Quinta-feira, 15 de fevereiro de 2024 - 12h05
Como
resultado de uma política do Ministério Público de Rondônia voltada para o
incentivo à pesquisa, o Procurador-Geral de Justiça, Ivanildo de Oliveira,
lançou em janeiro deste ano livro que aborda o uso indiscriminado de mercúrio
no rio Madeira e como o metal causa degradação de recursos hídricos da região,
ferindo direitos fundamentais da sociedade local. A obra é baseada em
dissertação de curso de Mestrado do autor.
No
livro “Águas da Amazônia Contaminadas por Mercúrio”, Ivanildo de Oliveira
aborda os prejuízos causados pela substância, por que o metal deve ser
eliminado do rio Madeira e como a contaminação constitui uma violação ao
direito fundamental à água e, portanto, à vida. A pesquisa relata que mais de
100 toneladas de mercúrio foram lançadas pelos garimpos da Amazônia Legal, ao
longo de décadas da atividade extrativista. O autor alerta para o perigo da
substância, utilizada por garimpeiros para separar ouro dos demais sedimentos
do leito do rio, causando danos tanto para ecossistemas naturais, como para os
seres humanos.
Dentro desse cenário, adverte que o mercúrio é altamente tóxico, especialmente
devido à sua capacidade de danificar o sistema nervoso central. Segundo o
pesquisador, o envenenamento atinge principalmente as comunidades mais
vulneráveis. Isso porque seringueiros, castanheiros, indígenas, ribeirinhos,
pescadores e pequenos agricultores tiram seu sustento diretamente do Madeira.
Ivanildo de Oliveira também lembra que a bacia do rio Madeira, a mais
biodiversa da Amazônia, abriga acima de mil espécies de peixes, pássaros e
outros animais, inclusive ameaçados de extinção, possuindo, ainda, várias
espécies endêmicas, ou seja, que só existem nesta região.
Como ocorre a contaminação
Além de um vasto panorama jurídico sobre o problema, o livro também faz uma
exposição das formas de contaminação pelo mercúrio. Conforme o autor, na Bacia
Amazônica, os peixes dominam a dieta da população ribeirinha, sendo a presença
desse elemento químico no peixe um problema de saúde para as pessoas,
especialmente para mulheres, em relação à gravidez e à amamentação. Ivanildo de
Oliveira afirma, inclusive, que quase todos os peixes predadores de áreas de
garimpo são impróprios para consumo por possuírem alta concentração do metal.
Crise hídrica
De acordo com o estudo, existe a falsa ideia de que água é um recurso infinito
no nosso planeta. Nesse enfoque, destaca-se que menos de 1% das águas do mundo
estão nos rios, e que, da pequena quantidade de água doce, apenas 6% são
potáveis.
A pesquisa descortina o cenário da escassez de água potável no mundo e no
Brasil. Aponta o crescimento de conflitos relacionados à água e como a
contaminação da água por mercúrio contribui para agravar a crise hídrica
mundial. “Estima-se que mais de 2 bilhões de pessoas vivem em regiões de
‘estresse hídrico’ e milhões de outras não possuem acesso à água potável”, e
que “até 2050, entre 4,8 e 5,7 bilhões de pessoas poderão sofrer com a escassez
de água”. O pesquisador acentua ainda que: “A crise da água está entre os maiores
desafios do mundo para as próximas décadas.”
Uma questão transnacional
O autor aponta que a solução da questão exige um esforço transnacional. Por
meio da análise de diversos documentos legais - da ONU, da Corte Interamericana
de Direitos Humanos, e de Cortes Internacionais, explica que a água é um
direito natural da humanidade, indispensável à vida no planeta e escasso no
mundo.
Conforme ressalta, sem água não existe vida, não sendo possível separar o
direito à água do direito à vida. Desse modo, a proteção da água é vital para a
vida humana no planeta. Segundo o membro do Ministério Público, em 2018, o
Brasil deu o último passo para incorporar a Convenção de Minamata, que busca
combater o uso de mercúrio. “Muito ainda precisa ser feito para eliminar o
metal das águas do Madeira e mitigar danos sociais e ambientais”, destaca.
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