Quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008 - 11h07
O cultivo de alimentos transgênicos aumentou em 30% no Brasil entre 2006 e 2007, um índice superado apenas pela Índia (63%), segundo um relatório do Serviço Internacional para a Aquisição de Aplicações de Agro-biotecnologia (ISAAA, na sigla em inglês) divulgado nesta semana.
A área cultivada aumentou em 3,5 milhões de hectares, o maior aumento absoluto em todo o mundo.
Apesar do aumento no cultivo e na área de lavouras, o Brasil manteve a posição de terceiro maior produtor mundial de culturas transgênicas com 15 milhões de hectares de soja e algodão modificados geneticamente - ficando atrás apenas dos Estados Unidos (com 57,7 milhões de hectares plantados) e da Argentina (com 19,1 milhões de hectares).
Segundo a ISAAA, a área de cultivo de sementes transgênicas cresceu 12% em 2007, chegando a 114,3 milhões de hectares em todo o mundo, o segundo maior crescimento em termos de área nos últimos cinco anos (12,3 milhões de hectares).
O relatório do ISAAA, financiado pela indústria de sementes, ainda afirma que o cultivo de transgênicos está ajudando a aliviar a pobreza de fazendeiros em todo o mundo - informação contestada por grupos ambientalistas.
Em um relatório divulgado na quarta-feira, a organização não-governamental Amigos da Terra afirma que as culturas transgênicas levaram a um aumento maciço no uso de pesticidas e não trouxeram o aumento na colheita de alimentos para populações pobres prometido pela indústria dos transgênicos.
Polêmica
Segundo a ISAAA, 2 milhões a mais de agricultores plantaram sementes transgênicas no ano passado, totalizando 12 milhões em todo o mundo.
Segundo o relatório, 9 em cada 10, ou 11 milhões desses agricultores, são pobres. Ainda segundo o relatório, esta é a primeira vez em que os países em desenvolvimento (12) ultrapassam, em número, os países ricos (11), na cultura de transgênicos.
A taxa de crescimento nos países em desenvolvimento também foi três vezes maior do que nos países industrializados (21%, em comparação com 6%).
O presidente da ISAAA e autor do relatório, Clive James, afirma que com o aumento global do preço dos alimentos, os benefícios das culturas biotecnológicas nunca foram tão importantes.
Os fazendeiros que começaram a adotar essas culturas alguns anos atrás já estão começando a sentir vantagens sócio-econômicas em comparação aos agricultores que não as adotaram. Se formos atingir as Metas de Desenvolvimento do Milênio da ONU de cortar a fome e a pobreza pela metade até 2015, os cultivos biotecnológicos vão ter um papel ainda maior na próxima década.
Mas para a Amigos da Terra, as supostas vantagens da cultura transgênica não foram necessariamente comprovadas.
Segundo a ONG, várias sementes são modificadas para se tornar resistentes a pragas e pesticidas, mas essa modificação acabou provocando um aumento no uso de herbicidas em outras culturas.
Como exemplo, a Amigos da Terra cita a soja transgênica, modificada para não ser afetada por um herbicida que ataca uma praga comum na cultura.
Isso teria causado um aumento no uso do herbicida nos Estados Unidos e no Brasil, o que fez com que a praga se tornasse mais resistente aos pesticidas, criando novos riscos para a agricultura.
Segundo a Ong, o uso de herbicida nesse caso aumentou em quase 80% no Brasil.
A Amigos da Terra também ressalta em seu relatório que a grande maioria das culturas transgênicas comercializadas é destinada à alimentação de animais e não para alimentar os pobres.
Fonte: BBC Brasil
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