Segunda-feira, 7 de julho de 2008 - 23h15
Apesar das intensas ações governamentais dos últimos meses no combate ao desmatamento, os dados dos satélites confirmam que, enquanto houver árvore em pé na Amazônia haverá queimada e derrubada, independente da legislação e poder das autoridades.
Daniel Panobianco O período de seca na porção sul amazônica é marcada pela ausência total de chuvas, temperaturas relativamente elevadas e fogo, muito fogo por todos os cantos. De maio a outubro, grande parte dos Estados que compõe a região, como Mato Grosso, Tocantins, Rondônia e Acre, além de grandes áreas do Pará e Amazonas, ficam tomadas pela intensa fumaça que persiste por semanas seguidas, impedindo a visibilidade nos meios de trafegabilidade, principalmente o aéreo, e um aumento assustador de pessoas em hospitais e postos de saúde com problemas respiratórios.
Desde o final do ano passado, ainda no comando de Marina Silva, o governo federal, em parceria com várias instituições estaduais, criou operações de combate ao desmatamento em regiões onde o mesmo está mais acelerado, dentre elas, cinco municípios de Rondônia. A chamada operação "Arco de Fogo" fez da pandemia de combate das forças armadas e Policia Federal, grandes movimentações e apreensões por todo o Estado. Vários madeireiros foram autuados e muitos tiveram suas propriedades embargadas pela justiça.
Diante de tamanha repercussão de uma operação de peso na Amazônia, todos nós sabemos que é impossível frear o desmatamento ilegal, tanto pela grandeza do problema, quanto de aparatos, brechas na legislação feita há décadas, que ainda permitem a exploração sem dó nem piedade do pouco que resta de flora no Brasil.
Até o final da semana passada, nenhum foco de queimada havia sido detectado pelo grupo de satélites do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).
Um dos fatores que justificam essa "calmaria" do fogo em Rondônia é a recém "varrida" que as autoridades fizeram no Estado dificultando a ação de práticas abusivas de desmate. Outro ponto em destaque é o atual período eleitoral, onde ações já não são mais permitidas com facilidade como antes.
A campanha eleitoral em base teve inicio neste domingo, 06, em todo o território nacional e o que se vê diante das imagens dos satélites das últimas 24 horas é uma verdadeira explosão de focos de queimadas pelo País afora. Somente em Mato Grosso, a varredura do satélite NOAA-15 da NASA detectou 33 focos de queimadas, todos em áreas de derrubada nas regiões de Sinop e Alta Floresta.
Em Rondônia, o único foco de queimada detectado nos 6 primeiros dias de julho era o incêndio ocorrido no inicio da semana passada na Floresta Nacional Chico Mendes, em Ouro Preto d' Oeste, onde foram consumidos mais de 10 hectares de mata nativa, segundo informações da Secretaria Municipal de Meio Ambiente.
Outros métodos de monitoramento das emissões antropogênicas aquelas causadas pelo homem são notáveis em Rondônia, dentre as mais importantes, a fumaça das queimadas. O céu ainda está azul, mas o tom acinzentado no horizonte nos finais de tarde já é perceptível, principalmente para quem mora no centro-sul do Estado, regiões de Rolim de Moura, Pimenta Bueno e Vilhena.
Somente nas últimas 24 horas, período de inicio da campanha eleitoral e folga das ações fiscalizatórias, o mesmo satélite NOAA-15 detectou 5 focos de queimada em solo rondoniense, sendo um em Vilhena, próximo ao Parque Indígena Tubarões, um em Machadinho d' Oeste, na Floresta Nacional dos Campos Amazônicos área campeã de desmatamento no município, um em Costa Marques, próximo ao povoado de Santa Fé e dois em Porto Velho, na Floresta Nacional do Bom Futuro, área onde mais se desmata em Rondônia atualmente, segundo dados do Ministério do Meio Ambiente.
O que se vê por base nos primeiros focos de queimadas em Rondônia é que este ano, com ou sem ação de combate, com ou sem fiscalização em massa das autoridades locais, todos estão condenados a ver por meses seguidos, mais um capitulo que ano após ano se repete. As autoridades ditando a mesma ladainha de discussão de que vão combater, vão fiscalizar, vão monitorar.
A tecnologia está ai, mais perfeita impossível. Com todo o aparato tecnológico é possível localizar o fogo com tamanha precisão. Todos sabem quem queima em Rondônia e que de certa forma contribui para os focos criminosos, aqueles registrados em áreas de lei no Estado. A verdade é que, enquanto houver meios de explorar e enriquecer com esse grande ecossistema natural, não há lei ou medida cautelar que barre tal ação covarde de ambas as partes; Dos madeireiros e fazendeiros que seguem a gana pela frente e do governo, que na hora "H" se faz de cego, surdo e mudo.
As queimadas só estão começando em Rondônia. Os focos registrados nas últimas 24 horas é apenas um aviso do que ainda há por vir até outubro.
Interpretação dos Mapas:
Risco de fogo: Áreas em vermelho no mapa indicam os municípios em estado critico de risco de fogo nos próximos 3 dias em Rondônia. Praticamente todo o Estado apresenta risco entre alto e critico, salvo apenas uma pequena parte de Porto Velho e Candeias do Jamarí.
Emissão de fumaça: Pela análise de emissão de CO (Monóxido de Carbono) e CO2 (Dióxido de Carbono) na atmosfera, percebe-se que a poluição ocasionada pelas queimadas já é notória em parte de Mato Grosso, Rondônia, Paraguai e norte da Argentina (áreas coloridas). Os pontos críticos de maiores acumulados dos gases nocivos são o centro e norte de Mato Grosso.
Trajetória das parcelas de ar: As linhas mostram a trajetória que o vento segue em determinado nível da atmosfera levando consigo os gases poluentes. Na atual trajetória, o ar poluído produzido no Estado de Mato Grosso está migrando para Rondônia aumentando a concentração de poluentes na atmosfera local, o que justifica o aparecimento da bruma faixa escura de poluentes no horizonte nas primeiras horas do dia.
Dados: MMA INPE Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Ouro Preto d' Oeste
Fonte: De olho no tempo
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