Sexta-feira, 20 de janeiro de 2012 - 19h44
Os governos de Brasil, Estados Unidos e Bolívia assinaram, nesta sexta-feira, em La Paz, um acordo para verificar, com a ONU como observador, a destruição de plantações ilegais da folha de coca, base para fabricar cocaína, após várias tentativas fracassadas de subscrevê-lo durante quase um ano.
O encarregado de Negócios da embaixada dos EUA em La Paz, John Creamer, declarou à imprensa a satisfação com a assinatura do convênio tripartite que, segundo disse, "é um passo muito importante na luta contra o narcotráfico".
"O projeto tem o fim de melhorar a capacidade técnica da Bolívia de monitorar os cultivos excedentes de coca e promover a coordenação técnica e científica entre os países signatários", explicou Creamer, máximo representante dos EUA na Bolívia após a expulsão do embaixador Philip Goldberg em 2008.
Por seu lado, o embaixador brasileiro Marcel Fortuna Biato assinalou que o acordo inclui países "que têm um papel-chave" na luta antidrogas: "O Brasil como país vizinho, com uma longa fronteira e uma agenda de integração muito forte com a Bolívia, e os EUA, com uma atuação tradicional forte de cooperar com a Bolívia".
Washington dotará Bogotá de equipamentos de medição de alta precisão e capacitará o pessoal que os operará, enquanto que o Brasil fornecerá imagens de satélite e tecnologia para interpretá-las.
A assinatura do acordo foi anunciada pela primeira vez em março de 2011, mas suspensa desde então em cinco ocasiões, enquanto eram feitos ajustes ao conteúdo do documento.
O governo do presidente Evo Morales aceitou a ajuda dos EUA apesar de em 2008 também ter expulsado a agência antidroga americana (DEA) com o argumento que a entidade e o embaixador Goldberg conspiravam contra ele, algo negado tanto pelo diplomata como por seu governo.
O ministro de governo (Interior), Wilfredo Chávez, assinalou, por sua vez, que se buscou que o acordo deixe estabelecidos o respeito à folha de coca e "à soberania do Estado" boliviano.
Ele destacou que a assinatura do documento ocorre em um momento em que a Bolívia "assumiu uma medida histórica" em defesa da mastigação da coca ou "acullico", a propósito do abandono que fez este mês seu país da Convenção Única sobre Entorpecentes de 1961 da ONU, porque ela penaliza o costume indígena.
Segundo Chávez, essa decisão "de nenhuma maneira embarga a posição boliviana de continuar permanentemente cumprindo as obrigações" de luta contra o narcotráfico enquanto o país espera a decisão da ONU para seu pedido de readmissão na Convenção com reservas sobre a proibição da mastigação da coca.
A Bolívia é o terceiro produtor mundial de folha de coca e de cocaína, depois de Peru e Colômbia, e é o principal distribuidor do narcótico aos países do Cone Sul, segundo dados da ONU.
Segundo números divulgados pela ONU em setembro do ano passado, a Bolívia contava em 2010 com 31 mil hectares de coca, 22% mais que as 25.400 que havia antes de Evo Morales chegar ao poder em 2006.
A oposição acusou o presidente várias vezes de ser tolerante com o aumento dos cultivos de coca porque é máximo chefe dos principais sindicatos cocaleiros do país.
Fonte: Rádio Jovem Pan com informações da Agência EFE
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