Sexta-feira, 8 de junho de 2007 - 15h11
Agência Amazônia
CRUZEIRO DO SUL (AC) O extrativismo não é a panacéia para
Amazônia, advertiu em Cruzeiro do Sul (AC), na fronteira
brasileira com o Peru, o pesquisador da Empresa Brasileira de
Pesquisa Agropecuária (Embrapa) em Belém, Alfredo Homma. Ele
participa da Reunião Regional da Sociedade Brasileira Para o
Progresso da Ciência (SBPC).
Para o cientista, o extrativismo ébom quando o mercado é
pequeno, no entanto, quando ele cresce, o setor não consegue
atender a demanda, porque existe uma oferta fixa determinada
pela natureza. "Depois do assassinato de Chico Mendes, em
dezembro de 1988, o extrativismo ficou sendo a grande solução
para conter desmatamento e melhorar renda. Diziam que,
deixando a floresta em pé, seria possível o pessoal ganhar
mais", comentou.
Espécies domesticadas
O pesquisador recomendou medidas para solucionar a questão. A
Amazônia tem 71 milhões de hectares de terras desmatadas que
podem ser usadas para plantar espécies domesticadas oriundas
do extrativismo e de potencial como pau-rosa, pupunha,
castanheira, seringueiras, cupuaçu e outras, recomenda o
pesquisador. "Estamos perdendo muitas alternativas e
oportunidades de mercado", afirmou.
Conforme Homma, o extrativismo de pau-rosa na Amazônia chegou
no auge na década de 50 com exportação de 450 toneladas, e
hoje chega no máximo a 20 a 30 toneladas por ano. A espécie é
usada para alta perfumaria fina, como o perfume Chanel-5.
"Antes usava óleo de pau rosa para fazer sabonete Phebo. Mas o
litro custa mais de R$ 200. Nós já devíamos ter plantado pau
rosa na Amazônia para cortar 30 mil árvores por ano", observou.
Aids e câncer
"Ficam falando muito na biodiversidade imaginária, na
biodiversidade abstrata e esquecendo essa biodiversidade do
presente, concreta", afirma Homma. "A gente fica dormindo",
disse ele, e cita como exemplo o caso do pau rosa que não está
sendo cultivado.
"O pessoal está pensando que vai encontrar uma planta que vai
curar câncer ou Aids, e de uma hora para outra vamos ficar
ricos", comenta Homma. Para ele, tem muita coisa divulgada na
mídia nesse sentido. A biodiversidade é qualquer planta:
laranja, jambo, caju e boi também. Tem a biodiversidade do
passado, do presente e do futuro, assinala.
O pesquisador lembra que muitas plantas sofreram o processo de
domesticação, a exemplo do guaraná. "Agora ninguém mais fala
de fazer o extrativismo de guaraná. Na década de 70 a produção
não passava de 200 toneladas por ano. Hoje produz 5 mil
toneladas, 20 vezes mais que na fase extrativa", compara.
Nos últimos 10 mil anos, o homem domesticou mais de 3 mil
plantas e centenas de animais. "Hoje nenhum de nós compra
laranja, banana nem maçã extrativa. A domesticação provoca o
colapso da economia extrativa. Uma das plantas domesticadas
foi a seringueira, pelos ingleses. "Eles perceberam que o
mundo não podia ficar dependendo de uma coleta extrativa de
borracha".
Variáveis e desagregação
"Ao contrário do que está sendo falado que é uma coisa que
pode durar ad infinitum, o extrativismo se sujeita a diversas
variáveis que levam à sua desagregação. Homma conta que
Cruzeiro do Sul foi forte na economia extrativa da borracha.
No País, nos últimos 10 anos a produção extrativa de borracha
despenca de 23 mil toneladas para 4 mil toneladas.
Segundo ele, o pessoal está deixando de cortar seringa, apesar
do discurso em prol da seringueira, chegando à conclusão que
não dá para viver do extrativismo. "Cruzeiro do Sul, grande
exportador de farinha para o estado do Amazonas, está ganhando
mais dinheiro em produzir farinha do que em catar borracha".
"Isso não quer dizer que devamos acabar como extrativismo.
Longe disso", ressalva. "O extrativismo foi muito importante
no passado, é importante no presente e tem muitas plantas
extrativas com grande estoque que vai continuar por muito
tempo", observa, ao dar como exemplo o açaí no Pará, embora
existam plantios em Espírito Santo e São Paulo.
Guaraná baiano e castanha
O maior plantador de guaraná não é mais o estado do Amazonas;
é a Bahia. "Foi uma oportunidade de mercado que perdemos",
disse Homma. O cupuaçu é exemplo de outra planta que foi
domesticada nos últimos 10 anos. Há 25 mil hectares plantados
de cupuaçu e a pupunha está entrando em domesticação.
"Devíamos também plantar castanha, cuja oferta é 100%
extrativa. A Bolívia é o maior produtor. Temos de pensar em
plantar hoje para tentar colher daqui a 15-20 anos", aconselha
Alfredo Homma.
O pesquisador assinala que "com essa febre do extrativismo
foi criada uma falsa concepção de que todo produto é
sustentável, o que não é verdade. A sustentabilidade econômica
não garante sustentabilidade biológica. E sustentabilidade
biológica não garante sustentabilidade econômica", explica.
Amazonense nascido em Parintins, Homma diz que o modelo do
Acre não pode ser espalhado para o Amazonas ou Pará. "Cada
estado apresenta uma economia distinta".
Num seringal com 500 hectares, estão dispersas 450
seringueiras em três estradas de seringa, 150 árvores em cada
estrada, com baixa produtividade da terra e da mão-de-obra,
conta Homma. "Essas 450 árvores cabem num campinho de futebol
, o que reduz o custo, aumenta a qualidade".
Com informações do Jornal da Ciência, da SBPC
AGÊNCIA AMAZÔNIA (*)
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