Terça-feira, 18 de março de 2008 - 08h01
Em artigo publicado nesta terça-feira, o diário espanhol El País compara o crescimento da economia brasileira ao modelo asiático, afirmando que o Brasil fez uma adaptação peculiar do modelo asiático.
BBC Brasil
No segundo mandato do presidente Lula se optou por uma política econômica que pretende compatibilizar a estabilidade com o relançamento do desenvolvimento e um forte impulso de investimento industrial, afirma o artigo assinado por Alfredo Arahuetes, tido como um dos maiores especialistas da Espanha em investimentos na América Latina, e professor de Economia Internacional da Universidade Pontifícia Comillas de Madri.
O artigo destaca que no ano passado o Brasil renovou sua posição como décima economia do mundo, à frente da Rússia, Coréia do Sul e Índia, e que o país é a maior economia da América Latina e seu PIB representa pelo menos um terço do PIB da região.
Como o Brasil chegou a ser uma economia tão destacada?, pergunta o artigo.
Arahuetes explica que o desenvolvimento industrial brasileiro iniciado nos anos 50 e a expansão do setor nos anos 60 e 70 contribuíram para que a economia brasileira crescesse a uma taxa anual média de 7,8%. O crescimento durante este longo período se orientou para o mercado interno, afirma o economista, que lembra que, na época, a economia estava pouco aberta ao exterior.
No fim dos anos 90 e início dos anos 2000, o Brasil seguiu a dupla estratégia de ser global trader e promover maior integração com os países da América Latina. A estratégia deu seus frutos nos dois âmbitos, diz o artigo.
O economista explica que, ao chegar à presidência, Luiz Inácio Lula da Silva apostou em uma prudente ortodoxia com fins de reduzir a dívida pública. A desvalorização do real e a demanda internacional por matérias primas graças ao crescimento econômico de países como a China e a Índia, impulsionaram as exportações brasileiras levando o país a retomar o crescimento.
Ao mesmo tempo, o Brasil recuperou a capacidade de atrair investimento direto de empresas estrangeiras ao ponto de situar-se em segunda posição entre os países emergentes, atrás apenas da China.
Isso deu origem a uma mudança na inserção do Brasil na economia internacional: A inserção financeira deu origem à inserção comercial parecida com a seguida pelas economias asiáticas, fortalecida com a entrada de investimentos diretos. Com isso, o país quase triplicou o valor de suas exportações entre 2002 e 2007, obteve superávits comerciais e de conta corrente, e acumulou reservas no valor de 182 milhões de dólares ao fim do ano passado.
No segundo mandato, iniciado há um ano, Lula mudou o rumo para uma ortodoxia prudente compatível com o relançamento do desenvolvimento. Quer dizer, estabilidade com forte impulso de investimento em setores industriais intensivos em capital e em infra-estruturas (com o PAC), com o dinamismo necessário tanto para um crescimento sustentável como para o fortalecimento da capacidade exportadora e a substituição das importações ao estilo das economias asiáticas, além de promover a redução da pobreza e melhorias na distribuição de renda, afirma o economista.
O autor comenta o aumento da integração regional e conclui dizendo que o Brasil parece apostar em intensificar a integração com os países da região mediante um esquema de geometria variável que permita o desenvolvimento da fábrica América Latina com alimentos, matérias primas e energia, uma adaptação particular da fábrica Ásia.
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