu em defesa dos apicultores.
Nos EUA, o mundo dos insetos foi alçado a assunto de política publica. Em Abril, o FDA (a agência responsável pelo controle de remédios e alimentos) realizou um congresso em Washington para discutir o tema. De Jong foi convidado para expor a situação brasileira. Até a senadora Hillary Clinton, aspirante à Presidência, vestiu a camisa dos apicultores.
- Precisamos tomas as ações necessárias para ajudar nossos produtores de mel e agricultores e evitar que a situação fique pior – disse.
Os cientistas não acreditam que o sumiço possa levar à extinção. As abelhas já voavam muito antes do aparecimento do homem. O fóssil mais antigo desse inseto tem 100 milhões de anos. O homem moderno surgiu há cerca de 100 mil anos.
O IMPACTO - Por ano, a agricultura que depende da polinização das abelhas - são mais de 90 tipos de alimento -injeta na economia norte-americana US$ 14 bilhões.
Fonte: Jornal Zero Hora
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