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Meio Ambiente

'O problema da Amazônia é o ilegal permeando o legal'


Esta semana o Brasil viveu mais um confronto de números e conseqüentemente mais um embate político entre os defensores da Amazônia e a sua biodiversidade e aqueles que querem o desenvolvimento a todo custo, sem se importar com a aceleração que esteja ocorrendo. Os dois lados possuem grande verbalização, poder de mídia e influências em escalas diferentes. De tudo isso vale o contraditório, necessário e fundamental, para esclarecer a sociedade sobre a importância de um programa definido de desenvolvimento da Amazônia. 

Dentro deste espaço de idéias o pesquisador do IMAZON, Beto Veríssimo, concedeu uma entrevista à jornalista Miriam Leitão (Globonews), e selecionamos alguns trechos que certamente contribuirá para a discussão positiva deste tema atual, que ainda vai ocupar, por muito tempo, o espaço da mídia brasileira e internacional, com reflexos em Rondônia em razão da construção das hidrelétricas do complexo Madeira (Jirau e Santo Antonio).

Para Beto Veríssimo, é importante entender que o desmatamento da Amazônia existe porque gera lucro no curto prazo, “desmatam os pequenos, desmatam-se nos assentamentos de reforma agrária, desmatam os pecuaristas. É importante lembrar que a pecuária é muito variável, não desmatam os pecuaristas modernos que estão diversificando as suas fazendas, então nos temos várias pecuárias. Agora é preciso reconhecer que atualmente não se desmata por conta da soja, mas sim por conta da pecuária, então quem está fazendo um trabalho sério e tentando se adequar ao mercado internacional, que é exigente, logicamente se sente injustiçado”. 

Segundo o pesquisador Beto Veríssimo, cerca de 30% da pecuária na Amazônia está modernizada, e quem já fala a linguagem do século XXI, fala em trabalho sério, em conservação da floresta e em segurar a pecuária nas áreas desmatadas. Ele afirma que os pecuaristas sérios são aqueles que, geralmente, estão no debate, “São os aliados necessários, porque precisamos encontrar uma solução para que a pecuária e agricultura que estão - e vão continuar - instalados na Amazônia sejam aliados da conservação. 

"É importante entender que o desmatamento da Amazônia existe porque gera lucro no curto prazo" - Beto Veríssimo.

No contraponto, nós temos o pessoal que está na fronteira, está relacionada com trabalho escravo. São Felix do Xingu, por exemplo, é o campeão do desmatamento, é o campeão da expansão do rebanho bovino, e que acaba sendo um coquetel explosivo na região de fronteira associado às atividades ilegais. Quando olhamos o desmatamento, vemos que ele não cresce por igual, mas sim nas novas áreas abertas no noroeste, oeste e sul do Pará. Então falta ao governo um trabalho de inteligência para mapeá-lo bem, é neste esforço que começa com a lista dos 36 municípios, mas precisa combinar com ações estruturantes, tipo o crédito que permeia a cadeia produtiva e opera na ilegalidade do agronegócio, se o governo frear esse crédito, acredito que diminuirá o desmatamento”.

Sobre o controle e a interpretação dos dados, Veríssimo disse que a matéria prima é a mesma para todos, ou seja, são satélites da NASA com serviço gratuito tanto para o IMAZON (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia) como para IMPE(Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). Segundo ele, o IMAZON está fazendo um trabalho de apuração mensal desde agosto de 2006. Porém, a partir de maio de 2007, em relação a maio de 2006, houve uma retomada do desmatamento e em agosto isto se confirmou. Dessa forma os dados do mês de setembro já mostravam um alerta de que não havia mais motivos para comemorar a queda do desmatamento, mas sim teve uma retomada que se confirmou através dos dados consolidados de dezembro, tanto do lado do IMAZON como do IMPE, mostrando que houve um recrudescimento do desmatamento na Amazônia. 

