Sábado, 8 de setembro de 2012 - 06h08
Uma aeronave pertencente ao Met Office, o Serviço Nacional de Meteorologia do Reino Unido, equipada com instrumentos de última geração, vai estudar as queimadas na Amazônia brasileira. Durante três semanas, ele vai sobrevoar cinco estados para investigar os impactos que o fogo na floresta têm sobre a mudança climática e a qualidade do ar no Brasil.
Inédita, a expedição científica denominada Sambba (sigla em inglês para “Análise Sul-americana de Queima de Biomassa”, em tradução livre), vai reunir 64 cientistas brasileiros e britânicos e o jato Faam BAE-146, já utilizado em outros projetos ambientais.
Coordenado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e pelo Met Office, o estudo conta ainda com o apoio das universidades de São Paulo (USP), de Manchester e de Leeds, ambas britânicas.
Os pesquisadores sobrevoarão entre 14 de setembro e 4 de outubro os estados do Amazonas, Mato Grosso, Pará, Acre e Rondônia, totalizando cerca de 80 horas de voo. O período escolhido é considerado o auge da ocorrência de queimadas na Amazônia Legal – que engloba nove estados do país.
Melhorias na previsão e investigações científicas – Segundo Carla Longo, cientista do Inpe especializada na área de química da atmosfera e coordenadora brasileira do Sambba, o projeto obterá informações que vão melhorar modelos de análise das alterações climáticas no planeta, e ainda aperfeiçoar as previsões meteorológicas e a medição da qualidade do ar.
“Nós avançamos muito nos últimos dez anos, mas ainda há questões importantes. A quantificação das emissões [de gases das queimadas] ainda é deficiente. Com a aeronave, vamos fazer a medida da cicatriz do fogo em tempo real”, disse Carla ao G1.
De acordo com Carla, as queimadas são a principal fonte emissora de CO2 no Brasil.
“No período úmido [de chuvas], 90% das emissões do país são provenientes da indústria e dos automóveis. Mas no período seco, entre agosto e setembro, a situação muda e as emissões por queimadas ficam próximo de 90%”, explica.
Além disso, a fumaça atrapalha a visibilidade sobre extensas regiões e pode afetar o regime de chuvas, já que as nuvens sofrem alterações – o que afeta a produtividade da floresta amazônica e de seus recursos naturais, além de potenciais econômicos.
Ela explica ainda que a partir das medições feitas pela aeronave, que tem capacidade para cem pessoas, será possível criar um modelo que conseguirá saber, no futuro, quanto de CO2 e outros gases foram liberados durante uma queimada na região.
Dados do monitoramento de queimadas e incêndios contabilizados pelo Inpe apontam que de 1º de janeiro a 5 de setembro deste ano, a Amazônia brasileira registrou 141.893 focos de incêndio, contra 50.862 no mesmo período do ano passado – ou seja, quase triplicou.
Políticas públicas – Ainda de acordo com a coordenadora do experimento, a precisão das informações captadas pela aeronave – e posteriormente analisadas pelos cientistas – poderá reforçar políticas públicas voltadas ao combate de ações ilegais no bioma brasileiro.
“Hoje, por exemplo, o Ministério Público do Acre utiliza as informações de queimadas na Amazônia como ferramenta jurídica para combater focos na floresta, proibindo a queima. Quanto mais precisa for essa informações, mais eficiente deverá ser as ações preventivas”, explica.
(Fonte: Eduardo Carvalho/ Globo Natureza)
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