Sábado, 9 de junho de 2012 - 20h42
Numa produção milionária, com belíssimas imagens, a emissora global levou ao ar, logo depois do dia mundial do meio ambiente e no ambiente da Rio+20, o programa com a reportagem sobre os Enawenê-Nawê. No Centro de Formação Vicente Cañas, um grupo de missionários do Cimi assistiu o programa. Parte deles está realizando um encontro sobre os mais de 70 grupos indígenas em situação de isolamento voluntário (os "isolados") que fogem do contato de morte, das violências e das doenças.
Eles têm acompanhado a caminhada dos membros do Cimi junto a grupos contatados a partir da década de 1970, como foi o caso dos Enawenê-Nawê, Myky e Suruahã. Conforme o missionário Francisco Loebens, que participou dos primeiros contatos com os Suruahã, "o governo procura insensibilizar os grupos isolados até aprovar suas grandes obras, como aconteceu com a construção das hidrelétricas de Girau e Santo Antonio, no rio Madeira. Outra situação acintosa é a dos Awá-Guajá, no Maranhão. Quase duas centenas de serrarias atuam dentro da terra desse povo, com impactos de violências e ameaças de extermínio do grupo, sob a omissão dos governantes, em todos os níveis". A entidade Survival International está realizando uma ampla campanha de denúncia dessa situação, exigindo providências urgentes para evitar o genocídio desse povo.
Não poderíamos deixar de manifestar nossa admiração pela realidade tão rica em cultura, símbolos, arte, sabedoria, que boa parte de brasileiros agora conhece dos Enawenê-Nawê. É sem dúvida uma contribuição para a humanidade, e principalmente aos governantes cegados pelo sistema da acumulação, destruição da natureza, mercantilizarão da vida e consumismo absurdo.
Pena que muitas questões não foram ao ar, como a grande pressão e invasão das madeireiras da região, que criminosamente tem retirado madeira do território dos Enawenê-Nawê.
Quando, como secretário do Cimi, com o coordenador regional Mato Grosso e outro missionário, fomos, em maio de 1987, fazer uma visita ao companheiro Vicente Cañas e aos Enawenê, encontramos o corpo de Vicente, mumificado, com sinal de perfurações e afundamento craniano. Já se passavam 40 dias de seu cruel assassinato. O seu silêncio foi interpretado por seus amigos como participação no ritual da pesca, que se desenvolve durante meses. O que mais indigna é a impunidade que paira até hoje. Um julgamento de três dos acusados de participação no assassinato acabou acontecendo em Cuiabá, depois de 20 anos, sem condenação dos acusados.
Os Enawenê denunciaram a preocupante e humilhante diminuição dos peixes em função da construção de dezenas de pequenas hidrelétricas no curso do rio Juruena. Além disso, por ocasião da definição dos limites do território desse povo, o governo deixou de fora um dos mais importantes rios, o Rio Preto. Por que até hoje não se reviu essa grave violação aos direitos dos Enawenê?
Fonte: CIMI / Egon Heck
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