No entendimento de Veríssimo algumas dúvidas que tem aparecido na mídia são naturais e que eventualmente talvez devam sofrer alguns ajustes, a diferença real é no Pará. O IMPE está falando a verdade e o seu sistema serve de alerta. “Nós devemos atentar para o seguinte, a terra não precisa estar totalmente nua, a floresta está no chão e sobrou eventualmente algum paliteiro, ou seja, se explorou e se queimou madeira por vários anos e no próximo verão será usado para agricultura ou pecuária, então realmente são áreas desmatadas, agora isso são exceções, no geral realmente o que o IMPE e o IMAZON encontram são áreas absolutamente derrubadas, não há dúvidas. É claro que neste tipo de verificação vai ser corrigir um ponto ou outro, mas isso não muda em termos globais os números gerais. Então numa correção de dados o desmatamento no Pará deve subir, no Mato Grosso os números devam ficar um pouco menor, em comparação com os dados próprios do Mato Grosso em relação ao ano de 2006.” 

Veríssimo afirma ainda, “no norte o desmatamento cresceu muito em Rondônia e no Pará. No caso de Rondônia, que é um estado pequeno, em termos absolutos jamais seria um campeão de desmatamento, mas em termos relativos a taxa é muito rápida. Mas a situação em Rondônia é muito grave porque o desmatamento está acontecendo dentro das áreas protegidas. As organizações que trabalham na Amazônia já vem alertando que o foco neste momento deve incluir Rondônia, pois já está ficando fora de controle, isto porque mesmo no ano em que o desmatamento caiu, Rondônia já estava no grupo dos estados que o desmatamento se manteve muito elevado”. 

De acordo com Veríssimo, a Amazônia é nossa e temos que dar conta deste problema, pois não se trata de um debate da internacionalização por forças externas. O Brasil precisa fazer o dever de casa, o problema é que o governo como um todo é contraditório.

"Se nada for feito, a floresta será varrida da Amazônia" - Beto Veríssimo.

 

Veríssimo alerta para o fato de que, se nada for feito, a floresta será varrida da Amazônia, daí a importância de se criar a economia da floresta. Hoje, quando se fala que a Amazônia tem 80% de floresta preservada, na verdade parte já está degradada, já sofreu queimadas florestais, ou exploração de madeira - algumas predatórias - e é ilusão pensar que os 80% está intacta. 

Para Veríssimo, a Amazônia é uma imensidão pouco conhecida. É difícil para quem não está na Amazônia ter noção do seu tamanho, o município de Altamira, por exemplo, é maior que o estado do Espírito Santo, Rio de Janeiro e metade de Santa Catarina. O Estado do Pará é do tamanho do estado de São Paulo, Minas Gerais, Paraná e Santa Catarina juntos, tudo isso é na Amazônia, gigantesco, as áreas são imensas. A importância para o clima global se a bacia amazônica - ela regula o clima global - entrar em colapso, todo o planeta também entra. Não é à toa que nos próximos anos, teremos a Amazônia como centro fundamental do debate de mudanças climáticas. A Amazônia é vital para a regulação do clima e no suprimento de chuvas para manter as hidrelétricas no sudeste funcionando, uma diversidade cultural que o brasileiro pouco conhece. A Amazônia é tão imensa que são várias florestas dentro da grande floresta, nós temos cerrados, floresta seca (Mato Grosso) floresta mais úmida e densa (Pará). Hoje quem mais estuda a Amazônia são os estrangeiros, a força da sua biodiversidade. O Brasil precisa conhecer e apreciar as suas riquezas, mas principalmente entender que ela é uma região frágil e que não suporta toda essa pressão ambiental que vem acontecendo. 

Veríssimo finaliza dizendo que onde tem desmatamento intensivo os índices de pobreza e violência são altos, a herança é social é perversa. A Amazônia precisa de desenvolvimento econômico, de renda, precisa da presença do estado brasileiro fortemente na região. O problema da Amazônia é o ilegal permeando o legal. Falta uma agenda de desenvolvimento econômico a serviço da Amazônia.

Fonte: Gentedeopinião com informações da GloboNews

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