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Peculiaridades brasivianas do Rio Mamu


Francisco Marquelino Santana

O Rio Mamu, mede aproximadamente 140 km de extensão e é um dos principais afluentes do Rio Abunã, que possui uma extensão aproximada de 375 km. O Mamu desemboca suas águas no município de Santos Mercado – província Federico Román, e nasce no município de Santa Rosa Del Abuná – província de Abuná. Ambas as províncias fazem parte do Departamento de Pando que está localizado no norte da República Boliviana.

De clima agradável, Pando possui uma temperatura média de 26,6 graus e é dono de uma considerável precipitação que alcança uma média em torno de 1.800mm.

Sua exuberante floresta tropical nos presenteia com tradicionais árvores nativas da região que demonstram a diversidade de sua flora: castanha do Brasil (Bertholletia excelsa), seringueira (Hevea brasiliensis), e tantas outras, tais como, cedro, itaúba, ipê, cumaru, piqui, andiroba, maracatiara, cerejeira, garapeira, etc. Suas palmeiras predominantes são: buriti, babaçu, pupunha, bacaba, patuá e açaí. Assim como a flora, sua fauna também se identifica com a Amazônia ocidental brasileira, onde o seringueiro se delicia com suas caças prediletas: anta, paca, javali, capivara, cutia, etc.

Depois de percorridos aproximadamente 195 km da sua nascente, o Rio Abunã recebe as águas escuras de seu belo e importante afluente: o Rio Mamu. O encontro dessas águas e o encantamento da floresta banhada por cerca de 140 km por onde se estende as águas deste rio, carrega no seu bojo uma notável história de colonização ocorrida durante os dois grandes ciclos da borracha da Amazônia e que de forma brilhante resiste até hoje aos avanços avassaladores da era da globalização, preservando uma rica biodiversidade existente nos seringais nativos da região pandina boliviana. A presença do homem seringueiro nos seringais do Rio Mamu possui um longo percurso histórico de luta e sobrevivência que demonstra importante relação entre o homem e a natureza e sua relevante posição fisiográfica e humana no heterogêneo mundo amazônico.

A foz do Rio Mamu brilha diante de um magnífico encontro de águas que brincam com suas cores liquidas. Águas amareladas e negras se encontram, se misturam,se abraçam e constituem uma tonalidade negro amarelada que provoca e promove o surgimento peculiar, prazeroso e sublime de um momento majestoso da natureza na fronteira Brasil/Bolívia. As cores que brotam deste encontro maravilhoso de águas são também observadas em silêncio pela cor verdejante da deslumbrante mata que dorme em devaneio.

Após o encontro das águas, as águas do Rio Mamu mudam de cor e tornam-se mais claras num tom quase azul-verdejante.

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Encontro das águas do Mamu com o Abunã.


O Rio Mamu possui uma diversidade de extensos seringais na região pandina boliviana, desde sua nascente no município de Santa Rosa Del Abuná na província de Abuná, até a sua foz, no município de Santos mercado na província de Federico Román.

Partindo da sua foz, iremos encontrar o primeiro seringal do Mamu: O seringal “Carolinda”, que foi abandonado por uma família de brasileiros que ali residiam. Dona Maria, como era conhecida pelos demais seringueiros, voltou ao Brasil em busca de terra no seu próprio pais, e hoje se encontra morando num assentamento no Sul de Lábrea.

Em seguida, e continuando a percorrer o Rio Mamu, iremos chegar ao seringal “Pedro Porto”, propriedade do seringueiro Manoel Aguiar. Este seringal também se encontra totalmente abandonado, e o senhor Manoel atualmente está em Porto Velho fazendo tratamento médico. Logo adiante avistaremos outros grandes seringais localizados às margens do Rio Mamu: o seringal Cumaru onde mora o boliviano Carlos Shantain, sua esposa Ângela Ortiz e mais seis filhos do casal; a colocação “Passarinho”, onde vive dona Maria Pereira dos Santos e seu irmão Francisco Pereira dos Santos, que residem há mais de quarenta anos neste seringal; o seringal “Barca Farol” do seringueiro França Arruda; o seringal “Bacaba”, de propriedade de um seringueiro boliviano, conhecido apenas por Mante; o seringal “Santa Rita” do seringueiro brasileiro José Mendonça e mais adiante os seringais Palmares e Pedra Chorona, do senhor Manuel Pereira da Silva, conhecido por Dino.

Outros antigos seringais do Rio Mamu embelezam suas águas, como veremos nas denominações a seguir: Santo Antonio, Baixa Verde, Arraial, Cachoeirinha, Providência, Tabocal, Cabeluda, Barro Alto, Saúbal, Onça, Castanheira, Companhia, Primavera, Buriti, Porto Barba, Casa de Barro, Palmares II e Mapiri.

Logo acima do seringal Mapiri, o Rio Mamu recebe as águas do Igarapé Todos os Santos, e após o Mapiri, virão os seringais Potossi e Jerusalém, que já ficam localizados nas proximidades de sua nascente.

Depois de Potossi e Jerusalém encontra-se uma região pantanosa não navegável, onde predomina uma extensa área composta principalmente da Palmeira Buriti. Depois desta área pantanosa encontra-se uma pequena comunidade denominada Teduzara que fica localizada às margens do Rio Orthon.

Neste imenso vale amazônico boliviano, as águas do Rio Mamu tornam-se relevante para que culturas diferentes se misturem e se aceitem como são. Cada uma com suas singularidades, e essas peculiaridades constituem a mais bela e complexa heterogeneidade cultural que une a diversificada bacia hidrográfica da Amazônia.    

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 Seringal Cumaru/ Pando/ Bolívia.


  

 Fonte: Marquelino Santana
 

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