Segunda-feira, 8 de outubro de 2007 - 07h58
Nova diretoria concentra esforços para evitar falta de energia elétrica
A nova diretora de Gás e Energia da Petrobrás, Graça Silva Foster, assume o cargo com foco no abastecimento do mercado energético. A opinião é de especialistas consultados pelo Estado, para quem Graça deverá preparar a empresa para atuar como uma espécie de 'seguro-apagão' nos anos que antecederão o início das operações das usinas do Rio Madeira e de Angra 3. Segundo essa visão, o temor de um apagão na virada da década teria motivado a substituição do antigo diretor, Ildo Sauer, crítico do modelo energético atual.
A Petrobrás já se comprometeu com à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) a abastecer o mercado com 6,5 mil megawatts (MW) de energia térmica a partir de 2010, ano considerado crítico por analistas de energia. É consenso no mercado que o Brasil dependerá de muita chuva para passar sem sustos até a entrada dos dois maiores blocos de energia previstos no planejamento para os próximos anos - o projeto Madeira terá potência de 6,6 mil MW e Angra 3 terá 1,3 mil MW.
Até lá, as usinas a gás terão papel semelhante ao das térmicas emergenciais contratadas no período posterior ao racionamento: garantir os reservatórios das hidrelétricas, que produzem energia mais barata, em níveis seguros. Ou seja, serão chamadas a operar quando o volume de água nas barragens cair mais que o previsto. Para cumprir o acordo com a Aneel, porém, a Petrobrás terá de dispor de cerca de 30 milhões de metros cúbicos de gás natural por dia, volume equivalente ao comprado hoje da Bolívia.
'A situação é desafiadora', afirma o consultor Marco Tavares, da Gas Energy, para quem o País já passa por um 'racionamento branco' de gás natural, em que distribuidoras têm dificuldades de expandir as vendas por falta de insumo. 'A CEG (distribuidora que opera no Estado do Rio) já não está autorizando a abertura de postos de gás natural veicular', diz Adriano Pires, do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura (CBIE).
A Petrobrás aposta na importação de gás natural liquefeito (GNL) para garantir energia nos próximos anos. 'Mas o mercado de GNL está muito aquecido, com grande demanda dos EUA e da Europa. Há restrições para a compra do combustível e os preços são altos', avalia Tavares. Em entrevista concedida na semana passada, Graça disse que a empresa vem intensificando as conversas para garantir o combustível. Os dois primeiros navios regaseificadores, que ficarão instalados no Ceará e no Rio, já estão contratados. A Petrobrás espera ter 31,1 milhões de metros cúbicos de GNL por dia em 2012.
'A missão de Graça parece ser transformar a Petrobrás em uma grande geradora de energia', afirma Pires. Divergências com relação ao destino do gás, por sinal, são apontadas como a principal causa da saída de Ildo Sauer da empresa.
'O Ildo saiu porque não queria priorizar as térmicas', diz o consultor do CBIE. De fato, há fortes indícios de desentendimentos entre Sauer e a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff.
Em carta de despedida enviada a 'companheiros e amigos da Petrobrás', o ex-diretor criticou o modelo energético atual por manter políticas instituídas durante a 'reforma liberal' promovida por governos anteriores. No texto, ele cita como exemplo o mercado livre de energia, que, segundo ele, teria causado prejuízos de R$ 10 bilhões a estatais e pequenos e médios consumidores de energia do País. Sauer diz que só voltará a falar do assunto após um período de quarentena.
'O Ildo criticava o uso do gás para garantir energia ao mercado livre porque favoreceria empresas privadas, em detrimento da Petrobrás', diz o professor Nivalde de Castro, do Grupo de Estudos do Setor Elétrico da UFRJ (Gesel). No ano passado, a Petrobrás teve problemas com a Aneel porque não havia gás disponível para térmicas quando essas foram chamadas a operar. Na ocasião, Sauer afirmou que não tinha obrigação de fornecer o combustível a usinas sem contrato com a Petrobrás.
Parte do gás com que o governo contava já havia sido destinado a outros mercados, uma vez que a Petrobrás necessitava fazer dinheiro com o gás boliviano, pelo qual paga mesmo se não consumir. Para Tavares, da Gas Energy, aí reside o grande problema do mercado brasileiro de gás natural. 'Não há política de longo prazo. O governo está sempre apagando incêndios', afirma. Ele acredita que a definição de uma política pode avançar na gestão de Graça, a quem atribui capacidade de articulação.
Graça preferiu não conceder entrevista. Em resposta ao Estado por e-mail, esclareceu que a empresa não vê dificuldades para conseguir carregamentos de GNL no mercado internacional e o modelo de leilões de energia no País já prevê a indexação do preço da energia térmica às cotações internacionais do combustível. Ela reforçou que o destino do GNL será o mercado térmico.
(Fonte: O Estado de S.Paulo/Nicola Pamplona)
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