Sábado, 12 de maio de 2007 - 07h24
A 20 kilômetros de Porto Velho, nas imediações da Cachoeira de Teotônio, estão as comunidades do Sacaca, Boca do Jatuarana, Cachoeira dos Macacos e o assentamento Porto Seguro. Essas localidades seriam diretamente impactadas com a construção daquela que seria a primeira Usina no Rio Madeira, Santo Antonio. Centenas de famílias seriam deslocadas sem destino certo e as que ficarem não teriam mais as margens férteis em que sempre praticaram a agricultura de vazante.
Além disso, os igarapés da região, conhecidos por sua piscosidade, sofreriam um "repiquete" permanente das águas do Madeira, alterando a composição das suas águas e o perfil da flora e da fauna(especialmente peixes) do local. Espécies vegetais adaptadas a inundações periódicas e limitadas no tempo não suportariam uma sobrelevação constante do nível da água. Plantas aquáticas se multiplicariam e em pouco tempo se escassearia o oxigênio na água. Os igarapés não seriam mais os mesmos.
Nessas condições ativa-se o mercúrio nas cadeias alimentares chegando a contaminar o homem, é o que alerta o Ibama em sua Informação Técnica 020/2007, apresentada no dia 23 abril último. O documento diz que No Igarapé Jatuarana que apresenta baixa vazão, assim como outros braços menores, ocorreria inversão de fluxo durante o enchimento, promovendo a anoxia(perda de oxigênio). Esta preocupação está fundamentada nas condições ideais para a metilação, ou seja: anoxia, acúmulo de matéria orgânica, aumento de atividade microbiológica, elevação da temperatura e diminuição do PH da água, além da proliferação de macrófitas(plantas aquáticas).Portanto neste ambiente, e em outros que compartilham destas características haverá risco de mobilização de mercúrio." Esse risco segundo o IBAMA não teria sido avaliado de forma satisfatória nos estudos apresentados por Furnas/Odebrecht.
Sabe-se que a maior parte do mercúrio nos ecossistemas é associado aos solos e dessa matriz libera-se para a atmosfera e para os sistema fluvial. Some-se a isso os rejeitos da atividade garimpeira, muito intensa na bacia do Madeira nos anos 70 e 80, com forte incidência até hoje nas cabeceiras e afluentes na Bolívia e no Peru. A concentração de mercúrio nos peixes da região já se encontra acima dos padrões considerados aceitáveis e a população ribeirinha do Madeira é quem mais está exposta ao risco de contaminação, já que os peixes representam a base de sua alimentação.
Caso haja a construção das Usinas, estoques inertes de mercúrio serão remobilizados em um ambiente de extensa decomposição de material orgânico. Dessa forma as barragens funcionariam como verdadeiras processadoras de metil-mercúrio, forma em que o mercúrio se torna altamente contaminante. Até agora não se estabeleceu um programa de pesquisa e monitoramento para quantificar índices de mercúrio na população ribeirinha da parte dos órgãos públicos de saúde. Os estudos patrocinados por Furnas e Odebrecht reproduziram esse descaso ao definirem um universo muito restrito para as coletas de fios de cabelo nas comunidades.
Representantes das quatro comunidades já protocolaram, junto ao Ministério Público Federal de Rondônia, declarações afirmando que Furnas e Odebrecht não prestaram os devidos esclarecimentos sobre o Projeto das Usinas. Agora o objetivo é fortalecer a organização local para enfrentar as ameaças que pairam sobre as comunidades. Nesse sábado, 12 de maio, moradores das 4 comunidades participarão de um dia inteiro de atividades de reflexão, planejamento e lazer. O evento intitulado "Chamado Ribeirinho", tem o apoio do Fórum Independente Popular, será realizado no espaço do Sr. João Sacaca a partir das 8 horas da manhã com a realização de debates e dinâmicas com os moradores.
Fonte: Fórum Independente Popular do Madeira
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