Quarta-feira, 1 de novembro de 2017 - 08h07
Nova Iorque/Brasília, 1º de novembro de 2017 – A cada 7 minutos, em algum lugar do mundo, uma criança ou um adolescente, entre 10 e 19 anos, é morto, seja vítima de homicídio, ou de alguma forma de conflito armado ou violência coletiva. Somente em 2015, a violência vitimou mais de 82 mil meninos e meninas nessa faixa etária – 24,5 mil dessas mortes aconteceram na região da América Latina e do Caribe.
Os dados são do relatório A Familiar Face: Violence in the lives of children and adolescents (Um Rosto Familiar: A violência na vida de crianças e adolescentes), lançado hoje pelo UNICEF, que faz uma análise detalhada das mais diversas formas de violência que crianças e adolescentes sofrem em todo o mundo: violência disciplinar e violência doméstica na primeira infância; violência na escola – incluindo bullying; violência sexual; e mortes violentas de crianças e adolescentes.
"Os homicídios muitas vezes são só a última etapa em um ciclo de violência a que crianças e adolescentes estão expostos desde a primeira infância. O relatório nos diz que a maioria dos homicídios contra adolescentes não acontece em países que estão em conflito, como Síria, mas nos países da América Latina e do Caribe, e o Brasil encontra-se entre aqueles com as taxas mais alta de homicídios de adolescentes do mundo", explica Florence Bauer, representante do UNICEF no Brasil.
"Precisamos juntar todos os nossos esforços para interromper a violência, começando pelo castigo corporal na primeira infância. A proibição do castigo corporal no Brasil, em 2014, foi um passo importante para isso. Entretanto, para a efetiva implementação desse tipo de legislação, é necessária uma mudança cultural e é preciso ter a consciência de que a violência atinge todas as classes sociais", diz Florence.
O Brasil é citado como um dos 59 países que têm uma legislação que proíbe o castigo físico. Segundo o relatório, apenas 9% das crianças com menos de 5 anos em todo o mundo vivem nesses países, o que deixa outros 607 milhões sem uma proteção legal contra esse tipo de violência.
Todas as crianças e todos os adolescentes têm o direito de ser protegidos contra qualquer tipo de violência, seja aquela que acontece no ambiente familiar, na comunidade, em consequência de conflitos armados ou de violência urbana. Todas as formas de violência vivenciadas por meninas e meninos, independentemente da natureza ou gravidade do ato, são prejudiciais. Além da dor e do sofrimento que causa, a violência mina o senso de autoestima das crianças e dos adolescentes. Muitos estudos demostram uma alta probabilidade de que meninas e meninos vítimas de violência ou expostas a ela utilizem violência para solucionar disputas e conflitos quando forem adultos.
Mortes violentas – A América Latina e o Caribe concentram cerca da metade de homicídios de crianças e adolescentes em todo o mundo. Em 2015, dos 51,3 mil homicídios de meninas e meninos de 10 a 19 anos – não relacionados a conflitos armados –, 24,5 mil aconteceram nessa região. Esses números se mostram desproporcionais considerando que tal conjunto de países abriga pouco menos de 10% da população nessa faixa etária.
Com relação às taxas de homicídios na de crianças e adolescentes de 10 a 19 anos, a região da América Latina e do Caribe teve 22,1 homicídios para cada grupo de 100 mil adolescentes – proporção quatro vezes maior do que a média global. A região mais segura do mundo para um adolescente é a Europa Ocidental com 0,4 morte para cada 100 mil.
Segundo os dados apresentados pelo UNICEF, a Venezuela tem a maior proporção de homicídios nessa faixa etária, com uma taxa de 96,7 mortes para cada 100 mil, seguida pela Colômbia (70,7), por El Salvador (65,5), por Honduras (64,9) e pelo Brasil (59).
Para as meninas da mesma faixa etária, Honduras possui a maior taxa (31,14 para cada 100 mil), seguida de El Salvador (10,9), Guatemala (10,1), Colômbia (8,4) e Jamaica (7,6).
Conflitos armados – O relatório também faz uma análise sobre mortes de adolescentes em decorrência de violência coletiva ou conflitos armados. Em 2015, foram cerca de 31 mil mortes de crianças e adolescentes de 10 a 19 anos nesse tipo de contexto de violência. Enquanto 6% das crianças e adolescentes de 10 a 19 anos do mundo vivem no Oriente Médio e Norte da África, as duas regiões concentram 70% das mortes nessa faixa etária.
Os países que têm as maiores taxas de mortes de meninos por violência coletiva são a Síria (327,4 para cada 100 mil pessoas da mesma faixa etária), Iraque (122,6), Afeganistão (49,4), Sudão do Sul (29) e República Centro-Africana (18,9).
Para as meninas, Síria (224,1), Iraque (84), Afeganistão (34,2) Sudão do Sul (15,9) e Somália (10,1) são os países que concentram a maior proporção de mortes resultantes de conflitos e violência coletiva.
Outras formas de violência – Além de a análise sobre homicídios e mortes por violência coletiva, o relatório também traz informações sobre outras formas de violência sofrida por crianças e adolescentes.
Violência contra crianças pequenas em suas casas:
Violência sexual contra meninas e meninos:
Apenas 1% das adolescentes que sofreram violência sexual disseram que buscaram ajuda profissional.
Mortes violentas de adolescentes:
Violência nas escolas:
Recomendações – O enfrentamento da violência é uma prioridade do UNICEF no Brasil e no mundo. Para superar a violência contra as crianças e os adolescentes, o UNICEF insta os governos a que tomem medidas urgentes, incluindo:
Mais informações sobre homicídios de adolescentes no Brasil
Índice de Homicídios na Adolescência (IHA) – O estudo apresenta uma análise estatística dos homicídios de adolescentes de 12 a 18 anos nos 300 municípios brasileiros com mais de 100 mil habitantes. O IHA é calculado para cada grupo de mil pessoas entre 12 e 18 anos. Se as condições que prevaleciam em 2014 não mudarem, entre 2015 e 2021, um total de 43 mil adolescentes poderá ser morto nesses 300 municípios analisados. Acesse: Índice de Homicídios na Adolescência 2014 (IHA).
Trajetórias Interrompidas – O estudo analisou os homicídios de adolescentes, entre 12 e 18 anos, ocorridos em sete municípios cearenses: Caucaia, Eusébio, Fortaleza, Horizonte, Juazeiro do Norte, Maracanaú e Sobral. Para isso, foram realizadas entrevistas com 224 familiares e grupos focais com especialistas, que ajudaram a reconstruir as histórias desses adolescentes até o dia de sua morte, tirando-os da invisibilidade dos números e das siglas que os cercam. Acesse: Trajetórias Interrompidas |
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