Sábado, 16 de julho de 2016 - 09h01
As grandes extensões de lavouras e o porte de algumas culturas fazem da pulverização aérea de defensivos agrícolas um método imprescindível para o agronegócio brasileiro, na avaliação do engenheiro agrônomo Ulisses Antuniassi, professor do Departamento de Engenharia Rural da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp), que defende a manutenção e o aperfeiçoamento dessa técnica.
“A proibição da pulverização aérea é uma medida desproporcional. Ela não tem cabimento dentro do contexto de um país agrícola tão importante. Se numa eventualidade houvesse uma proibição, teríamos um prejuízo muito grande para culturas que não têm outras opções. Entendo que a aplicação aérea não deve ser proibida. Ela deve ser regulamentada e fiscalizada.”
O pesquisador explica que a pulverização aérea é uma atividade complementar aos outros métodos e utilizada quando há restrições à aplicação terrestre. “Depois que a cana-de-açúcar atinge um porte grande, por exemplo, fica difícil e mesmo impossível utilizar outros métodos. Então, a pulverização aérea é fundamental. Em outras culturas, em geral, ela é muito desejada quando o produtor precisa fazer o tratamento rápido e eficiente diante do surto de uma praga ou doença. Quando a opção é pelo uso do produto fitossanitário, a aplicação aérea tem a vantagem de permitir que o trabalho seja rápido.”
Outro exemplo citado pelo professor é o da sigatoka-amarela que atinge as bananeiras. Pelo porte alto das plantas, a pulverização aérea representa melhor custo-benefício para o produtor e também para o meio ambiente. “A aplicação com equipamentos terrestres na cultura da banana se torna ineficiente e de grande impacto ambiental. Se for aplicar o produto com equipamento terrestre, isso é feito de baixo para cima. Então muito produto é jogado para o ambiente. Quando se tem a possibilidade de fazer a aplicação aérea, é jogada uma menor quantidade de calda [diluição dos produtos químicos em água ou outro tipo de solvente] e, com isso, temos um tratamento mais eficiente e com menos impacto ambiental.”
Segundo Antuniassi, a pulverização aérea de agrotóxicos responde hoje por cerca de 25% das aplicações realizadas no Brasil, mas, dependendo da cultura, o uso da técnica pode chegar a 100%, como no caso da banana e da cana-de-açúcar.
A Unesp, em conjunto com as universidades federais de Lavras (UFLA) e de Uberlândia (UFU), coordena a Certificação Aeroagrícola Sustentável, programa que visa incentivar boas práticas na aviação agrícola para tornar a pulverização de defensivos mais eficaz. Antuniassi destaca que o atendimento às regras do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) reduz os impactos da deriva a quase zero.
“A questão de obedecer ou não a normativa está muito ligada a seguir o que chamamos de conceitos de boas práticas nas empresas de aplicação aérea. Elas passam por um treinamento e talvez o principal fator a considerar seja obedecer a essas regras e às faixas de segurança (que ficam de 250 a 500 metros da área que receberá a aspersão de defensivos). Temos casos em que as regras não são seguidas, mas isso não é generalizado, são situações isoladas. Os acidentes que ocorrem são poucos porque as empresas estão cientes de que a sociedade observa e critica.”
No Brasil, segundo ele, 54% das empresas de aviação agrícola já são certificadas. Em São Paulo, esse número chega a 90%. Na Região Nordeste, apenas quatro empresas em dois estados adotam as boas práticas ensinadas pelo programa: Maranhão, com três empresas, e Alagoas, com uma.
Para o professor, a publicidade negativa em torno dos acidentes envolvendo a pulverização aérea de agrotóxicos transforma a técnica em vilã. “Existe um pouco de mito como se a aplicação aérea fosse uma coisa do mal. Ela é uma ferramenta. Da mesma forma que, em uma propriedade pequena, há uma enxada e um pulverizador costal, em uma grande propriedade há um trator e um avião. Se forem usadas seguindo a legislação, são totalmente seguras.”
Setor produtivo
Representantes do agronegócio consideram não haver motivos para a proposta de proibição da técnica no Ceará. O presidente da Comissão Nacional de Fruticultura da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e membro da Câmara Setorial de Fruticultura do Ceará, Tom Prado, explica que o estado é o que menos utiliza a aplicação aérea no Brasil para o controle de pragas. O vizinho Piauí, segundo ele, realiza 200 vezes mais aplicações do que o Ceará.
“Até hoje, em todas as aplicações realizadas no Ceará, nunca ocorreram registros de danos à saúde e ao meio ambiente por parte dos órgãos responsáveis pela sua autorização e fiscalização”, defendeu Prado.
Para ele, de todas as técnicas, a aérea é a mais segura para o trabalhador, pois não expõe o agricultor aos agrotóxicos como ocorre com o pulverizador usado nas costas.
Além de não concordar com o projeto de lei que proíbe a pulverização aérea, o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Ceará (Faec), Flávio Viriato de Saboya Neto, aponta que a proposta pode ser considerada inconstitucional, uma vez que já existe uma norma do Ministério da Agricultura que disciplina a técnica e outras regras do âmbito da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) que regem a aviação agrícola.
Para ele, a questão se tornou polêmica a partir do assassinato do líder comunitário e ambientalista Zé Maria do Tomé, que defendia o fim do método. “O estado do Ceará não tem expressividade em pulverizações aéreas porque não temos uma agricultura intensiva. Essa problemática da aviação agrícola foi em função de Limoeiro do Norte, que estimulou os ânimos de algumas entidades ambientais que discutiam a validade do método no município.”
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