Sexta-feira, 23 de agosto de 2024 - 14h55
O
Ministério Público Federal (MPF) em Rondônia recomendou à União que libere
verba para contratação urgente de mais 450 brigadistas, inclusive mediante
abertura de créditos extraordinários, se for o caso, considerando a urgência
decorrente da evidente calamidade pública vivenciada pelas queimadas. Como
alternativa, a União pode disponibilizar à Superintendência do Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) servidores
das forças armadas, na mesma quantidade, que sejam treinados e possam combater
incêndios, sob coordenação do Ibama.
Outro ponto da
recomendação do MPF à União é que sejam disponibilizados três helicópteros
equipados e específicos para auxiliar no combate aos incêndios, inclusive
mediante requisição administrativa, diante do iminente perigo público, se for
necessário.
A União tem prazo
de cinco dias para responder se vai ou não acatar a recomendação, mais cinco
dias para apresentar documentos que comprovem o cumprimento.
Setembro, pior mês – O MPF
aponta que, pelo histórico de queimadas disponibilizado pelo Instituto Nacional
de Pesquisas Espaciais (Inpe), há piora da situação em setembro. Desde 2012,
com exceção dos anos de 2019 e 2021, as queimadas ocorridas em setembro
superaram, e muito, os demais meses. Para o órgão, é urgente a adoção de
medidas para minimizar os danos ao meio ambiente e à saúde da população.
Dados do Inpe
apontam que, de janeiro a 19 de agosto de 2024, a Amazônia registrou 42.307
focos de fogo, sendo que, desse total, 11.434 focos correspondem ao mês de
julho e 17.348 aos primeiros 19 dias de agosto, superando os dados de anos
anteriores, desde 2005.
O monitoramento da
qualidade do ar constatou que Porto Velho atingiu pico de 442 μg/m³ de MP2.5
(partículas inaláveis finas) no dia 15 de agosto, estabelecendo-se ao longo do
dia em patamar médio de 255 μg/m³ MP2.5. O parâmetro aceitável é entre 25 e 60
μg/m³ de MP2.5, conforme Resolução Conama nº 491. Em nova consulta no dia 20 de
agosto, verificou-se que a qualidade do ar continuava em níveis alarmantes na
capital de Rondônia.
Os dados indicam
que a população de Porto Velho pode estar inalando partículas finas em
quantidade muito acima do máximo permitido. A fumaça produzida pelas queimadas
contém partículas de monóxido de carbono, substância que, quando inalada, se
liga à hemoglobina, proteína responsável pelo transporte de oxigênio no sangue,
ocasionando a interrupção da oxigenação dos tecidos do corpo, gerando graves
riscos à saúde, com manifestação de sintomas leves em casos de inalação mínima,
porém potencialmente letal quando a intoxicação persiste e a quantidade inalada
atinge níveis elevados.
A fumaça das
queimadas na região amazônica provoca danos à saúde da população, suscetível a
contrair ou agravar doenças respiratórias, problemas oftalmológicos, doenças
dermatológicas, gastrointestinais e cardiovasculares, principalmente os idosos
e crianças, os quais necessitam de atenção especial, de acordo com o Estatuto
do Idoso e Estatuto da Criança e do Adolescente.
A névoa de fumaça
impacta o fluxo da malha aérea com a interdição de pista, desvios e
cancelamentos de voos, em razão da redução de visibilidade, permeando de forma
negativa segmentos empresariais e econômicos da região. Situação que já ocorreu
no mês de agosto.
Diversas Unidades
de Conservação estão sendo atingidas por incêndios florestais de grandes
proporções, a exemplo do Parque Estadual de Guajará-Mirim, que enfrenta
queimadas há mais de um mês, com grande parte de sua área total atingida pelo
fogo, segundo dados do “Painel do Fogo” do Centro Gestor e Operacional de
Proteção da Amazônia (Censipam).
Notícias relatam
que a neblina produzida pelas queimadas na Amazônia já afetam, desde 16 de
agosto, cidades dos sul e sudeste do país, especialmente nos estados de Santa
Catarina e Rio Grande do Sul.
A Superintendência
do Ibama em Rondônia conta apenas com o efetivo de 205 brigadistas,
distribuídos em 8 brigadas, para realizar a contenção de focos de queimadas,
sendo a equipe insuficiente para atender as demandas que o período requer, e,
segundo a própria instituição, há necessidade da contratação de mais 450
brigadistas e composição de 15 brigadas, além de outros três helicópteros
específicos para combate de incêndios.
Para o MPF, as
medidas adotadas até agora pelos órgãos competentes mostraram-se insuficientes
na contenção dos avanços das queimadas na região. O órgão aponta que a omissão
do Poder Público em tomar as medidas necessárias para precaver danos
ambientais, por meio de políticas públicas preventivas e do exercício eficaz do
poder de polícia administrativa, impõe sua responsabilização solidária pelos
danos que venham a ser causados ao meio ambiente.
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